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Provável crescimento o PIB no 1.º trimestre é boa notícia para um presidente que tenta se segurar no cargo. Mas os indicadores mais recentes sugerem uma nova estagnação. | NELSON ALMEIDA/AFP
Provável crescimento o PIB no 1.º trimestre é boa notícia para um presidente que tenta se segurar no cargo. Mas os indicadores mais recentes sugerem uma nova estagnação.| Foto: NELSON ALMEIDA/AFP

O IBGE deve confirmar nesta quinta-feira (1.º) que a economia voltou a crescer, algo que não acontecia desde o fim de 2014. À caça de boas notícias, o presidente Michel Temer provavelmente usará o dado para alardear que seu governo pôs fim à recessão. Para isso, contará com o reforço do sutil recuo da taxa de desemprego, o primeiro em mais de dois anos, reportado nesta quarta (31) pelo mesmo instituto. O ideal, no entanto, seria conter o entusiasmo.

Os números do PIB que o IBGE vai divulgar são referentes ao longínquo primeiro trimestre. Há uma dispersão razoável entre os palpites dos economistas: as projeções para o crescimento variam de 0,5% a 1,25% em relação aos últimos três meses de 2016, quando a atividade econômica, após vários trimestres de baixa, regrediu ao pior nível em seis anos.

Por que não comemorar? Porque há indícios de que, após o provável avanço do primeiro trimestre, a economia voltou a patinar no segundo – e antes mesmo da revelação dos grampos da JBS, que desencadearam uma crise política capaz de azedar o restante do ano.

Também não se sabe se a leve queda no desemprego no intervalo de fevereiro a abril marca o início de uma virada no mercado de trabalho ou se foi apenas um ponto fora da curva. O banco Bradesco e a consultoria Parallaxis, por exemplo, acreditam que o cenário do emprego vai piorar mais um pouco nos próximos meses e só depois reagir de forma mais consistente.

“A recuperação marginal da taxa de desemprego [no trimestre encerrado em abril] está em linha com o cenário que temos destacado, de estabilização da economia em patamar de baixa atividade, após ter um bom primeiro trimestre”, destacou a Parallaxis em relatório.

O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, prevê “uma grande desaceleração” nos dados do PIB do segundo trimestre. “Os dados já disponíveis, de abril e maio, apontam para um desempenho medíocre, com crescimento próximo de zero. Trabalhamos com uma projeção de alta de 0,2% no melhor cenário, mas eu não me surpreenderia com uma leve retração”, diz.

Agronegócio e estoques

Oliveira calcula que o PIB cresceu 1,2% nos três primeiros meses do ano, puxado pela atividade agropecuária. Mas a expansão da produção no campo – de cerca de 11% no primeiro trimestre, pelas projeções do analista – perdeu força em seguida. “A soja garantiu boa parte do avanço no começo do ano. Mas no segundo trimestre as principais culturas não estão apresentando crescimento tão forte”, diz. O economista calcula que o setor de serviços cresceu apenas 0,3% e a indústria, 1,4%.

Uma fragilidade que a equipe do Banco Fibra detectou é que as empresas acumularam muitos estoques no primeiro trimestre. Ou seja, a produção cresceu, mas as vendas não acompanharam. “Provavelmente esse acúmulo de estoques não consumidos levará a uma produção menor no segundo trimestre”, diz Oliveira.

Crise contagiante

Assim como outros bancos e consultorias, o Fibra revisou para baixo suas projeções para o PIB anual após a revelação do escândalo da JBS. Em vez de 1%, agora prevê alta de 0,5%. O contágio da crise política para a economia ocorrerá por três canais, segundo Oliveira: 1) a piora das expectativas; 2) uma queda mais lenta da taxa de juros para os clientes dos bancos; e 3) a alta do câmbio, que embora possa facilitar exportações no longo prazo, num primeiro momento deixa pessoas e empresas mais receosas em investir e consumir.

A corretora Gradual Investimentos projeta alta de 0,8% para o PIB no primeiro trimestre, seguida de estagnação (0%) no segundo e avanços de 0,35% e 0,75% no terceiro e no quarto. O resultado seria um crescimento microscópico no acumulado do ano, de 0,07%.

Essa previsão é a mesma de antes da crise política. Na avaliação do economista-chefe da corretora, André Perfeito, a fragilidade do governo não afetará a economia neste ano e no próximo, uma vez que as reformas de Temer, agora ameaçadas, só teriam efeito no longo prazo. “Já não teríamos aumento do investimento este ano e, para o ano que vem, a queda continuada dos juros reais irá gerar investimentos”, diz.

Segundo ele, o juro básico real (descontada a inflação) cairá abaixo de 6% no ano que vem, o que obrigará investidores institucionais – fundos de pensão, por exemplo – a “migrar para o risco” em busca de maiores retornos, o que deve impulsionar o investimento.

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