Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Crise entre poderes

Comissão do Senado adia análise da revisão da Lei do Impeachment

Senado
Senadores adiaram análise para aprofundar debate com órgãos que serão atingidos pela revisão. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Ouça este conteúdo

O projeto de lei que pretende rever a chamada Lei do Impeachment teve a análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiada durante a sessão desta quarta (10). O adiamento ocorreu horas depois da Câmara dos Deputados aprovar o chamado “PL da Dosimetria”, na madrugada, que reduz as penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A revisão foi proposta após o ministro Gilmar Mendes decidir que apenas a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode entrar com pedido de impeachment de ministros da Corte, e que será analisado pelo plenário virtual do STF entre os dias 12 e 19 de dezembro. A decisão gerou revolta no Congresso.

O relator da proposta no Senado, senador Weverton Rocha (PDT-MA), justificou o pedido de adiamento para ampliar o debate com outros órgãos que podem ser atingidos pela revisão, que vai além de ministros da Corte e engloba outros agentes públicos, como presidente, vice, ministros, membros do Judiciário, militares, gestores estaduais e municipais, etc. Ele propôs um calendário que prevê mais uma audiência pública (já foram três) para aprimorar o texto e rediscutir em uma nova sessão da CCJ após o recesso parlamentar de fim de ano -- ou seja, em 2026.

"Porque a gente sai dessa discussão menor de estar fazendo lei pra discutir liminar dada recentemente [de Gilmar Mendes]. Não é o objetivo da lei e, muito menos, o espírito dela. E, segundo, vamos estar mais maduros e convencidos mesmo de teses que a gente não concordou, mas que foi votada de forma democrática sem o afogadilho de governo A ou B ou de ocasião", pontuou.

VEJA TAMBÉM:

A sessão da CCJ ainda foi marcada por um bate-boca entre o presidente da comissão, Otto Alencar (PSD-BA), e o senador Marcio Bittar (PL-AC), que defendeu os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e criticou que houve uma tentativa de golpe de Estado.

Em seu projeto, Rocha prevê uma “reorganização da legitimidade” de quem pode apresentar o pedido de impeachment, restringindo apenas a entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Procuradoria‑Geral da República (PGR) e partidos políticos com representação no Congresso. Atualmente, qualquer cidadão pode pedir o impedimento de um ministro no Senado – e que continuarão com essa prerrogativa desde que apresentem um abaixo-assinado com apoio de 1% do eleitorado.

Entre os setores que demonstraram preocupação com a proposta, disse Weverton Rocha, estão as Forças Armadas e o Ministério Público em questões como as tipificações de crimes que podem levar a um pedido de impeachment. Ele disse, ainda, ter recebido uma série de outras considerações de senadores da oposição para o projeto, e que precisam de análise e discussão.

Mais recentemente, o senador criticou a decisão de Gilmar Mendes e afirmou que a liminar foi desnecessária, já que a casa estava discutindo essa lei inclusive com a contribuição do ex-ministro do STF e atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

“Não acredito que fosse o caso de dar liminar. Poderiam ter esperado o colegiado. Houve precipitação. O Congresso já estava amadurecendo um projeto de lei coordenado por um ex-ministro do próprio Supremo, Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça”, afirmou Rocha em entrevista ao jornal O Globo publicada na última segunda (8).

A proposta tem apreciação terminativa, ou seja, dispensa a análise no plenário e segue para a Câmara dos Deputados. O projeto foi proposto em 2023 ainda sob a gestão do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado.

VEJA TAMBÉM:

A decisão de Gilmar Mendes foi tomada na ADPF 1.259, proposta pelo Solidariedade, em que o partido pedia revisão das normas do impeachment. O decano do STF reinterpretou dispositivos centrais da lei para ampliar garantias à magistratura, alterando quem pode acionar o Senado e quais condutas podem ser avaliadas.

O ministro argumentou que a legislação atual permitiria a “instrumentalização política” do impeachment, citando experiências internacionais de interferência sobre cortes constitucionais. Para ele, restringir a legitimidade e impor quórum mais elevado seria necessário para evitar pressões indevidas.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.