• Carregando...
 | Roque de Sá/Agência Senado
| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O senador Romero Jucá (MDB-RR) decidiu nesta segunda-feira (27) entregar o cargo de líder do governo no Senado. Ele explicou que tomou a decisão para ter liberdade para cobrar ações do presidente Michel Temer (MDB) para a crise gerada pela entrada de venezuelanos em Roraima.

“Essa situação tende a se agravar e eu tenho que cobrar do governo veementemente, protestar, cobrar e reclamar do governo. Como líder do governo eu não posso fazer isso, então eu me desincumbi da função para exercer essa questão com plenitude no que diz respeito a essa cobrança”, disse.

Jucá comunicou Temer pessoalmente sobre sua decisão na tarde dessa segunda e disse que o mandatário “entendeu”. “Entre o governo federal e a população de Roraima que me elege e que eu tenho que defender, é claro que eu opto sem nenhuma dúvida pela população de Roraima”, disse o senador.

LEIA MAIS: Venezuelanos pediram 5,5 vezes mais asilo do que os sírios em 2018

O principal pedido de Jucá é para que o governo federal determine o fechamento da fronteira terrestre temporariamente para “organizar o trabalho”. Temer, no entanto, disse ao senador que a medida é “inegociável em qualquer ponto de vista”.

Em nome do governo, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, agradeceu Jucá por seu “dinamismo e inteligência durante o tempo em que exerceu a função”. “Desejamos êxito agora, principalmente nessa empreitada eleitoral a qual ele se dedica a partir de agora com mais afinco”, disse. Jucá é candidato à reeleição ao Senado por Roraima.

Marun também reafirmou a decisão do governo federal de não fechar a fronteira para conter o fluxo de entrada de venezuelanos no estado. “O Brasil tem condição de resolver a crise sem romper com nossa tradição, com nossa história e com os acordos internacionais que celebramos”, disse.

LEIA TAMBÉM: Governo federal vai enviar mais de 600 venezuelanos para cidades gaúchas

Jucá falou com jornalistas logo após o encontro com Temer e afirmou sentir “pena dos venezuelanos” mas disse que a crise humanitária vivida pelo país vizinho não pode ser motivo para “destruir Roraima”. Ele reclamou ainda que o resto do Brasil apoia as medidas do governo para receber os imigrantes mas não ajuda o Estado.

“Não adianta querer fazer figura com o chapéu alheio. Fica o Brasil inteiro achando que tem que receber os venezuelanos, mas ninguém leva para os seus estados. Quem está pagando a conta é povo de Roraima e eu não quero que eles paguem essa conta”, disse.

Substituto

De acordo com Jucá, o primeiro vice-líder, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), é quem deve assumir a liderança do governo na Casa e fazer a defesa do governo Temer.

O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, afirmou que o presidente Michel Temer definirá um novo nome para assumir a liderança do governo no Senado até esta terça-feira (28).

VEJA TAMBÉM: Venezuelanos vivem cotidiano de fome e violência em Roraima e sobrecarregam serviços públicos

“O presidente tem algumas ideias de convite e até amanhã terá selecionado um novo líder”, disse Marun, que afirmou que Temer não chegou a conversar com Fernando Bezerra Coelho sobre o assunto ainda.

Marun classificou a decisão de Jucá como uma “atitude ética” e disse não acreditar que o senador tenha tido alguma intenção eleitoreira. “Jucá está tomando uma atitude ética. A partir do momento em que ele discorda da nossa atitude em relação a essa questão, ele decide se afastar da liderança do governo e, a partir daí, ele tem a liberdade de tomar as atitudes que entender as mais devidas para a questão”, disse.

Carta

Jucá também divulgou uma carta direcionada a Temer na qual explica sua decisão. No documento, ele diz que há dois anos defendeu o fechamento das fronteiras em Roraima, para controlar a entrada de venezuelanos, “antevendo as graves consequências”. O senador ainda se coloca em contraposição a governadora do Estado, Suely Campos (PP-RR), sua adversária política.

“Fui criticado pelo governo do Estado e pelos adversários políticos, com o argumento de que eu queria acabar com o comércio fronteiriço. O tempo mostrou que minha posição estava correta”, escreveu. No texto, o presidente do MDB ainda justifica dizendo que as medidas tomadas pelo governo até agora são “paliativas” e não resolvem a situação “dramática” do Estado. Por fim, ele diz que não se sente confortável em permanecer representando o governo no Senado diante dessa postura da gestão Temer, que “condena” e deixa Roraima “à mercê”.

Para Jucá, a ajuda aos imigrantes que chegam à Roraima pode, inclusive, aumentar a entrada de venezuelanos no Brasil. “Isso só faz ampliar a quantidade de pessoas que chegarão. Porque se na Venezuela não tem remédio, estão morrendo de fome, estão matando pessoas, as pessoas virão para Boa Vista, para Pacaraima porque, no mínimo, há chance de ter um prato de comida”, afirmou.

LEIA TAMBÉM: Êxodo venezuelano se aproxima de momento de crise como no Mediterrâneo, diz ONU 

Questionado sobre se sua decisão também tem motivação eleitoral - Jucá é candidato à reeleição ao Senado e aparece na terceira posição nas pesquisas de intenção de voto - o senador negou a hipótese e disse que não está preocupado com pesquisas.

Ele também disse que não busca se desvincular da imagem de Temer, hoje com ínfimos 4% de aprovação, neste momento. “O Michel Temer não tira um voto em Roraima. ... O resultado do governo não está em cheque nessa questão”, disse.

Presidente nacional do MDB, Jucá também afirmou que seu afastamento da liderança não afeta a questão partidária. “O MDB continua unido. O MDB tem história de trabalho no governo Michel Temer, tem resultado para apresentar, tem a candidatura do Henrique Meirelles. Portanto, não muda nada a nível partidário”, disse.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]