Demorou três dias para o presidente Jair Bolsonaro cancelar mais um decreto que afetava os quartéis. Sem alarde, o presidente havia mudado a forma de promoção dos coronéis do Exército por meio do decreto 10.563, publicado no último dia 7. Acabava a promoção por tempo de serviço e mantinha-se apenas aquela motivada pelo mérito. Três dias depois, cancelou a medida com outro decreto.
A medida não é consenso entre os militares. Ela estava em estudo no Exército havia anos. Pensava-se que a promoção para coronel por tempo de serviço favoreceria oficiais que, embora bem colocados na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), teriam descuidado do prosseguimento da carreira, não merecendo assim atingir o último posto antes do generalato, quando a promoção acontece apenas por escolha do Alto Comando da Força.
Outros objetavam que para chegar a coronel o oficial já havia feito cursos durante a carreira e que isso já era suficiente para barrar aqueles que, porventura, tivessem "encostado o corpo". E, portanto, a vedação da promoção por antiguidade tornaria o acesso ao posto de coronel ainda mais "político", uma forma mais subjetiva para compor os futuros quadros de acesso. O certo é que a rapidez com que o Planalto voltou atrás na medida, editando o decreto 10.567 para cancelar o anterior, indicaria, segundo oficiais ouvidos pela reportagem, que o Planalto resolveu ceder à reação da tropa.
O governo — que tem oficiais generais ocupando os principais cargos do Palácio do Planalto — vivenciou situação igual quando foi publicado neste ano outro decreto, o que concedia ao Exército o direito de ter aviação de asa fixa, um desejo da Força Terrestre que despertou a reação de brigadeiros da Força Aérea, como o ex-comandante da FAB Nivaldo Rossato. As medidas tinham em comum o fato de serem estudadas há muito tempo. E ambas pareciam ter sido publicadas sem que as reações contrárias fossem de todo mapeadas ou que as percepções sobre a medida fossem conhecidas.
O Estadão procurou o Ministério da Defesa — que é quem se manifesta politicamente pelas Forças — para saber por que o primeiro decreto foi publicado, quais as razões que levaram à revogação e por que as medidas foram tomadas por Bolsonaro. A reportagem fez as mesmas perguntas à Secretaria de Comunicação do Planalto. Esta pediu que tudo fosse enviado à Defesa, mas nenhuma pergunta havia sido respondida até a publicação deste texto.
-
Órgão do TSE criado para monitorar redes sociais deu suporte a decisões para derrubar perfis
-
Relatório americano divulga censura e escancara caso do Brasil ao mundo
-
Mais de 400 atingidos: entenda a dimensão do relatório com as decisões sigilosas de Moraes
-
Lula afaga o MST e agro reage no Congresso; ouça o podcast
Contra “sentença” de precariedade, estados do Sul buscam protagonismo em negociação sobre ferrovia
Câmara de São Paulo aprova privatização da Sabesp com apoio da base aliada de Nunes
Lula afaga o MST e agro reage no Congresso; ouça o podcast
Governo Tarcísio vê sucesso na privatização da Emae após receber três propostas
Deixe sua opinião