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| Foto: Beto Barata/PR

Deflagrada na quinta-feira (29), a Operação Skala chegou perto do presidente Michel Temer (PMDB) ao prender amigos dele por suspeitas de corrupção no Porto de Santos (SP). Nesta sexta-feira (30), a situação de Temer piorou ainda mais porque a investigação chegou diretamente no próprio presidente. Foi revelado que a Polícia Federal (PF) apreendeu, na sede da Rodrimar, empresa investigada na operação, folhas de papel com citação a Temer. E o empresário Antônio Celso Grecco, presidente da Rodrimar, disse em depoimento à PF que, num encontro em Brasília, Temer prometeu ajudar a empresa a resolver uma pendência no Porto de Santos quando ainda era vice-presidente.

A Rodrimar foi alvo de buscas da Operação Skala, por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo. O dono da empresa, Grecco, foi preso. A Skala investiga supostos benefícios à empresa Rodrimar na edição do decreto voltado ao setor portuário.

A equipe chefiada pelo delegado da PF Fábio Seiji Tamura vasculhou quatro andares da sede da Rodrimar, no Centro de Santos. O nome do presidente é citado no relatório da ação: “Uma folha de papel contendo o nome de várias empresas e pessoas físicas, incluindo Michel Temer (encontrada na sala do gerente Willy Maxell, quinto andar)”.

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Amigo de Temer também é citado nos documentos apreendidos

Também há nos documentos referências à construtora Argeplan, controlada pelo coronel da PM José Baptista Lima Filho, o Coronel Lima, amigo de Temer. “Uma folha de papel contendo relação de empresas, entre elas, Argeplan Arquitetura e Engenharia LTDA (encontrado no quarto andar -– setor jurídico)”, relatou a PF.

Coronel Lima é um nome emblemático da Operação Skala, muito ligado a Temer desde os anos 1980 e 1990, quando o presidente exerceu o cargo de secretário da Segurança Pública de São Paulo.

Ao autorizar a Operação Skala, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso registrou que, para a Polícia Federal, a empresa Argeplan “tem se capitalizado” com recursos de empresas interessadas na edição do Decreto dos Portos e distribuído tais recursos para os demais investigados.

Barroso citou que a PF chegou a essa constatação na análise dos documentos colhidos tanto no Inquérito dos Portos, do qual é relator, quanto nos autos de um inquérito que já tramitou no Supremo sobre o setor portuário e hoje se encontra arquivado -- Temer foi investigado nesse caso.

Para a Polícia Federal, segundo Barroso, a análise conjunta dessas duas investigações “permite concluir que a Argeplan, agora oficialmente com o Investigado João Batista Lima Filho como sócio, tem se capitalizado por meio do recebimento recursos provenientes de outras empresas - as interessadas na denominado Decreto dos Portos -, e distribuído tais recursos para os investigados”.

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Presidente da Rodrimar conta que Temer prometeu ajuda

Já o empresário Antônio Celso Grecco, presidente da Rodrimar, disse à Polícia Federal que, num encontro em Brasília, Temer prometeu ajudar a empresa a resolver uma pendência no Porto de Santos quando ainda era vice-presidente. A Rodrimar havia vendido um espaço no complexo portuário à Eldorado Celulose, do grupo J&F, mas o governo federal barrara a transferência de mais duas áreas contíguas para a empresa dos irmãos Batista.

Além disso, a obra iniciada pela Eldorado estava atrasada e havia sido embargada pela Codesp (Companhia Docas de São Paulo), estatal que administra o porto. Grecco disse que, diante disso, esteve em Brasília com “pessoas da Eldorado e tratou diretamente com a Vice-Presidência”, sendo que “foi apresentar o projeto de adensamento [integração das três áreas] para a construção” de um terminal de celulose da Eldorado.

“A resposta do presidente foi simplesmente: vou ver o que vou fazer”, contou Grecco no depoimento. Ele acrescentou que, até hoje, “nada foi feito em relação ao adensamento”.

O empresário foi preso na quinta (29) na operação Skala, que mira amigos de Temer e executivos de empresas portuárias por suposto envolvimento em um esquema de pagamento de propina ao presidente por favorecimento no governo.

Investigação começou por causa da JBS

O inquérito foi aberto após executivos da JBS, em delações premiadas, lançarem suspeitas sobre Temer. Ricardo Saud afirmou que, após um encontro com Temer, o então vice interferiu em favor da Eldorado . Relatou que Temer tomou nota dos detalhes e informou que ligaria para a Codesp para resolver a questão. Dias depois, informou, a obra foi liberada.

Saud e outro delator do grupo, Florisvaldo Caetano de Oliveira, disseram ainda que a JBS entregou R$ 1 milhão ao coronel João Baptista Lima, um dos amigos do presidente que estão presos. O destinatário dos recursos seria Temer.

Grecco é apontado pela PF como o principal articulador de empresários do setor portuário de Santos com agentes políticos.

No depoimento, o empresário negou ter relações comerciais com Temer. Acrescentou que não sabe se o presidente se envolveu nas negociações da venda da área da Rodrimar para a Eldorado ou “em relação à solução de algum dos problemas administrativos que surgiram durante ou após a com concretização do negócio”.

Planalto nega corrupção e diz que áreas da Rodrimar serão licitadas novamente

Em nota, o Planalto afirmou que Temer é vítima de uma trama totalitária para impedir sua candidatura à reeleição e nega que a empresa Rodrimar, da qual é suspeito de receber propina, tenha sido beneficiada com a edição do chamado Decreto dos Portos, no ano passado. Segundo o comunicado da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, “todas as áreas da Rodrimar serão relicitadas”.

“A mais rasa leitura do decreto teria enterrado, no ano passado, o pedido de abertura de tal investigação pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot. O fato é que a Rodrimar não se encaixa neste parágrafo, neste artigo, no todo do decreto ou na sua interpretação, por mais ampla que se queira, conforme despacho do Ministério dos Transportes: “Conclui-se que as disposições do decreto número 9048/17 não se aplicam aos contratos da empresa Rodrimar S/A”.

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