• Carregando...
O conselheiro de Segurança dos EUA, Jake Sullivan, e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro em Brasília, em 5 de dezembro de 2022.
O conselheiro de Segurança dos EUA, Jake Sullivan, e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro em Brasília.| Foto: Ricardo Stuckert/PT

O encontro da segunda-feira (12) entre o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, deu indícios de quais serão as pautas prioritárias do petista com o governo do presidente americano Joe Biden. Há uma ofensiva dos dois para isolar seus adversários Jair Bolsonaro e Donald Trump com o discurso de defesa da democracia. Mas, em paralelo, Lula e Biden buscam uma aproximação conjunta com a Venezuela, governada pelo ditador de esquerda Nicolás Maduro.

A expectativa de Biden é de que Lula seja o principal fiador da reaproximação entre os Estados Unidos e a Venezuela. Em meio às declarações públicas de que o objetivo é restabelecer a democracia venezuelana, há o interesse americano no petróleo do país governado por Nicolás Maduro – demanda criada pela deterioração da relação do Ocidente com a Rússia após a Guerra na Ucrânia. A Rússia é grande produtora de petróleo.

De acordo com o relato do ex-chanceler Celso Amorim, presente na conversa entre Sullivan e Lula, o representante de Biden afirmou que o governo norte-americano espera por uma eleição “justa” na Venezuela. “Eu sinto, parece, digamos assim, e aí eu tenho que ser cuidadoso porque não sei exatamente a palavra que ele usaria... A ideia que é importante, fundamental, para eles [os americanos], é que haja uma eleição [na Venezuela] que possa ser considerada justa e [que] aceitarão quem for o ganhador”, disse Amorim.

O governo de Biden tenta mudar as relações com o governo de Nicolás Maduro, rompidas durante o governo de Donald Trump. E o Brasil, sob o comando de Lula, vai voltar a reconhecer Maduro como presidente da Venezuela. No início de 2019, os Estados Unidos, a União Europeia e outros países, entre eles o Brasil, já presidido por Jair Bolsonaro, reconheceram o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, como chefe de Estado. Agora, no entanto, a interpretação predominante no PT é que Guaidó não tem mais o respaldo de parte expressiva da comunidade internacional e as chances de queda de Maduro são mínimas.

Lula será ponte entre os EUA e o governo de Maduro 

Com a reaproximação do Brasil com a Venezuela, aliados de Lula indicam que o petista pode ter um papel determinante na construção da nova relação entre o governo norte-americano e o ditador venezuelano. Desde o início da guerra na Ucrânia, os Estados Unidos passaram a depender de outros países para comprar petróleo que até então importava da Rússia. E a Venezuela, que tem uma das maiores reservas mundiais, virou estratégica para os americanos.

Recentemente, por exemplo, Joe Biden autorizou a retomada das operações da petroleira americana Chevron na Venezuela e o envio da produção para os Estados Unidos, reduzindo a rigidez das sanções para empresas que operam no país sul-americano. Paralelamente, negociações com o governo venezuelano foram reabertas. Em março, três altos funcionários do governo Biden viajaram a Caracas para se encontrar com Maduro para tentar atraí-lo de volta às negociações com a oposição apoiada pelos Estados Unidos. Na pauta, estava a libertação de vários americanos presos na Venezuela há anos. As negociações, no entanto, não avançaram.

Recentemente, Maduro condicionou a realização de eleições livres no país à retirada completa das sanções de países como os Estados Unidos à sua economia. O calendário eleitoral oficial da Venezuela prevê uma disputa presidencial para 2024, mas o regime do ditador ainda não definiu uma data. Nos últimos meses, Maduro retomou o diálogo com a oposição após um ano de suspensão das conversas, em uma negociação na qual a eleição é o tema central. 

Agora, líderes do PT avaliam que a situação da Venezuela estará no centro da nova relação entre o governo brasileiro e o dos Estados Unidos. Ainda de acordo com os petistas, Lula tem sido claro e sinalizado que a solução só pode ser política e pelo diálogo. "Lula falou da importância de ter contato real, reconhecer as realidades, lembrou experiência do passado, do diálogo", disse Celso Amorim sobre o encontro do presidente eleito com o conselheiro de segurança de Biden. 

A avaliação entre os aliados de Lula é que a relação de "respeito" do petista com o ditador venezuelano pode ser determinante para a solução do impasse entre o governo de Maduro, a oposição e o mundo democrático. Segundo os petistas, o futuro governo Lula poderá liderar negociações que possam alcançar um entendimento entre a Venezuela e os regimes democráticos. 

A Venezuela será pauta da visita que Lula pretende fazer a Biden após tomar posse, em janeiro. O presidente norte-americano pretendia receber o petista ainda em dezembro. Mas Lula adiou a viagem alegando "questões internas do Brasil". "O Lula disse que talvez não desse para estar lá antes da posse. Ele acha que dá para ir logo no início do ano, já numa visita oficial como presidente", acrescentou o ex-chanceler Celso Amorim.

Bolsonaro e Trump também vão entrar na agenda de discussões de Lula e Biden 

Além da Venezuela, também estará no centro da agenda de Lula e Biden o capital político de Jair Bolsonaro e do ex-presidente Donald Trump. Na avaliação de aliados do PT, Bolsonaro buscou repetir no Brasil o mesmo comportamento de Trump, que não reconheceu a derrota nas urnas. E isso seria uma forma de enfraquecer a democracia em ambos os países.

Recentemente, Lula afirmou que ele e Biden têm "muita coisa para conversar" porque Estados Unidos e Brasil "padecem de uma necessidade democrática" em razão das gestões de Trump e de Bolsonaro, respectivamente. "O estrago que o [ex-presidente] Trump fez na democracia americana é o mesmo estrago que o Bolsonaro fez no Brasil. O pensamento do Trump, o comportamento dele, é o mesmo do nosso presidente [Bolsonaro] aqui", disse Lula.

Interlocutores do petista, no entanto, não indicam quais medidas ambos os governos podem adotar de forma conjunta para "fortalecer a democracia" nos dois países. "Lula fez uma comparação, não sei se palavras usadas foram exatamente essas, entre trumpismo e bolsonarismo, e a necessidade de fortalecer a democracia. Jake Sullivan acentuou a importância da vitória. Vitória, não, da eleição, como foi, democrática, com a vitória do presidente Lula, como isso foi importante para a democracia no Brasil, na região e no mundo", relatou Amorim após a reunião de Lula com o secretário de Segurança de Biden.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]