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| Foto: Giuliano Gomes/Giuliano Gomes

A conta corrente de propina do PT com a Odebrecht chegou a R$ 200 milhões, dos quais foram usados R$ 133,5 milhões entre 2008 e 2014. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o empresário Marcelo Odebrecht afirmou que a criação da conta surgiu de um acerto com o ex-ministro Antonio Palocci para destinar ao PT valores para a campanha presidencial de 2010, mas que o partido poderia, se quisesse, sacar antecipadamente recursos. O depoimento de Marcelo foi prestado na última segunda-feira e Moro levantou o sigilo nesta quarta, depois da liberação pelo Supremo Tribunal Federal.

Segundo Marcelo, o dinheiro provisionado era administrado totalmente por Palocci e que só o ex-ministro poderia autorizar retiradas. “Meu compromisso era com ele. Todos os pagamentos eram autorizados pelo Palocci. Para sair daqui tinha que ter autorização do Palocci”, afirmou o empresário, explicando que tinha doações ao PT “por dentro e por fora”.

Conta do ‘amigo’ Lula na Odebrecht teria começado com saldo de R$ 35 milhões

O empresário afirmou que o valor em conta foi usado pelo partido e, quando chegou em 2010, a empresa tinha pouco a contribuir e, então, pediu ao pai dele, Emílio Odebrecht, que avisasse Lula. “Cheguei para o meu pai e falei assim, avisa a Lula que ele não vai ver nenhuma doação Odebrecht 2010 mas é porque - para ele ter certeza que ele tá sabendo - que a gente praticamente já doou tudo”, disse Marcelo.

O empresário afirmou que do valor provisionado na conta, R$ 114 milhões corresponderam a propinas solicitadas por representantes do partido, em contrapartida a alguma medida que beneficiava a empresa: R$ 50 milhões da criação do Refis da Crise, feito solucionar a crise causada pelo IPI zero, e R$ 64 milhões de um crédito de US$ 1 bilhão para Angola, para ser usado em exportação de bens e serviços, que beneficiaria a Odebrecht.

Marcelo contou que a Braskem, petroquímica do grupo, corria o risco de quebrar quando mudou a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o IPI alíquota zero e o IPI crédito prêmio. Todas as grandes empresas do país estavam negociando com o governo o que viria a ser chamado de “Refis da crise”, de 2009, e Palocci o apresentou ao então ministro Guido Mantega.

“Em determinado momento da negociação, que gerou a Medida Provisória que beneficiou as empresas, ele (Guido Mantega) escreveu no papel o valor de R$ 50 milhões e disse que tinha expectativa para a campanha de 2010. Não sei se o aproach (abordagem) foi feito com outras empresas, mas tínhamos liderança grande neste processo. Falei com o presidente da Braskem e ele aceitou. Foi o primeiro crédito da planilha”, afirmou.

O empresário disse que Palocci, que era deputado federal na época, tinha conhecimento dos R$ 50 milhões. Afirmou, porém, ter decidido que o valor ficaria provisionado para Guido Mantega e que “não iria mexer”. “Eu tinha alinhavado 2010 com o Palocci, não com o Guido”, afirmou.

O segundo aporte, segundo Marcelo, ocorreu entre o fim de 2009 e início de 2010, quando foi procurado por Paulo Bernardo, que era o ministro do Planejamento, “por indicação de Lula”, que lhe pediu US$ 40 milhões pela aprovação, pelo BNDES, de um crédito de US$ 1 bilhão para Angola. A Odebrecht tinha contratos com Angola e as obras só seriam feitas com o empréstimo brasileiro.

O empresário disse que procurou Palocci para explicar que, como a obra era no exterior e o dinheiro teria se ser operacionalizado lá fora, haveria um custo de 10%. Palocci aceitou descontar o percentual do valor destinado ao partido. “Ficou acertado US$ 36 milhões, que convertido deu R$ 64 milhões. Esses dois pedidos foram os dois únicos que vieram como solicitação de uma contrapartida específica, por parte de Guido e de Paulo Bernardo, com a ciência de Palocci.”

Marcelo afirmou que o primeiro saque da conta foi de R$ 18 milhões, usados para as campanhas municipais prioritárias para o partido, principalmente as conduzidas pelo publicitário João Santana, que tinha receio de ficar com dívidas ao fim das eleições. Segundo ele, a antecipação de recursos na conta servia para deixar o marqueteiro tranquilo de que iria receber. “Era para dar um conforto a ele (Santana).”

O empresário disse que os valores eram pagos ao PT “por dentro e por fora” e que não se preocupava como o partido iria usar o dinheiro, já que era Palocci quem autorizava os saques. Segundo Marcelo, o primeiro emissário de Palocci para retirada de valores era Juscelino Dourado, que foi chefe de gabinete do ex-minitro. Depois, foi substituído por Branislav Kontic. “Meu compromisso era com ele, problema deles. Não sei para onde. Todos os pagamentos eram autorizados pelo Palocci”, disse.

Dentro do grupo, explicou Marcelo, as empresas contribuíram para abastecer a conta, cuja intenção era garantir recursos para as eleições de 2010. No setor de energia, o presidente da área, Henrique Valadares, controlava os investimentos em Belo Monte e na UHE Santo Antonio. O empresário disse que o executivo chegou a receber pedido do PT para dar propina na obra de Belo Monte, mas ele conseguiu não pagar depois de falar com Palocci. “Fui no Palocci: me desculpe, essa planilha envolve tudo que tenho com vocês - disse Marcelo, acrescentando que não era interesse da empresa criar o pagamento de contrapartidas para tudo.”

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