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| Foto: Alexandra Martins/Câmara dos Deputados

O deputado federal Tiririca (PR-SP) é acusado por uma ex-empregada doméstica de assédio sexual. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada e a relatoria foi sorteada para o ministro Celso de Mello.

Francisco Everardo Oliveira Silva, nome do parlamentar no registro civil, teria assediado Maria Lúcia Gonçalves, que trabalhou para o deputado e sua mulher como babá entre março e junho de 2016, em uma viagem a São Paulo, em maio daquele ano.

De acordo com o depoimento de Maria Lúcia, Tiririca chegou ao apartamento em que a família e dois assessores estavam hospedados exalando “odor etílico” e teria jogado a empregada no sofá da sala, dizendo obscenidades, segundo o depoimento à 10ª Delegacia de Polícia de Brasília. A ex-funcionária afirmou que então teria se soltado e se escondido atrás do móvel, mas que Tiririca teria corrido atrás dela no apartamento, com as calças arriadas.

Maria Lúcia afirma que a viagem, em 25 de maio, teria como objetivo a gravação de uma entrevista para o Programa do Jô, do apresentador Jô Soares. Uma entrevista com o deputado foi ao ar no dia 27 de maio.

O assédio teria sido presenciado pela filha do casal, de 8 anos, pela mulher do parlamentar e por dois assessores. Segundo ela, a menina teria empurrado o pai para pará-lo.

No depoimento, datado de 8 de março de 2017, a ex-funcionária afirma que teria passado a semana seguinte com a família em Fortaleza. Ela diz que o assédio do deputado continuou durante o período. “Sempre que a declarante passava perto de Francisco, ele dizia ‘vou te comer’, passava a mão no cabelo da declarante e nas nádegas”, afirma o texto.

Maria Lúcia disse que se sentia “menos valorizada que um cachorro” e que tinha “vontade de bater” no deputado e que, ao voltar a Brasília, teria sido demitida.

Por ser deputado, Tiririca tem foro privilegiado, e o processo corre no STF. O ministro Celso de Mello abriu vista para a Procuradoria-Geral da República se manifestar.

Processos

O imbróglio judicial entre a ex-funcionária e família já teve outras etapas. A mulher de Tiririca, Nana da Silva Magalhães, fez um boletim de ocorrência contra Maria Lúcia no ano passado. Segundo ela, Maria Lúcia tentou extorquir dinheiro dos patrões depois que foi demitida por beber no trabalho.

“Insatisfeita com a demissão, Maria Lúcia disse que caso não lhe fosse entregue a quantia de R$ 100 mil no ato da rescisão contratual iria prejudicar a comunicante e seu esposo”, diz o boletim de ocorrência. Maria Lúcia negou à polícia que tenha pedido dinheiro para o casal.

Outro lado

A defesa do deputado afirmou à Justiça que ambos os casos de assédio, em São Paulo e Fortaleza, jamais ocorreram. Segundo a contestação, assinada pelo advogado Fernando de Carvalho Albuquerque, Gonçalves estaria tentando “utilizar o estereótipo do personagem” de Tiririca para “atribuir-lhe os mesmos comportamentos em sua vida pessoal e privada”.

“No palco, o reclamado dois [Tiririca] interpreta um palhaço com linguajar coloquial, e, por vezes, vocabulário chulo. Isso não significa que o 2 reclamando traga para sua vida pessoal o comportamento do personagem”, diz o texto. “Ao contrário, é pai dedicado, homem conhecedor da sua importância política e que representa o país, talvez, melhor do que muitos médicos, advogados e promotores de Justiça eleitos.”

O advogado também afirmou que o motivo da demissão de Gonçalves foi a “incompatibilidade” com as atribuições da casa, e o consumo de bebidas alcoólicas durante o horário de trabalho.

“A reclamante não se adaptou à rotina da família e tentou utilizar o pouco tempo de convivência para chantagear os reclamados pedindo a quantia de R$ 100 mil para se manter em silêncio com relação à vida íntima do casal”, disse.

A Folha entrou em contato com o gabinete do deputado, mas Tiririca não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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