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| Foto: Alexandra Martins/Agência Câmara

O ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, arrumou um advogado “salvador da pátria” para o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, tirando-o da prisão quando ele já estava decidido a fazer uma delação premiada. A ação está descrita de forma cifrada numa carta de Priscila Arana Souza, uma das filhas de Paulo Preto, apreendida pela Polícia Federal no último dia 19, quando ele foi preso pela última vez. Os disfarces nos nomes são bem primários: Aloysio, por exemplo, é chamado de Alo Alô.

“Há alguns meses nós decidimos que você iria fazer delação e chamou Alo Alô para informar-lhe. O Alô, a priori, disse achar que você devia fazer o que achava melhor para você, surpreendendo com a reação. Mas, algumas semanas depois, trouxe-lhe um salvador da pátria: Walt Disney (um cara sedutor).”

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Pelos fatos narrados, Walt Disney é o advogado José Roberto Santoro, que assumiu a defesa de Paulo Preto em abril do ano passado, quando ele estava preso pela segunda vez, no presídio de Tremembé. Foi Santoro quem conseguiu um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e tirou o ex-diretor da Dersa da prisão quando ele estava decidido a fazer uma delação, segundo a filha.

Priscila chama Santoro de “advogado de tucanos”. Antes a defesa de Paulo Preto estava a cargo do criminalista Daniel Bialski e do civilista Eduardo Leite.

Aloysio tinha um cartão de crédito ligado a uma das contas na Suíça atribuídas a Paulo Preto, entregue ao ex-ministro no final de 2007 em Barcelona. Neste ano, Aloysio era o chefe da Casa Civil do governador José Serra (PSDB), e Paulo, o diretor de engenharia da Dersa. Foi em 2007 também que teve início a obra em que empreiteiras relataram ter pago propina a Paulo Preto. Depois que a força-tarefa da Lava Jato revelou o cartão entregue a Aloysio, no último dia 19, ele deixou a presidência da Investe SP, cargo para o qual havia sido nomeado pelo governador João Dória (PSDB). 

Pressão psicológica

A filha de Vieira de Souza descreve um cenário de terror ao pai para incentivá-lo a fazer um acordo de delação. Diz que o advogado Eduardo Leite sondou promotores e eles disseram que o ex-diretor da Dersa perderia os R$ 132 milhões que mantinha na Suíça e todo o patrimônio que acumulou, pelo menos R$ 8 milhões em imóveis, quando contabilizados pelo valor venal, muito menor do que o valor real.

“Entendo que esse dinheiro já era... mas, além de sem dinheiro, você pode ficar nessa cadeia por vontade política por muito tempo. Só depende de você!”

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Ela conta que outro diretor da Dersa, Pedro Silva, estaria negociando um acordo e que o “triatleta”, o operador financeiro Adir Assad, já tinha delatado tudo que sabia sobre as operações de propina no Rodoanel e outras obras da Dersa.

A filha afirma na carta que o advogado reclamou a ela que estava atuando na Suíça, onde o ex-diretor manteve quatro contas, com saldo de R$ 132 milhões, e descobriu que Paulo Preto “havia escondido algumas informações dele”.

Priscila reclama que Aloysio só ligou para uma conversa “de 20 segundos e sumiu”. A uma outra interlocutora, ela faz ameaças de delação: “Respondi: meu pai é forte mesmo, mas a família não. Então garanto que aguentaremos quietas apenas por mais um tempo. Após isso a vida de todos irá mudar, não apenas a nossa. Saco cheio desses tucanos”.

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O ex-diretor da Dersa tem duas filhas, Priscila e Tatiana Arana Souza. Elas são sócias de Paulo Preto numa empresa que absorveu todo o patrimônio do ex-diretor da Dersa. Cada filha detém R$ 1,9 milhão das cotas, enquanto Paulo e a ex-mulher têm R$ 100. Amigos de Paulo Preto dizem que a maior influência e a maior preocupação dele são as filhas.

De quem é o dinheiro?

Na carta apreendida pela PF, Priscila volta a insinuar que os R$ 132 milhões encontrados na Suíça em 2017 não são apenas do ex-diretor da Dersa. De acordo com ela, o novo advogado arrumou um contador para ratificar o imposto de Paulo Preto. “Mas isso fez você assumir tudo como se fosse só seu. Será que ele visa apenas os seus interesses?”

A filha protesta também da imagem que a mídia pinta do pai: “O Alckmin, a mídia, a imprensa, as rádios estão te destruindo. Dizendo que você deveria ser preso quatro, cinco anos atrás. Que é um ladrão e que querem ver você provar como um engenheiro de um órgão público amealhou R$ 115 milhões [o valor atual é de R$ 132 milhões, por conta da variação do franco suíço]. Ou será que não é tudo dele?”, escreve, sublimando esta última frase. “Dizem: Fala Paulo Preto”.

Procurados, Aloysio e Santoro não se manifestaram até a conclusão deste texto.

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