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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O PT escolherá seu novo presidente em 2019, no segundo semestre, que cumprirá um mandato de quatro anos. Mas o partido ainda não definiu as regras que serão aplicadas em seu processo eleitoral. A legenda, por muito tempo, selecionou seu presidente por meio de votação direta. O método foi descartado em 2017, sob a alegação de fraudes e irregularidades, mas poderá voltar para a disputa do ano atual.

A indefinição sobre os mecanismos de disputa não é a única que envolve o processo eleitoral do PT. A continuidade da deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) no comando do partido também está em jogo. A parlamentar, à frente da legenda desde 2017, é elogiada por seu estilo “aguerrido”, mas tem recebido críticas internas pelo posicionamento em temas controversos.

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Por exemplo, no apoio irrestrito ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela. Num cenário em que até mesmo parte da esquerda começa a rejeitar o ditador do país vizinho, Gleisi reforçou a defesa petista a Maduro e chegou a comparecer à posse do venezuelano, em janeiro. A petista foi ao evento poucos dias após ela e o PT terem se recusado a estar na solenidade semelhante do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL).

“A Gleisi unificou o partido de forma muito combativa. Fez uma gestão num período extremamente relevante, em que Bolsonaro foi eleito, Lula foi preso… foi muito importante o trabalho dela”, disse o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP). Além do parlamentar paulista, Gleisi tem outro cabo eleitoral de peso: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O líder maior do partido foi um dos principais artífices da vitória de Gleisi em 2017 e, recentemente, posicionou-se ao lado da deputada em uma disputa que ela teve com o ex-presidenciável Fernando Haddad.

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A adesão a Gleisi, entretanto, não é irrestrita no partido. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indica que líderes do PT estão articulando para que a deputada não seja reeleita para a presidência. A preferência do grupo mencionado no jornal é de um nome do Nordeste, como o deputado federal José Guimarães (CE) ou o senador Humberto Costa (PE). Apesar de o Nordeste ser o segmento do país em que o PT tem seu melhor desempenho eleitoral, em toda a história do partido houve apenas um presidente petista politicamente ligado à região, o ex-senador José Eduardo Dutra (SE), que teve uma breve passagem de pouco mais de um ano entre 2010 e 2011. Lula e o ex-deputado José Genoino, que presidiram o PT, são nascidos no Nordeste, mas consolidaram suas carreiras políticas em São Paulo.

Negativas

O senador Paulo Rocha (PT-PA) afirmou que o momento é de “cautela” dentro do PT. “Nós estamos apenas começando um processo de discussão política. O PT definiu que tem que fazer uma consulta perante os militantes, e os filiados sobre o sistema de votação. É um processo que ainda vai acontecer. O que não pode ocorrer é, neste processo, já estarem se lançando candidaturas ‘A ou B’”, criticou.

A negativa veio também da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), segmento do PT citado em outra reportagem, do jornal O Globo, que também mencionou mobilizações para que Gleisi não seja reconduzida ao comando do PT.

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“A CNB não abriu discussão em qualquer um de seus fóruns sobre balanço do atual mandato e sobre a sucessão da presidenta Gleisi Hoffmann, razão pela qual qualquer manifestação a esse respeito não representa a posição da CNB. A presidente Gleisi Hoffmann, com afinco e determinação, tem representado nosso partido em defesa dos direitos dos trabalhadores, dos movimentos sociais, da democracia e da soberania de nosso país, por isso merece todo nosso respeito e reconhecimento”, diz nota da CNB divulgada à imprensa na quarta-feira (6).

“Não existe, hoje, uma discussão colocada dentro do PT sobre uma mobilização para substituir a Gleisi. Pode ter ‘um cara ou outro’ que ache isso, mas efetivamente não há uma manifestação organizada neste sentido”, relatou Zarattini.

Agendas e definições

O Processo de Eleições Diretas (PED) foi, historicamente, um dos principais orgulhos do PT. À diferença de alguns partidos em que a definição dos presidentes acontecia por meio de uma escolha entre os principais líderes, o PT se vangloriava de ter seus maiores dirigentes definidos por voto direto.

O quadro, porém, acabou nem sempre correspondendo ao ideal de democracia apresentado pelo partido. Denúncias de fraudes e uso da “máquina administrativa” pelos candidatos aliados dos comandantes da ocasião marcaram os PEDs mais recentes. Havia ainda críticas quanto à demora no processo: a eleição de 2013, por exemplo, ocorreu em um domingo mas a totalização dos votos só foi concluída na terça-feira seguinte.

Como resultado, o processo acabou descartado a partir das eleições de 2017. A eleição para presidente passou a seguir a lógica de uma escolha por delegados, com representantes estaduais, que votam após serem selecionados nas suas regiões.

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Apesar das críticas sobre o PED, é possível que o sistema volte em 2019. O PT estuda realizar um plebiscito entre os filiados para ver se a maioria dos militantes deseja o retorno das eleições diretas. Além disso, o partido promoverá no primeiro semestre um calendário de congressos e viagens, que também servirão para a discussão sobre o processo eleitoral.

A eleição presidencial propriamente dita deve ocorrer entre os meses de outubro e novembro. O eleito em 2019 cumprirá um mandato de quatro anos - cenário diferente do visto em 2017, quando Gleisi foi nomeada para um termo de dois anos de duração. Naquela ocasião, o partido antecipou o processo eleitoral, interrompendo no meio o mandato do então presidente, o atual deputado federal Rui Falcão (SP).

Correntes e tendências

Além das regras do jogo, um elemento chave para a compreensão da dinâmica eleitoral do PT são as correntes internas do partido.

O PT é dividido internamente por segmentos que se agrupam de acordo com diferenças doutrinárias e programáticas. Um dos mais célebres foi o Campo Majoritário, ao qual pertenciam Lula e o ex-ministro José Dirceu. O grupo foi um dos responsáveis pela moderação no discurso radical do PT, que contribuiu para que o partido vencesse as eleições presidenciais em 2002.

O “herdeiro” do Campo Majoritário é o Construindo o Novo Brasil (CNB) - justamente o que, segundo a reportagem do Estadão, articula para que Gleisi não seja reeleita à presidência do PT.

A lógica das correntes e tendências foi essencial para que Gleisi vencesse a eleição interna em 2017, quando disputou com o então senador Lindbergh Farias (RJ). Na ocasião, Lula, membro do CNB e aliado de Gleisi, articulou para que dois segmentos menores, o Optei e o Movimento PT, ficassem ao lado da parlamentar paranaense.

Historicamente, os grupos internos de caráter oposicionista no PT são os mais vinculados à esquerda do partido, que criticam a aproximação da legenda de siglas como MDB, PR, PTB e outras.

Perfil

Se reverter o quadro negativo atual e permanecer como presidente do PT, Gleisi deve prosseguir com o estilo aguerrido que caracterizou a sua gestão. Em vídeo divulgado nas redes sociais na quinta-feira (7), a deputada descartou a hipótese de fazer uma “oposição propositiva” ao governo Bolsonaro e de “criar uma política de boa vizinhança”.

“Não tem arrego, não tem mimimi, não tem essa de conversar com determinados setores”, declarou a deputada. Ela relatou ter falado com o ex-presidente Lula na prisão sobre o tema, e ele teria dito que “o PT tem que se colocar na ofensiva”.

O debate sobre “oposição propositiva” esteve no foco de uma controvérsia recente que envolveu o PT e partidos do seu campo político. Durante o processo para escolha do presidente da Câmara, o PT defendeu a unidade das legendas de esquerda e, formalmente, apoiou Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Já PDT e PCdoB, o principal aliado histórico do PT, optaram pela adesão à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ). A situação levou a troca de farpas públicas entre os dirigentes das legendas.

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