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Partidos cobram maior participação no governo após apoiar reforma tributária
Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF).| Foto: Ana Volpe/Agência Senado

Após a recente aprovação da tão debatida reforma tributária na Câmara dos Deputados, os partidos do Centrão cobram cargos ministeriais como contrapartida pelo apoio político decisivo durante o processo de aprovação. A agitação nos bastidores políticos em Brasília reflete as negociações de poder. Os ministérios mais visados no momento são o do Desenvolvimento Social (responsável pelo programa Bolsa Família), do Turismo e do Esporte.

O Centrão integra o superbloco formado na Câmara pelo PP do presidente Arthur Lira (AL), União Brasil, PDT, PSB, Avante, Solidariedade, Patriota e pela federação PSDB-Cidadania; o grupo quer maior participação no governo Lula, como forma de garantir a implementação de suas pautas e interesses.

O bloco sustenta que o apoio à reforma tributária, considerada crucial para o país, merece uma compensação adequada em termos de poder e influência. Afinal, dos 382 votos a favor da reforma, 148 vieram desses partidos.

Os partidos do Centrão, mais ao centro e à direita, formam a chamada “base” de apoio do governo, e têm uma longa tradição de barganha política e negociações para garantir benefícios para suas bases. Ao pressionar pela nomeação de ministros e ocupação de cargos estratégicos, eles buscam fortalecer sua posição política e influência dentro do governo, com maior capacidade de decisão sobre políticas e recursos.

Embora sofram críticas sobre a prática de distribuição de cargos com base em acordos políticos, os defensores do Centrão argumentam que essa é uma realidade da política brasileira e uma forma de garantir a governabilidade. Eles ressaltam que a coalizão governamental é composta por diferentes forças políticas e que a composição de ministérios reflete essa diversidade.

PP quer o mesmo prestígio do União Brasil e cobiça pasta do Desenvolvimento Social

De acordo com o deputado José Nelto (PP-GO), um dos více-líderes do bloco, desde a transição de governo seu partido, o Progressistas, tem sido fundamental para a governabilidade de Lula e, por isso, nada mais natural que tenha nomes nos ministérios. “Estamos apoiando o Brasil e ajudando nas reformas. O PP tem quer ter o mesmo espaço do União Brasil”, alerta o deputado.

Para Nelto, na atual situação do país, não existe meio termo, “ou vira governo ou vira oposição”, diz. O deputado assume que o partido cobiça o ministério do Desenvolvimento Social, hoje comandado pelo petista Wellington Dias, amigo de Lula, e responsável por um dos programas mais importantes da atual gestão, o Bolsa Família.

Segundo o deputado, se o partido for indicar um nome para o ministério, nada mais natural que seja o líder na Câmara, deputado André Fufuca (PP-MA). Um deputado do União Brasil, que preferiu não se identificar, disse à Gazeta do Povo que o nome de Fufuca já é dado como certo nos corredores da Câmara.

União pressionou com adiamento da reforma e deve ficar com ministério do Turismo

O União Brasil também sai ganhando na minirreforma, com a troca tão anunciada da ministra do Turismo Daniela Carvalho por Celso Sabino (União-PA).

Horas antes da aprovação da reforma tributária, o partido chegou a soltar uma nota pedindo o adiamento da votação, mas tudo foi resolvido em seguida com o anúncio da substituição na pasta do Turismo. Um parlamentar do partido disse à Gazeta do Povo, em meio ao burburinho de uma mudança de posição em torno da reforma, que já estava tudo resolvido.

Esporte deve sair das mãos de Ana Moser em mexida nos ministérios após reforma

Outro parlamentar do Centrão, do Republicanos pediu anonimato mas disse à reportagem que tudo está sendo alinhado pelos partidos e deverá ser divulgado ainda nos próximos dias. Segundo ele, a troca no ministério do Esporte, de Ana Moser, também é certa. Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), deverá entrar na cota pessoal de ministérios de Lula. Segundo o parlamentar ouvido pela Gazeta do Povo, é natural essa substituição, já que você já tem esses partidos votando com o governo, e o ministério vai consolidar essa parceria.

A aliança, no entanto, deve se restringir à votação de pautas importantes para o Brasil. Segundo o parlamentar do Republicanos, se o governo tentar contar com apoio para pautas de costumes ou ideológicas não conseguirá ganhar, tendo em vista o perfil de centro e centro direita do atual Congresso.

Ainda de acordo com essa mesma fonte, a substituição do petista Wellington Dias, que recebeu apoio até mesmo da primeira-dama Janja da Silva recentemente, não será “empecilho”. Até porque, segundo o deputado, Dias já teria manifestado vontade de voltar ao Senado, onde tem mandato até 2031.

Caixa Econômica e Embratur também entram na conta de ministérios por apoio à reforma

Além dos ministérios, também estariam na mira dos partidos do centrão a presidência da Caixa Econômica Federal e a Embratur, mas não há nomes definidos. Procurado pela Gazeta do Povo, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), disse que “o Republicanos não indicará nenhum filiado para ministério”.

O debate em torno da antiga prática de “toma lá dá cá” também traz à tona questões sobre a meritocracia e a capacidade técnica dos nomeados. Alguns especialistas argumentam que a indicação de ministros deve ser baseada em critérios de competência e experiência, em vez de simplesmente servir como moeda de troca política.

Barganha por cargos é prática antiga na política

Para o diretor geral do think tank Ranking dos Políticos, Juan Carlos Gonçalves, “o apetite por cargos públicos pode variar dependendo das circunstâncias políticas, negociações e interesses individuais dos partidos e líderes envolvidos”.

Historicamente, segundo o analista, “o Centrão tem sido conhecido por buscar concessões do governo em troca de votos favoráveis em questões cruciais no Congresso Nacional. Essas concessões podem incluir a nomeação de membros dos partidos ou aliados para cargos em ministérios, empresas estatais ou órgãos públicos’.

“No entanto, é importante ressaltar que o apetite por cargos pode mudar ao longo do tempo, dependendo das negociações políticas, da estabilidade do governo e de outras variáveis. A busca por cargos não é exclusiva do Centrão, mas uma prática comum em diversas coalizões políticas ao redor do mundo’, afirma o diretor do Ranking dos Políticos.

Já o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, avalia que a negociação em torno de cargos no governo Lula pode demorar um pouco mais. Segundo ele, é fato que o governo sabe que precisa ampliar a base no Congresso, mas “vai ter que ser bem-negociado, a pasta é estratégica, inclui Bolsa Família, não sei se vai ser nesses termos”, alerta.

“Eu acho que a ampliação de espaço, até em nível ministerial para os partidos do Centrão, vai acontecer. O próprio ministro Alexandre Padilha sinalizou, mas acho que essa semana será de articulação”, completa o analista da Arko Advice.

À medida que as negociações continuam nos bastidores, a sociedade acompanha de perto o desenrolar das trocas ministeriais. A reforma tributária, uma demanda reconhecida como necessária para impulsionar a economia, agora parece estar interligada com os interesses políticos dos partidos do Centrão. Resta saber até que ponto essas demandas serão atendidas e de que forma isso vai se refletir no cenário político e no desenvolvimento do país.

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