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 | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

“O MBL é um partido político”. Assim Kim Kataguiri definiu o Movimento Brasil Livre, criado em novembro de 2014 por jovens da sociedade civil indignados com os escândalos de corrupção na Petrobras e no governo do PT descobertos pela Operação Lava Jato. O grupo surgiu e começou a se estruturar a partir de manifestações públicas que culminaram com grandes atos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O MBL fazia suas convocações via internet e arregimentava grandes multidões nas principais capitais do país.

Em sua página no Facebbok, o movimento se autodenomina como “uma entidade que visa mobilizar cidadãos em favor de uma sociedade mais livre, justa e próspera”. Na pauta do MBL estão plataformas como o combate à corrupção, o liberalismo econômico e a redução do tamanho do Estado.

“No sentido burqueano da palava, o movimento hoje é um partido político. O MBL tem quadros, tem pessoas que se unem em torno de um mesmo ideal, de um mesmo projeto de país, para disputar o poder”, disse Kataguiri em entrevista à Gazeta do Povo, no ano passado. A referência é ao pensador irlandês Edmund Burke (1729-1797), que argumentava que a função das legendas é ser oposição ao poder e evitar abusos.

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Mesmo sem constituir um partido de fato, o MBL passou a fazer política a seu modo, denunciando o que considera errado – às vezes de forma radical – e pressionando as autoridades públicas a ter um comportamento ético. Em 2016, o movimento, que se posiciona à direita do especto político, decidiu concorrer a cargas eletivos e liberou seus integrantes a ingressarem em partidos. Naquele ano conseguiu eleger Fernando Holiday (DEM) vereador na cidade de São Paulo. Fácil para um grupo que conta com milhões de seguidores na internet.

O perfil oficial do MBL no Facebook tem hoje cerca de 2,8 milhões de seguidores, mais de 2,7 milhões de curtidas e é uma das principais plataformas para distribuição de conteúdos produzidos ou compartilhados pelo grupo, e também para a mobilização de seus adeptos. No Twitter, são 145 mil seguidores. Tamanho alcance traz também dissabores.

Nesta quarta-feira (25), o Facebook tirou do ar uma rede de páginas e perfis que, segundo a rede social, era usada para divulgação de notícias falsas. Parte dessa rede tinha ligações com o MBL, que rapidamente acusou a rede social de Mark Zuckerberg de censura.

Em nota, o MBL confirmou que algumas páginas do grupo e contas de coordenadores do movimento foram retiradas do ar, negou que elas propagavam notícias falsas e que vai usar os recursos possíveis para recuperar o conteúdo derrubado e reverter o que chamam de “perseguição”.

Fiel ao seu estilo, o movimento também partiu para o ataque: avaliou que o Facebook tem viés político e ideológico contra grupos e líderes de direita ao redor do mundo, e que a rede social não tem como pilares “a liberdade de expressão” e a “democracia”.

Um presidente do MBL

Neste ano, o partido vai entrar novamente na corrida eleitoral. Kataguiri é pré-candidato a deputado federal pelo DEM. Marcel vab Hattem (Novo) tenta uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Rio Grande do Sul. Paulo Mathias (PSDB) também é pré-candidato a deputado por São Paulo. Em março deste ano, Kataguiri afirmou que a prioridade do grupo é a ampliação de sua representação institucional. “Nossa meta é eleger 15 deputados federais”, disse.

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O movimento também atua fortemente contra as candidaturas de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT), por considerá-los uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. O petista por razões óbvias – está condenado e preso na Operação Lava jato. O MBL tentou uma liminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para declará-lo inelegível desde já, mas o pedido não foi acolhido pela Corte. Já Ciro conquistou a antipatia do grupo por declarações desrespeitosas contra o Ministério Público e o Judiciário, como no episódio em que chamou uma promotora de “filha da puta”.

Não é de hoje, que o MBL tenta influenciar a eleição presidencial de 2018. No ano passado, o grupo se aproximou do então prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) num momento em que uma possível candidatura do tucano ao Palácio do Planalto era mais forte. Depois, apoiou fortemente o projeto do empresário Flávio Rocha (PRB), dono das lojas Riachuelo, de se tornar o novo presidente do Brasil. Mas a candidatura de ambos, Doria e Rocha, não decolaram. Restou trabalhar contra os postulantes de esquerda.

Política, moral e bons costumes

Mas as ações do movimento extrapolam o campo político e duas delas demonstraram a força do grupo em outros campos. No ano passado, o MBL realizou protestos contra o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. O alvo era uma performance realizada em uma sala do espaço cultural, em que espectadores interagiam com um artista nu, no centro do local. Um vídeo que se espalhou nas redes sociais mostrava uma criança, acompanhada da mãe, tocando com a mão os pés do artista, que permanecia deitado no chão.

Também em vídeo, intitulado “Kim Kataguiri cobra decência e bom senso de certos ‘artistas’ do MAM”, o coordenador do MBL classificou a exposição como ridícula e que “de arte não tem absolutamente nada”, e leu o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que define que a lei garante à criança e ao adolescente “todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.

“As crianças não são um objeto para serem usadas, seja com fins políticos, ou o que quer que seja, como foi nessa exposição. As crianças não são um instrumento que você usa como bem entender. As crianças são um fim, devem ser protegidas como diz a lei, para terem seu desenvolvimento físico, moral, espiritual e mental garantido”, disse o coordenador do movimento.

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“Isso não se trata de questão ideológica”, disse, ao argumentar que o movimento sofreria críticas de grupos de esquerda e da imprensa pelos atos diante do MAM. “Se trata de ter bom senso, de não colocar uma criança exposta a um homem pelado”.

A ação do MBL fez o então prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), se manifestar contra a performance. “Eu entendo que a arte é uma manifestação sempre muito aberta, muito ampla. Mas tudo tem limite”, disse, em vídeo publicado em setembro de 2017.

O MBL fez barulho também diante da exposição ‘Queermuseum - Cartografia da Diferença na Arte Brasileira’, que ficou em cartaz no Santander Cultural, em Porto Alegre, por quase um mês. Ao promover também via redes sociais uma campanha de boicote devido a imagens que o grupo considerou ofensivas – uma delas misturava a imagem de Jesus com o deus indu Schiva – conseguiu que a mostra, que reunia trabalhos de 85 artistas em torno de temas LGBT, fosse cancelada.

Assim como em São Paulo, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr (PSDB), também condenou a exposição ao defender que exibia “imagens de zoofilia e pedofilia”. Após encerrar a mostra, o Santander Cultural pediu, em nota, desculpas a quem se sentiu ofendido por alguma das obras apresentadas. Para sua realização, a exposição captou R$ 800 mil pela Lei Rouanet.

Lula e a esquerda

Entre os alvos preferidos do grupo estão o ex-presidente Lula, preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde abril, e partidos e grupos posicionados à esquerda do espectro político.

Em publicações e posts nas redes sociais, o MBL provoca petistas ao lembrar das condenações que levaram o ex-presidente e outros integrantes importantes do partido à prisão, e divulga o apoio de figuras da esquerda aos governos da Venezuela e da Nicarágua. Mas é brando ao citar o envolvimento de nomes de outras legendas também relacionadas a escândalos políticos, como Aécio Neves (PSDB) e Geddel Vieira Lima (MDB), para citar alguns.

Os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PCdoB) também aparecem como alvos das críticas duras feitas em postagens e vídeos publicados no Facebook do grupo.

Propostas para Educação, Saúde, Reforma Política e Justiça

Um documento publicado no site do movimento apresenta uma série de propostas para o país, aprovadas no primeiro congresso nacional do MBL em 2015.

Entre as sugestões para Educação estão a expansão do Prouni para os ensinos médio, fundamental e infantil, a apresentação do projeto de lei Escola Sem partido às assembleias estaduais e às câmaras municipais, a redução de impostos para escolas privadas, e a gestão privada de escolas públicas via organizações sociais e parcerias público-privadas.

Em Saúde, sugerem a abertura do mercado hospitalar a empresas estrangeiras, a desburocratização de operadoras de planos de saúde, o fim de impostos sobre o sistema de saúde, incluindo medicamentos, aparelhos e materiais médicos e a substituição do SUS atual por um modelo que ofereça planos de saúde gratuitos a quem não puder pagar.

A Reforma Política que desejam inclui o fim do voto obrigatório, voto distrital misto, candidaturas independentes para o Executivo e o Legislativo, o fim da Lei Rouanet, o sistema parlamentar inspirado no modelo alemão, o fim do fundo partidário e da reeleição, e a redução do número de deputados, dos 513 atuais para 400.

Em relação a Justiça e segurança pública, o grupo sugere a privatização de presídios, o fim da imunidade parlamentar e do foro privilegiado, o fim da redução penal para crimes hediondos desconsiderando o bom comportamento do detento, a suspensão dos salários de parlamentares presos e o fim da função social da propriedade privada.

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