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Silvinei Vasques
Parlamentares da oposição afirmam que Silvinei Vasques vai prestar esclarecimentos à CPMI se for convocado novamente.| Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A prisão do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, na manhã desta quarta (9) pela Polícia Federal, pode dar um novo rumo aos trabalhos da CPMI que investiga os atos de 8 de janeiro, que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília.

A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), vai pedir a reconvocação do ex-agente que foi o primeiro ouvido pelos parlamentares, no dia 20 de junho. Na época, Vasques negou que tenha ordenado a realização de operações policiais na região Nordeste para interferir no trânsito de eleitores no dia do segundo turno da eleição presidencial de 2022.

Ele afirmou que se criou uma “falsa narrativa” e que houve o menor índice de abstenção na região. No entanto, Eliziane Gama afirma que Vasques teria dito “controvérsias” e “mentiras claras” que foram comprovadas depois nos documentos obtidos após a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático, determinada em julho.

“Tivemos a confirmação e, inclusive, naquele momento encaminhamos uma representação acerca de um ponto fundamental que era o falso testemunho, a mentira. Já decidimos lá atrás o retorno dele a esta comissão. A prisão de hoje é a confirmação daquilo que a gente já havia debatido”, disse em entrevista à GloboNews.

Pouco depois, em uma entrevista coletiva, a senadora disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode vir a ser convocado no futuro para prestar depoimento. No entanto, vai depender do que os documentos apresentados à CPMI vão indicar.

Pelo menos 500 operações rodoviárias teriam sido realizadas no dia 30 de novembro. Ainda no domingo do segundo turno da eleição presidencial, o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão das blitze realizadas pela PRF e exigiu explicações.

Um dia antes, Vasques chegou a fazer uma publicação em uma rede social pedindo votos ao então presidente, mas a apagou pouco depois.

Por outro lado, o deputado federal Evair de Mello (PP-ES), vice-líder da oposição na Câmara, criticou a prisão de Vasques e disse que a operação foi “desproporcional e desnecessária”.

“É mais uma cortina de fumaça para acobertar que todas as verdades possam aparecer do dia 8 de janeiro. O próprio ministro Alexandre de Moraes, quando determina para que não se façam operações policiais no dia do segundo turno, naturalmente ele faz uma intervenção na prerrogativa da polícia e no processo eleitoral”, afirmou.

Segundo Mello, Silvinei Vasques estará à disposição e vai voltar à CPMI se a convocação para um novo depoimento for aprovada pelos parlamentares. “Esse fato eleitoral é usado para que todos os fatos reais possam aparecer aqui que, na verdade, nós já sabemos que as investigações do dia 8 já estão na cozinha do Palácio do Planalto”.

“Há omissão, inclusive, do ministro Flávio Dino [Justiça] em ceder as imagens. A negativa do GSI de trazer as informações mostra que o Palácio do Planalto está envolvido e, agora, tudo o que for feito para acobertar essas verdades naturalmente será feito como essa prisão hoje desnecessária e desproporcional”, completou.

Além de Silvinei Vasques, o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, também já foi ouvido pela CPMI. O depoimento ocorreu nesta terça (8) e ele negou que a PRF tenha feito operações com o intuito de interferir no deslocamento de eleitores.

De acordo com ele, "não houve interferência do Ministério da Justiça no planejamento da PRF e que a informação recebida do diretor-geral era de um planejamento seguro semelhante ao primeiro turno e que foi executado sem alterações. Ninguém deixou de votar e o próprio TSE reconheceu isso. Eu não tinha atribuição de vetar o planejamento operacional de qualquer institucional", disse durante o depoimento.

Eliziane chegou a pedir prisão de Silvinei durante a CPMI

Em um longo depoimento na CPMI no dia 20 de janeiro, Vasques refutou as alegações de que policiais da PRF teriam sido direcionados para dificultar o deslocamento de eleitores durante o dia da votação.

“Grande parte dos nossos policiais eram eleitores do presidente Lula. Não há, não é possível cometer esse crime. Não tem como fazer uma operação dessa e envolver 13 mil policiais sem ter uma simples conversa de corredor”, disse à CPMI.

Vasques enfrenta um inquérito na Justiça do Rio de Janeiro por supostamente pedir votos para Bolsonaro nas eleições passadas, defendeu-se durante o depoimento. Ele enfatizou que nunca utilizou sua posição para beneficiar eleitoralmente o então presidente, destacando que fotos suas com Bolsonaro foram tiradas durante seu tempo livre.

O ex-diretor também buscou eximir Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e seu superior na PRF, de qualquer responsabilidade nas supostas operações direcionadas. Vasques alegou que Torres foi informado sobre operações no Nordeste, mas negou ter recebido instruções específicas para prejudicar eleitores petistas.

Anderson Torres também foi ouvido pela CPMI dos atos de 8 de janeiro, nesta terça (8), e também negou a suposta interferência da PRF no segundo turno das eleições presidenciais de 2022 em estados do Nordeste.

A relatora Eliziane Gama chegou a sugerir a prisão de Vasques, mas o presidente da CPMI não concordou com a medida.

Durante o depoimento, Vasques classificou como "crime impossível" o uso das operações para obstruir o processo eleitoral e negou qualquer interferência no deslocamento de eleitores. Ele atribuiu as operações na região Nordeste à estrutura da PRF naquela área.

Silvinei Vasques foi diretor-geral da PRF entre abril de 2021 e dezembro de 2022, quando foi exonerado por Bolsonaro em meio às investigações por improbidade administrativa.

Ele foi acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de fazer uso indevido do cargo durante as eleições. De acordo com o órgão, ele teria feito manifestações públicas em favor de Bolsonaro entre agosto e outubro do ano passado com teor político-partidário. O MPF afirmou que ficou configurada  a prática dolosa de improbidade administrativa e pediu o afastamento de Vasques.

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