A recuperação do poder de compra é um refresco para o trabalhador brasileiro em meio à crise que o país atravessa. Essa retomada ocorre graças à recomposição salarial e ao controle da inflação. O boletim de junho do Salariômetro, pesquisa que analisa o mercado de trabalho e convenções coletivas da Fipe/USP, aponta que maio de 2017 foi o quarto mês consecutivo em que os trabalhadores obtiveram ganhos reais nas negociações salariais. E a tendência é de que isso continue, porque a previsão de inflação futura continua em queda.
De acordo com o Salariômetro, em maio o reajuste mediano ficou 1% acima do INPC e dos 948 acordos e convenções fechados no mês, apenas 4,1% tiveram reajustes inferiores à inflação. Esse percentual de ajustes abaixo da inflação é o menor registrado nos últimos 12 meses. Para se ter ideia, em agosto de 2016, 42,9% dos acordos fechados foram menores que a inflação.
Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da USP e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe, admite que até é difícil explicar o porquê do ganho real nos salários. “Estamos num tremendo desemprego no Brasil. No mundo inteiro, quando tem desemprego, o salário cai, mas no Brasil, sobe”, comenta.
O fato é que a inflação está em queda, muito grande e muito rápida. “Uma inflação tão baixa assim abre espaço para reivindicar um aumento maior com a empresa, um ganho acima da inflação”, pontua Zylberstajn. A tendência é de que queda na inflação acumulada para os próximos meses – o que sinaliza que vai continuar a haver espaço para ganhos reais.
O economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, lembra que nos últimos anos a inflação atingiu um patamar muito alto – em 2015, fechou em 10,7% e em 2016, 6,3%. “Agora, a gente tem visto que a inflação tem caído fortemente, a tal ponto que agora os reajustes de salário estão acima da inflação acumulada”, pondera. Esse reajuste igual ou maior que a inflação tem recomposto e aumentado o poder de compra do brasileiro.
Embora os aumentos estejam sendo mais vantajosos agora, pode haver uma ilusão de perda pelo valor nominal mais baixo dos reajustes. Quando o reajuste salarial é dado, ele olha para o período de um ano atrás e qual foi o crescimento da inflação nesse período. “A questão é que como estamos com uma inflação menor, o reajuste nominal dos salários também vai ser menor”, pondera Xavier. Mas ele lembra: em maio de 2016, os reajustes salariais foram de 9% na média, mas a inflação acumulada era de quase 10%, o que implicou em perda do poder de compra.
Para onde o mercado vai?
Com poder de compra recomposto e salários com ganhos reais, a grande questão é como a economia e o mercado vão responder a isso. Para Zylberstajn, o aumento no poder de compra vai permitir que as pessoas gastem mais, o que movimenta a economia diretamente, ou que poupem dinheiro, o que faz com que bancos possam emprestar mais valores para outros investimentos.
A incógnita é o comportamento das empresas, e são duas as opções: demitir porque o reajuste pesou, aumentando o desemprego, ou fazer rotatividade, mandando embora um funcionário para contratar outro por um custo menor. “Não se sabe qual será a reação das empresas, mas é de se supor que se elas concordaram em dar esse pequeno aumento real, têm espaço para absorver isso”, avalia.
Os indicadores de emprego mostram que o nível de emprego parou de cair – tanto o Caged quanto a Pnad. Mas Zylberstajn alerta que é possível que o desemprego aumente – as empresas pararam de demitir, mas não estão contratando e tem gente chegando ao mercado de trabalho o tempo todo.
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