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Presidente Jair Bolsonaro promete anunciar o partido ao qual irá se filiar até o fim de março.
Presidente Jair Bolsonaro promete anunciar o partido ao qual irá se filiar até o fim de março.| Foto: Evaristo Sá/AFP

O futuro partidário do presidente Jair Bolsonaro segue uma incógnita, mesmo com o final do prazo estipulado por ele próprio para definir sua próxima legenda se aproximando — o fim de março. Segundo interlocutores dele, não está fácil chegar a um acordo com o partido que esteja disposto a entregar a sigla para o “bolsonarismo”. Tamanho é o impasse que Bolsonaro não está mais entre três partidos, mas entre seis.

Em fevereiro, Bolsonaro analisava três partidos: Patriota, PTB e PP. Após a votação no plenário da Câmara que confirmou a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro descartou o PP. E o Patriota está sob intensa análise, embora o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, afirme que também esteja descartado.

“Depois do que o Patriota fez [liberou a bancada] no plenário, ele [Bolsonaro] se afastou. O PP também não, para lá ele não vai”, afirmou Jefferson à Gazeta do Povo. O petebista afirma que, hoje, Bolsonaro está entre o PTB e o Democracia Cristã (DC), presidido por José Maria Eymael.

Interlocutores de Bolsonaro e “bolsonaristas” aliados confirmam que o PP saiu do páreo e que DC e PTB estão sob análise, mas afirmam que o Patriota segue em análise e outros três são estudados: o Partido da Mulher Brasileira (PMB), o PSC e o próprio PSL.

Ou seja, agora, Bolsonaro está entre seis partidos. A escolha depende apenas de o futuro partido ceder ao menos parte do comando ao presidente da República. “Resumidamente, o que o presidente quer é ter o controle mínimo do partido para que os acidentes que aconteceram no PSL não se repitam. E isso aí passa pelo controle de filiação partidária e de gestão do partido”, afirma o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ).

Na última segunda-feira (8), o próprio Bolsonaro confirmou o que deseja sobre seu futuro partidário. "Estou namorando outro partido onde eu seria dono dele, como alternativa se não sair o Aliança [pelo Brasil]", afirmou. Entretanto, ele não informou qual legenda teria preferência. "A burocracia é muito grande, não é apenas assinar ficha, tem que autenticar em cartório, é uma burocracia terrível", desabafou.

PMB e DC são os mais cotados por Bolsonaro

A ambição de Bolsonaro em ser "dono" de um partido é o que coloca os nanicos PMB e o DC como favoritos a filiá-lo. Inicialmente, a adesão a uma legenda sem expressão não era uma opção seriamente cogitada pelo presidente. Aliados "bolsonaristas" explicam à Gazeta do Povo que a intenção inicial do presidente era se filiar a uma sigla com uma estrutura minimamente pronta.

"Ambos são partidos muito pequenos, sem representatividade e estrutura partidária montada. Seria começar do zero algo que, não necessariamente, precisa ser recomeçado do zero. Se optar por um partido com estrutura própria, tem que ser um pouco maior”, explica um parlamentar bolsonarista.

Contudo, Bolsonaro está convicto e inclinado a não abrir mão de ter controle de seu próximo partido, ainda que não disponha de voluptuosos recursos dos fundos partidário ou eleitoral. "Por toda a experiência com o PSL, e antes disso, com o próprio PSC, é uma dor de cabeça que ele não quer", explica o deputado.

O PMB é presidido por Suêd Haidar, que, segundo afirmam bolsonaristas, prometeu dar o controle total a Bolsonaro. Por esse motivo, o partido é, hoje, o maior favorito para receber o presidente. O DC vem logo atrás. "Há uma costura para que o Eymael, que ainda quer ser dono, saia do cargo de presidente e se transforme em presidente de honra. A ideia é que, tanto no DC, quanto no PMB, o presidente [Bolsonaro] teria o controle total", explica outro aliado.

Quais as chances de Bolsonaro retornar ao PSL

A volta de Bolsonaro ao PSL é remota, mas está sob estudo. O próprio presidente confirmou na live de quinta-feira (11) ter conversado com gente do PSL. Voltar ao partido que o ajudou a eleger com a estrutura e os vultuosos recursos dos fundos eleitorais que o partido tem direito é um atrativo que os bolsonaristas não negam. Mas é uma opção muito improvável.

O que é mais viável hoje, segundo afirmam alguns bolsonaristas, é o PSL estar junto na coligação de Bolsonaro em 2022. "Essa é uma construção 100% possível e que está sendo feita, obviamente. Agora, a volta do presidente ao PSL, na prática, é muito difícil", explica um interlocutor bolsonarista.

O deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP), vice-presidente do partido, freia qualquer chance de o partido se associar a Bolsonaro, seja seu retorno ou uma coligação. "Querem ficar no PSL tendo a possibilidade de garimpar algo que sempre criticaram, os fundos eleitoral e o partidário ", diz Bozzella.

Para o vice do PSL, a ala bolsonarista tenta "plantar" na imprensa esse possível alinhamento. "É porque sabem que, da parte do partido, não há esse sentimento, muito pelo contrário. O PSL quer combater os extremos e não apoiá-los", diz.

Prisão do presidente do PSC é entrave para a filiação de Bolsonaro

Para que o PSL ou qualquer outro partido aceite Bolsonaro, os atuais membros da Executiva Nacional teriam que abrir mão de parte do poder em detrimento de Bolsonaro e dos deputados bolsonaristas que o acompanhariam.

Além do PSL, o PSC, partido que Bolsonaro foi filiado entre março de 2016 e agosto de 2017, é outro que tem “dono”, o Pastor Everaldo, um desafeto de Bolsonaro. Denunciado em três inquéritos do Ministério Público Federal (MPF), ele está preso desde agosto de 2020, acusado de ser um dos chefes dos esquemas de corrupção no Rio de Janeiro durante o governo de Wilson Witzel, que foi afastado do cargo.

O cárcere de Everaldo é o principal motivo que dificulta a filiação de Bolsonaro ao PSC, analisa o deputado Otoni de Paula. “Não sei se ele [Bolsonaro] colocaria seu nome em um partido onde o presidente está preso”, justifica o parlamentar. “Se o partido tomasse a decisão de afastar o presidente Everaldo, aí, eu acreditaria em uma vinda do presidente [da República]”, acrescenta.

Em caso de filiação ao partido, Bolsonaro encontraria um ambiente dividido. Os representantes do PSC no Congresso são aliados do governo, mas os membros da Executiva Nacional, não. “É claro que o presidente [Bolsonaro] teria pouca oposição caso viesse ao partido, mas a gente sabe, também, que ele tem algumas oposições”, pondera Otoni.

“Por isso, não sei até que ponto com o presidente Everaldo controlando o partido ainda, embora preso, a gente conseguiria organizar essa possível vinda, caso ele queira mesmo dentro dos termos que deseja”, acrescenta o parlamentar.

Sem garantia de controle do PSC, conversas esfriaram

Apesar da prisão de Everaldo ser, para Otoni de Paula, um fator complicador, para Bolsonaro, é um dos motivos que o estimula a buscar a legenda. Ele articulou pessoalmente uma possível filiação com os deputados André Ferreira (PSC-PE), vice-líder do governo na Câmara, e Aluísio Mendes (PSC-MA), líder do partido na Casa.

Ambas lideranças tentaram intermediar a ida de Bolsonaro com a cúpula da sigla, mas não houve acordo. Por um momento, as conversas chegaram a estar mais avançadas, até mais do que com o Patriota, mas esfriaram.

A informação de que a prisão de Everaldo é vista como um estímulo por Bolsonaro é confirmada dentro da própria cúpula do PSC, que freia um retorno do presidente. “Ele acha que, com a prisão do Pastor, conseguiria o controle do PSC porque o partido estaria acéfalo, mas não está”, avisa um membro da cúpula.

A reportagem ouviu dois integrantes da Executiva Nacional da sigla. Um deles até afirma que, por blefe ou pressão, Bolsonaro teria dito a membros do Patriota que iria ao PSC e o “tomaria” por estar “sem dono”. Mas ambos afirmam que a legenda não está à venda. “Se Bolsonaro quiser vir, ele é muito bem vindo. Mas o PSC não vai abrir o controle da legenda para ele”, afirmam.

Mesmo preso, Everaldo ainda tem grande influência sobre o PSC na figura do presidente em exercício, o ex-senador Marcondes Gadelha (PB). Esse é um dos grandes motivos pelo qual a cúpula da legenda sustenta que Bolsonaro não tomaria o partido para si.

Por que partidos querem Bolsonaro mesmo diante de divergências internas

O pragmatismo político é o que motiva o PMB, DC, PSC e outras legendas a manterem conversas com Bolsonaro, a despeito de atritos, discordâncias e até disputa de egos entre membros da Executiva das legendas com o bolsonarismo. A maioria das siglas pensa em uma coisa: sobrevivência partidária.

“Junto com o Bolsonaro, viriam muitos deputados e, com isso, a gente pode eleger uma boa bancada em 2022 e superar a cláusula de barreira”, pondera um dos membros da cúpula do PSC. A Emenda Constitucional 97/2017 acabou com as coligações proporcionais e restringiu o acesso de partidos a verbas públicas e à propaganda no rádio e na TV, por meio da chamada cláusula de barreira.

Para 2022, partidos que não conseguirem obter 2% dos votos válidos para deputado federal ou a eleição de 11 deputados distribuídos em, pelo menos, nove estados, ficarão impossibilitados de ter representatividade, de receber recursos do fundo partidário e terão o tempo de rádio e TV restringidos a partir da legislatura seguinte, ou seja, entre 2023 e 2026.

“Se o Bolsonaro vir, vindo os votos dos bolsonaristas, isso dá fôlego para o partido”, explica outro membro da Executiva do PSC. O partido, que tem uma bancada de 10 deputados, elegeu oito parlamentares nas eleições de 2018. Ou seja, para 2022, o partido seria punido pela cláusula de barreira.

A situação do PMB, Patriota e o DC não é diferente. O Patriota fez cinco deputados federais e, ao se fundir com o PRP, montou uma bancada de seis parlamentares na Câmara. O DC elegeu apenas o deputado Luiz Antônio Corrêa (PL-RJ) e, por não ter cumprido com a cláusula de barreira, perdeu representatividade. Já o PMB não fez um único deputado federal.

Quais as chances de Bolsonaro se filiar ao Patriota

A escolha partidária de Bolsonaro segue em aberto. Ciente da ala do PSC que o rejeita, ele mantém viva a possibilidade de filiação ao Patriota. Tudo depende de como se resolverá a queda de braço entre o presidente do partido, Adilson Barroso, e o primeiro-vice-presidente, Ovasco Resende. Enquanto Barroso é favorável a “entregar” o partido a Bolsonaro, Resende, que detém a maior parte do partido, não é.

Aos bolsonaristas, Barroso afirma que consegue reverter a situação e tomar definitivamente para si o partido. Contudo, é improvável ele conseguir entregar o partido a Bolsonaro. Alguns aliados do presidente da República estudaram o estatuto do Patriota para saber se há instrumentos capazes de fazer Barroso tomar sozinho a decisão de abrigar o bolsonarismo, mas o retorno não foi animador.

"Parece que o Adilson não conseguirá entregar aquilo que havia prometido", explica um bolsonarista. Barroso fala que o cenário é reversível, mas todo esse impasse fez esfriar a possibilidade de filiação de Bolsonaro. "É uma pena. Por todas as vezes que conversamos com o partido, é a situação que o presidente [Bolsonaro] se sente mais confortável [em se filiar]”, pondera o aliado.

Quais as chances de filiação ao PTB, o partido favorito dos bolsonaristas

Para bolsonaristas, apenas o PTB tem um alinhamento que vai além do pragmatismo político na cúpula. Apesar de, atualmente, ter o apreço da maioria dos bolsonaristas entre as legendas analisadas por Bolsonaro, o partido dificilmente será escolhido pelo presidente da República.

“O partido dele próprio não pode bater de frente com o STF, presidentes partidários, líderes e presidentes do Congresso como o Bob Jeff [apelido de Roberto Jefferson] faz”, afirma um deputado aliado.

O parlamentar afirma que, se a decisão do futuro do bolsonarismo fosse exclusivamente dele, optaria pelo PTB. Mas as ofensivas de Jefferson ao STF e aos demais poderes poderiam ser mal vistas na política. De toda forma, há uma grande possibilidade de Bolsonaro se filiar a outro partido e seus aliados irem para o PTB. Otoni de Paula é um dos que analisa a filiação ao partido.

A estratégia do PTB e Jefferson de “bater de frente" com ministros do STF não é mal vista por bolsonaristas. “Se o presidente optar por outro partido, necessariamente vai haver um vácuo de poder de algum partido de direita que seja mais combativo. Essa missão não vai ficar a cargo do partido do presidente, por questão político partidária, mas pode ser exercida pelo PTB”, avalia outro deputado aliado.

O deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) confirma que o PTB é um nome que agrada o grupo bolsonarista e admite que o Patriota, que tinha o apreço do grupo, será escanteado caso Adilson Barroso não vença a queda de braço com Ovasco Resende. “Alguns parlamentares e diretores não querem aceitar o Bolsonaro. Então, penso que não podemos ir para um partido que tenha resistência”, pondera.

O parlamentar reconhece o empenho de Jefferson em lutar pela agenda conservadora e oferecer o partido para abrigar o bolsonarismo, mas faz ressalvas. “O único problema que eu vejo é que o Roberto tem um passado que é meio complicado [delator do mensalão, Roberto Jefferson foi condenado pelo STF]. Tem que ver se ele já pagou pelo que fez”, diz Nunes.

A atitude de Jefferson, de toda forma, agrada, e só o “sim” de Bolsonaro ao partido impede os bolsonaristas de se movimentarem para migrar ao PTB. “Só falta o presidente concordar. E vai concordar agora no máximo em 15 dias”, afirma Nunes. O deputado discorda, contudo, que a ofensiva de Jefferson contra o STF seja um impeditivo para Bolsonaro. “Não acredito que inibe o presidente de ir ao PTB. Todos têm direito de ir contra o Supremo”, avalia.

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