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| Foto: Atila Alberti/Tribuna do Parana

Consciente do risco de derrota, a oposição quer expor os deputados que pedirão o arquivamento da denúncia criminal contra o presidente Michel Temer (PMDB) na sessão desta quarta-feira (2). Parlamentares a favor do avanço da acusação defendem que a votação na Câmara ocorra no horário nobre da televisão, à noite, quando a maioria da população já voltou do trabalho e pode acompanhar de casa a sessão.

Membros da oposição têm afirmado que o governo só tem se ocupado de ações para “enterrar” a acusação na Justiça, como a liberação de emendas e cargos a congressistas que prometeram voto a Temer. Eles apostam no eventual constrangimento causado por uma sessão que deve ser amplamente televisionada. É importante lembrar que cada parlamentar terá de apresentar seu voto no microfone e a tendência é que as bases eleitorais estejam observando o comportamento dos deputados. Inicialmente, a oposição chegou a tentar emplacar a votação em um domingo, a exemplo do que aconteceu no impeachment de Dilma Rousseff.

“É fundamental para o país e para que a denúncia avance no Supremo que a votação seja o mais tarde possível, já que a transmissão ao vivo da votação tende a aumentar a pressão contra os parlamentares”, disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).

A intenção da oposição não é apenas expor os votos favoráveis a barrar a denúncia, ela também quer convencer os indecisos a votarem para que a Câmara autorize o andamento do processo, ou seja, contra Temer.

Placar da votação: Veja a tendência de voto dos deputados sobre a denúncia contra Temer

Votação de tarde

Já o governo quer correr com a votação pelo mesmo motivo. Há uma apreensão no Palácio do Planalto sobre se essa exposição no horário noturno prejudicaria a estratégia de defesa do presidente e deixaria o placar menos favorável ao arquivamento. Em tese, a base de apoio ao governo tem recursos para acelerar o processo de discussão.

Pelas regras definidas em reunião de liderança partidária, apenas quatro oradores, sendo dois a favor e dois contra, são obrigatórios para a etapa de discussão, que precede a votação. Por isso, é o tempo de debates que pode adiantar ou atrasar a apresentação dos votos.

A sessão de análise da denúncia começará na manhã desta quarta com as falas da defesa de Temer e do relator Paulo Abi-Ackel (PSDB-MS), que recomendam o arquivamento da denúncia. Depois, começará a discussão que pode ou não tomar o dia todo.

A oposição já sinalizou que irá pressionar para que haja um amplo debate dada a importância do tema, mas, na prática, ela quer que a fase de discussão se estenda para que a votação se inicie de noite. Algumas emissoras, como a Rede Globo, já declararam que irão exibir a sessão da Câmara durante a votação.

Apesar disso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira que a votação da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer estará resolvida na tarde de quarta-feira. “Acho que amanhã será votado e, com a votação, isso gera uma tranquilidade para a sociedade de que esse assunto estará resolvido na parte da tarde de amanhã”, afirmou.

“Vai dar quorum, a gente vai votar. É nossa obrigação. Não pode ter um presidente denunciado e o parlamento não deliberar sobre isso. Independentemente da posição de cada um, é importante que a Câmara delibere”, disse Maia.

Reunião termina sem consenso

A reunião dos seis partidos de oposição nesta terça terminou sem que eles chegassem a um consenso sobre marcar ou não presença na sessão desta quarta para garantir o início da votação. Após quase três horas, PT, PC do B, PSOL, Rede, PDT e PSB, apenas distribuíram tarefas e decidiram que, se forem dar quorum, isso não acontecerá pela manhã ou pela tarde. “Eles querem encerrar quando o povo não está vendo telejornal”, disse Glauber Braga (RJ), líder do PSOL.

Na tentativa de retardar o início da sessão, a oposição vai questionar o rito estabelecido pelo presidente da Câmara. Assim como o governo, um grupo de deputados da oposição também vai telefonar para colegas indecisos para tentar conquistar seus votos. Por enquanto, cada partido defende uma maneira de agir em relação a dar ou não quorum.

Para começar a votação, é preciso que ao menos 342 deputados registrem presença. Para garantir que o quorum seja atingido, aliados de Temer querem que o deputado da oposição que falar ao microfone mesmo sem marcar presença seja contabilizado. Cientes disso, os oposicionistas escalarão um pequeno número de representantes para se manifestar em plenário.

Acusação

Temer é acusado pela Procuradoria-Geral da República por crime de corrupção passiva com base em gravações e na delação dos donos do grupo J&F, que controla o frigorífico JBS. Um dos executivos da empresa, Joesley Batista, gravou uma conversa comprometedora com o presidente em março no Palácio do Jaburu e esse diálogo gerou a denúncia. O presidente nega que tenha cometido ilegalidades e sua defesa deve afirmar que não há provas e que a denúncia se baseia em ilações dos procuradores.

Além da acusação de corrupção passiva, Temer deve ser denunciado ainda por obstrução à Justiça e organização criminosa por outras citações da delação da J&F. Se a PGR apresentar nova denúncia, ela terá de passar pelo mesmo rito na Câmara.

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