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| Foto: Evaristo Sa/AFP

O presidente Michel Temer prestou depoimento por escrito à Polícia Federal no âmbito do inquérito 4462, que apura o suposto repasse de R$ 10 milhões via caixa 2 pela Odebrecht para o antigo PMDB (atual MDB), o partido dele. Temer respondeu a um questionário com 20 perguntas formuladas com base nas revelações de executivos ligados à empreiteira. Em delação premiada, eles contaram detalhes de um jantar que teria ocorrido no Palácio Jaburu, em 2014, quando Temer ocupava a vice-presidência no governo Dilma Rousseff.

“Vossa Excelência foi aquinhoado com alguma parcela desses valores?”, questionou o delegado federal Thiago Machado Delabary, em documento de 7 de agosto. O próprio delegado assinalou, no início do questionário, que ‘algumas perguntas’ já foram enviadas ao presidente no âmbito do denominado Inquérito dos Portos, ‘e, muitas delas, respondidas’.

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Temer, assim como no inquérito dos Portos, sentiu-se hostilizado com algumas perguntas, as quais reputou ‘ofensivas’ e ‘invasivas’. O presidente não escondeu sua indignação diante de determinadas indagações, ‘repetitivas’ e ‘desrespeitosas’. Segundo aliados, Temer já declarou ter participado do jantar no Jaburu, mas sempre negou que os participantes tivessem falado em dinheiro. Esses aliados avaliam que várias perguntas foram ‘mal formuladas tecnicamente’.

A pergunta número 3 irritou o presidente: “alguns executivos da Odebrecht afirmaram, no âmbito de seus respectivos acordos de colaboração premiada, que, em meio à segunda rodada de concessões de aeroportos, receberam do ministro Moreira Franco solicitação de apoio financeiro à campanha do PMDB, o que teria redundado na disponibilização de R$ 4 milhões pela construtora, em recursos não contabilizados. Vossa Excelência teve ciência da solicitação e do encaminhamento dos valores? Vossa Excelência foi destinatário de alguma fração desses valores?”, perguntou o delegado.

“Não tenho a menor ciência do aporte desses recursos. Em razão deste fato, descabida a segunda parte da questão”, respondeu Temer.

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Na pergunta 4, o delegado faz menção ao jantar. “Vossa Excelência participou de jantar realizado no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, no qual estiveram presentes Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho?” O delegado arrematou. “Em caso de resposta afirmativa, quem mais participou do evento, qual o propósito de sua realização e o que foi efetivamente tratado?”

Temer respondeu: “Deu-se o jantar. Além dos mencionados na pergunta, o Ministro Eliseu Padilha. Marcelo Odebrecht comunicou que iria colaborar com vários candidatos do PMDB, o que fez oficialmente por meio do partido”.

Outros questionamento que irritou Temer foi o que o delegado perguntou se João Baptista Lima Filha, o coronel Lima, recebeu algum valor em espécie destinado a ele (Temer) em 2014. “Apesar de insultuosa a indagação, registro que não haveria nenhum motivo para tal recebimento”, respondeu o presidente.

Segundo a PF, os executivos da Odebrecht, em declarações prestadas no âmbito do Inquérito 4462, afirmaram que, no jantar, fora objeto de discussão o encaminhamento de R$ 10 milhões ao PMDB pelo grupo empresarial, dos quais R$ 6 milhões seriam direcionados à campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, nas eleições de 2014.

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Sobre esse tema, o delegado perguntou: “Tomou conhecimento de algum apoio financeiro prestado pela Odebrecht à campanha de Paulo Skaf?” Temer respondeu: “Não tomei conhecimento”.

Outras indagações citam o advogado José Yunes, igualmente velho amigo do presidente e também alvo da Operação Skala. “Qual a relação mantida entre Vossa Excelência e o advogado José Yunes? É possível afirmar que José Yunes é pessoa da máxima confiança de Vossa Excelência?”.

“Conheço-o desde os tempos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. A confiança é proporcional a esta longa amizade”, explicou o presidente.

Yunes afirmou, em declarações prestadas no Inquérito nº 4462, que, a pedido do ministro Eliseu Padilha, ‘recebeu uma pessoa em seu escritório. em São Paulo, no ano de 2014, a quem posteriormente identificou tratar-se de Lúcio Funaro’ – doleiro preso na Operação Sepsis.

O inquérito está sob relatoria do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a PF a fazer os questionamentos a Temer.

Barroso autorizou compartilhamento de provas

Atendendo a um pedido da PF, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou na última sexta-feira (17) que provas colhidas no processo sobre os portos sejam compartilhadas no inquérito da Odebrecht.

O inquérito de relatoria de Barroso apura se empresas que atuam no Porto de Santos, entre elas a Rodrimar, teriam sido beneficiadas pelo decreto assinado por Temer em maio de 2017. A medida ampliou de 25 para 35 anos as concessões do setor, prorrogáveis por até 70 anos.

O inquérito investigava inicialmente, além de Temer, Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR), ex-assessor do presidente e ex-deputado federal, Antônio Celso Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, respectivamente, dono e diretor da Rodrimar. Ao longo da apuração, entraram também na mira o amigo do presidente, coronel Lima, e executivos do Grupo Libra. Todos negam envolvimento em irregularidades.

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