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Cristiano Carvalho, represenante da Davati no Brasil
Cristiano Carvalho, represenante da Davati no Brasil| Foto: Pedro França/Agência Senado

O representante no Brasil da Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, que depõe nesta quinta-feira (15) à CPI da Covid do Senado, disse aos senadores que a negociação por vacinas entre a empresa e o Ministério da Saúde teve início por iniciativa de membros do governo.

Carvalho expôs aos senadores uma troca de mensagens que teve com Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde que esteve na CPI na semana passada, e acabou preso após mentir à comissão. Na conversa, Dias manda seguidas mensagens a Carvalho e cobra um retorno. “O Ministério da Saúde que me procurou”, afirmou.

O representante disse ter ficado incrédulo no início dos diálogos, por não esperar que o Ministério da Saúde o procurasse daquela forma. Mas passou a levar a negociação a sério após ter recebido comunicados com papel timbrado do órgão.

A Davati entrou no radar da CPI da Covid após a denúncia de que a empresa havia sido procurada por Dias para negociar vacinas com o governo federal mediante pagamento de propinas. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o policial militar Luiz Dominguetti, também representante da empresa, disse que Dias se ofereceu para adquirir vacinas da Astrazeneca, com o acréscimo de US$ 1, de propina, por dose de imunizante. Dominguetti foi à CPI e chamou Cavalho de "CEO da Davati no Brasil", condição que ele nega. Carvalho diz ser apenas um vendedor em nome da companhia.

Carvalho apontou ter tomado conhecimento do pedido de pagamentos adicionais na compra de vacinas, mas disse não ter ouvido a expressão propina. "A informação que veio a mim foi que, vale ressaltar, não foi o nome propina. Ele (Dominghetti) usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento como sendo do grupo do tenente-coronel Blanco [o coronel da reserva Marcelo Blanco], e a pessoa que havia apresentado a ele [Dominghetti] ao Blanco, que é de nome Odilon", apontou. Carvalho disse, entretanto, que Dias não pediu propinas diretamente a ele: "comigo ele sempre tratou profissionalmente, nunca tratou de propina, nada disso".

Intermediários de peso

Carvalho expôs aos senadores a influência que o reverendo Amilton Gomes de Paulo exerceu no ministério. Segundo o representante da Davati, o líder religioso fez a intermediação de uma reunião entre a Davati e integrantes do ministério. O reverendo teve seu pedido de convocação à CPI já aprovado pelos parlamentares. Ele deveria ter falado à comissão nesta semana, mas teve o depoimento adiado por motivos de saúde.

Amilton é o presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), instituição privada que ganhou do Ministério da Saúde, em fevereiro, autorização para negociar vacinas em nome do governo nacional.

Outro intermediário citado por Carvalho é Helcio Bruno, coronel da reserva e membro do Instituto Força Brasil, ONG com atuação em Brasília. Bruno, de acordo com Dominguetti, possibilitou à Davati o contato com Elcio Franco, então o secretário-executivo e o "número 2" do ministério.

A menção a Franco fez com que senadores oposicionistas incrementassem as críticas à gestão de Jair Bolsonaro. Rogério Carvalho (PT-SE) chamou a negociação de vacinas com a Davati de "operação tabajara" e declarou que muitos membros do governo estão implicados nas denúncias levadas à comissão.

CPI da Covid quer e-mails de Braga Netto

Antes do depoimento com Carvalho, a CPI aprovou requerimentos pautados pelos senadores. Um deles foi o de acesso aos e-mails do ministro da Defesa, Braga Netto. Ele foi o ministro da Casa Civil entre fevereiro de 2020 e março de 2021.

A comissão quer verificar a atuação de Braga Netto no combate à pandemia. Seu período na Casa Civil coincidiu, em parte, com o intervalo em que Eduardo Pazuello foi ministro da Saúde.

A reunião desta quinta deve ser a última da CPI antes do início do recesso parlamentar, que começa em 17 de agosto. A comissão retomará as atividades em agosto.

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