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Lula, ministro da Secom, Paulo Pimenta, e Marcos Uchôa durante a segunda live presidencial
Lula, ministro da Secom, Paulo Pimenta, e Marcos Uchôa durante a segunda live presidencial| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

Alvo de críticas até por aliados do Palácio do Planalto, a comunicação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido um dos principais gargalos do Executivo nesses primeiros seis meses de mandato. Na reunião ministerial da última quinta-feira (15), o petista voltou a cobrar uma reorganização desse setor. Na nova estratégia, Lula pretende favorecer, por exemplo, a comunicação por meio das rádios.

Durante o encontro com os ministros, Lula defendeu que haja um alinhamento de todas as pastas com a Secretaria de Comunicação (Secom) para evitar divulgações desalinhadas com o Planalto. Além disso, ele frisou que as políticas implantadas sejam “de governo” e não de ministros.

"Vai ter uma discussão sobre a relação dos ministros com a Secom. É importante que a gente saiba. A gente pode fazer divulgação das coisas que a gente faz, com muito mais profissionalismo, se a gente tiver o mínimo de educação de fazer as coisas coletivamente", disse Lula durante a abertura do encontro.

Paralelamente, Lula fez um aceno para o ministro da Secom, Paulo Pimenta, que passou a ser alvo de críticas por sua atuação no governo. "É pra isso que colocamos o Paulo Pimenta, figura simpática, alegre e sorridente, para coordenar a nossa comunicação", completou o petista.

Lives de Lula registraram baixa audiência

Em uma nova estratégia para tentar ampliar o alcance da comunicação do governo federal, a Secom lançou um podcast com Lula para falar sobre as ações da gestão petista. O programa, no entanto, tem atingido baixos índices de audiência.

Nesta segunda-feira (19), por exemplo, a segunda edição do programa "Conversa com o Presidente" registrou pouco mais de 7 mil acessos simultâneos no canal do petista no YouTube. Na edição da semana passada esse número foi ainda menor, com cerca de 5,8 mil visualizações simultâneas. A transmissão, prevista para ocorrer semanalmente às terças-feiras, foi antecipada porque Lula embarca para a viagem à Europa na noite desta segunda.

Os integrantes do governo, no entanto, minimizam a baixa audiência e avaliam que o objetivo do modelo da live não é atingir grandes índices no momento da transmissão, mas sim colocar pautas consideradas positivas pelo governo na agenda da imprensa e das redes sociais.

Apesar do discurso, a Secom pretende liberar o sinal das lives para todas as rádios que mostrarem interesse em retransmiti-la.

A avaliação interna é de que o horário da transmissão, que ocorre por volta das 9h da manhã, beneficia os ouvintes de rádio em todo o país. Ou seja, nos cálculos do governo, a estratégia de transmitir uma agenda positiva da gestão petista pode atingir principalmente o eleitorado do interior do país. A expectativa é de que a disponibilização do sinal ocorra já nas próximas edições.

Outro ponto que a Secom vai investir será nos "cortes" dos melhores momentos do programa como forma de tentar ampliar a repercussão nas redes sociais.

Governo quer apostar em entrevistas para rádios estaduais

Além disso, o Planalto vai investir numa estratégia para que o petista sempre conceda entrevistas para um pool de rádios sempre que for visitar um determinado estado. Nesta semana, por exemplo, Lula falou com rádios de Goiás antes de visitar a cidade de Rio Verde para inaugurar a obra de uma ferrovia na região.

Na ocasião, o petista aproveitou para fazer sinalizações, principalmente para o agronegócio e para o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Foi uma tentativa aproximação de Lula após sucessivas declarações contra o setor. O presidente, inclusive, já chamou empresários do agro de “fascistas e negacionistas”.

O aceno também foi uma forma de tentar aumentar o apoio a Lula na região. No segundo turno da eleição de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu aproximadamente 60% dos votos, ante 38% para o petista.

"Goiás é um estado muito importante no trânsito dos produtos deste país, sobretudo para agricultura e nós vamos fazer de tudo para ajudá-lo, pode ter certeza", disse Lula durante a entrevista.

Comunicação do governo foi criticada por aliados de Lula

As dificuldades de comunicação viraram um dos temas recorrentes das conversas de Lula com parlamentares da base nas últimas semanas. Como a Gazeta do Povo mostrou, Pimenta vinha sendo alvo de "fogo amigo" entre os integrantes do próprio governo por causa de sua atuação no governo Lula.

Recentemente, por exemplo, o chefe da Secom entrou em embate com o deputado André Janones (Avante-MG), que foi um dos principais articuladores da campanha petista. Em entrevista à GloboNews, o deputado mineiro disse que parte da dificuldade de negociação que o governo tem enfrentado no Congresso está relacionado à comunicação.

Janones afirmou que o governo não consegue pautar as discussões nas redes sociais, por exemplo. "Então, na minha opinião, a gente está sendo derrotado na disputa das narrativas. Ao perder a disputa de narrativas, o nosso poder de negociação se fragiliza", disse.

O deputado foi rebatido pelo ministro. Pimenta afirmou que a comunicação do governo deve adotar uma postura menos incisiva do que a do período eleitoral. "Passada a eleição, quem ganha tem que governar para todos. O Lula é o presidente de todos os brasileiros e brasileiras. Para isso, não podemos ter uma comunicação que alimente esse ambiente, que foi um ambiente, de certa forma, que fez com o que o Brasil passasse a conviver com intolerância, ódio, violência", argumentou.

Além desse episódio com Janones, Pimenta virou alvo de críticas internas depois que ele chegou a anunciar que haveria o corte do patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow, maior feira agrícola da América Latina, o que não ocorreu. A crise ganhou repercussão depois que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, desistiu de participar do evento devido ao convite feito ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com integrantes do Planalto, Pimenta anunciou a suposta retirada do patrocínio da instituição sem um alinhamento prévio com os demais setores do Executivo.

Para o ministro, no entanto, os aliados do governo Lula talvez esperassem um novo "gabinete do ódio". "Parte da nossa base talvez tenha imaginado que nós seríamos um gabinete do ódio ao contrário, mas não é esse o papel da Secom", completou em entrevista à GloboNews.

Secom tem usado redes do Planalto para ironizar adversários políticos 

Em outra frente, a Secom tem usado os perfis oficiais do governo para ironizar os principais opositores de Lula. No episódio mais recente, a pasta fez uma postagem que simulava um PowerPoint sobre os 137 dias do mandatário. Era uma referência à cassação do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

No post, a comunicação celebrava feitos da gestão Lula como a queda da inflação e a valorização do salário mínimo, no mesmo modelo de diagramação de uma apresentação realizada pelo então procurador da República, enquanto coordenador da Operação Lava Jato, a promotores em setembro de 2016. Na ocasião, ele acusou o petista de liderar um grupo criminoso de desvio de dinheiro na Petrobras no caso do triplex.

Antes disso, a pasta aproveitou a operação da Polícia Federal que investiga suposta inserção de dados falsos no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro para publicar uma montagem nas redes sociais com uma imagem do Zé Gotinha e a mensagem “vai viajar para o exterior? Regularize suas vacinas”.

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