A Polícia Civil enviará para perícia as armas dos policiais militares que estavam em patrulhamento na noite de sexta-feira (20) no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, no momento em que a menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, foi atingida nas costas por um tiro de fuzil dentro da Kombi em que viajava.
Ághata foi levada para o hospital, mas não resistiu ao ferimento e morreu na madrugada deste sábado (21). A Polícia Militar alega que os agentes que atuavam no local tinham sido alvo de criminosos, mas parentes da menina e testemunhas relataram que não houve confronto e que os policiais teriam atirado contra uma motocicleta que passava na hora, com dois homens a bordo.
As armas dos policiais militares passarão por confronto balístico com o projétil retirado do corpo da vítima no Instituto Médico Legal. De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), familiares de Ágatha Félix já prestaram depoimento neste sábado (21), e novas testemunhas serão ouvidas a partir desta segunda-feira (23).
No decorrer dessa semana, a polícia determinará a data para a reconstituição do disparo que vitimou Ágatha. O enterro foi marcado para as 16 horas deste domingo (22), no cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio.
A morte de Ágatha causou comoção e motivou críticas de entidades à política de segurança pública do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). A Defensoria Pública do Estado condenou a "opção pelo confronto", enquanto a seção Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) destacou o "recorde macabro" de 1249 pessoas mortas pela polícia no estado de janeiro a agosto.
O assunto também mobilizou a internet. A hashtag a "A culpa é do Witzel" figurou entre as mais citadas no ranking do Twitter Brasil ao longo do dia de sábado (21).
Em nota, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro informou que lamentava "profundamente a morte da pequena Ágatha no Complexo do Alemão" e manteve a versão de que os agentes apenas revidaram a uma agressão de criminosos "quando foram atacados de várias localidades da comunidade de forma simultânea". No entanto, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) comunicou que abrirá "um procedimento apuratório para verificar todas as circunstâncias da ação".
Autoridades se manifestam em redes sociais
Em meio a protestos de moradores do Complexo do Alemão e à crescente pressão nas redes sociais, o Governo do Estado do Rio de Janeiro emitiu, na tarde deste domingo (22), uma nota de pesar sobre a morte da menina. Até as 15h09, o governador Wilson Witzel (PSC) não havia se manifestado. Diversas autoridades políticas, entre elas o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, postaram manifestações sobre o assunto nas redes sociais.
No texto publicado no Twitter, que não leva assinatura, o governo informa que a Polícia Militar do Rio de Janeiro abriu um procedimento para apurar a ação dos policiais. "O Governo do Estado lamenta profundamente a morte da menina Ágatha, assim como a de todas as vítimas inocentes, durante ações policiais", diz a nota. De acordo com o governo, criminosos fizeram ataques simultâneos em diversas localidades do Complexo do Alemão na noite de sexta-feira, o que teria feito os policiais da UPP Fazendinha revidarem.
"Após confronto, foram informados por moradores que a menina tinha sido atingida e levada para o Hospital Getúlio Vargas", diz a nota. A versão é contestada pela família de Ágatha, que negou ter havido confronto e relatou que os policiais atiraram contra uma motocicleta que passava na hora, atingindo Ágatha dentro da Kombi em que viajava.
Mesmo com a nota institucional do governo, cresce nas redes sociais uma cobrança por um posicionamento pessoal do governador Witzel. Neste domingo (22), Witzel tuitou duas vezes, uma parabenizando o município de São Gonçalo pelo aniversário de 129 anos e outra sobre o Dia Mundial Sem Carro.
Também no Twitter, o deputado Rodrigo Maia prestou solidariedade à família de Ágatha. "Qualquer pai e mãe consegue se imaginar no lugar da família da Ágatha e sabe o tamanho dessa dor. Expresso minha solidariedade aos familiares sabendo que não há palavra que diminua tamanho sofrimento", disse Maia. "É por isso que defendo uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude que está em discussão no Parlamento."
O ministro Gilmar Mendes classificou o número de mortes resultantes de ações policiais nas favelas como "alarmantes" e chamou atenção para o número de crianças baleadas neste ano. "Uma política de segurança pública eficiente deve se pautar pelo respeito à dignidade e à vida humana", afirmou.
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