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Senador Sergio Moro e deputada Rosângela Moro estavam entre os alvos do PCC
Senador Sergio Moro e deputada Rosângela Moro estavam entre os alvos do PCC| Foto: EFE/André Borges

As investigações da Operação Sequaz, que desarticulou um plano para matar ou sequestrar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), mostraram que criminosos do PCC rondaram a casa dele em Curitiba por ao menos uma semana, no fim do ano passado.

A Polícia Federal rastreou os sinais do celular de um dos homens envolvidos no crime, chamado Claudinei Gomes Carias, também conhecido por Nei, perto da casa do ex-juiz, entre os dias 24 de novembro e 1º de dezembro. Segundo a PF, o monitoramento de Moro pelo PCC começou bem antes, em setembro, durante a campanha eleitoral.

O rastreamento do celular dele foi feito por meio de registros de antenas receptoras de sinal. Foi provado que o celular do suspeito esteve muito próximo de locais frequentados por Moro e sua família por um período continuado de tempo. Ele provavelmente vigiava o senador e seus familiares.

Perto da residência de Moro, há um clube onde o senador votou nas eleições de outubro, que também foi visitado pelos criminosos em setembro. A poucos quilômetros, está localizado o escritório de advocacia da deputada federal Rosângela Moro (União Brasil - SP), mulher dele, local por onde os integrantes do grupo também passaram.

 Sinais de celular de um dos integrantes do PCC que rondou casa de Sergio Moro, conforme o rastreamento da PF
Sinais de celular de um dos integrantes do PCC que rondou casa de Sergio Moro, conforme o rastreamento da PF

Esses detalhes estão no pedido da PF para prender 11 integrantes do PCC envolvidos no plano. Claudinei, segundo os investigadores, seria diretamente ligado ao principal encarregado de executar o atentado contra Moro, Janeferson Aparecido Mariano Gomes, também conhecido como Nefo. Ele é descrito como chefe da “Restrita o5”, grupo dentro do PCC responsável por matar autoridades e ex-membros da facção.

A investigação começou em fevereiro, com o depoimento de um ex-membro do PCC que estava jurado de morte. Ele procurou o Ministério Público de São Paulo, que há tempos investiga a organização e contou que havia um plano de atentado contra Moro. Denunciou depois quatro linhas de celular de pessoas que seriam ligadas a Nefo.

Foi a partir desses celulares que a PF desvendou detalhes e envolvidos no plano para matar ou sequestrar Moro e sua família. Os aparelhos foram devassados mediante autorização judicial e neles foram encontradas mensagens, áudios, fotos, anotações que revelaram como poderia ser realizado o atentado.

Um dos celulares era utilizado por Aline Ardnt Ferri, descrita como uma das companheiras de Nefo, e que era responsável por compilar informações da família de Moro. Dentro do aparelho dela havia foto de uma folha de caderno com anotações, dados pessoais de Moro, endereços, nome do casal de filhos, seus telefones e e-mail, além de detalhes de sua declaração de bens.

No celular de outra companheira de Nefo, Aline Paixão, a PF identificou mensagens em que ele usa códigos como “Tokio”, para se referir a Moro; “Flamengo”, para se referir a sequestro; “Fluminense”, para se referir a “ação”, indicação possível de assassinato, segundo os investigadores; e “México”, que designaria “MS”, o estado do Mato Grosso do Sul. Em outro arquivo do celular de Aline, havia anotações que indicariam, segundo a PF, gastos para o eventual sequestro de Moro. Haveria despesas com fuzil, aluguéis, viagens, carros e motorista.

Em outro celular investigado, possivelmente do próprio Nefo, foi encontrada foto de uma folha de papel com manuscritos de registros de despesas com “apartamento, viagem, alimentação, combustível, aluguel de chácara, móveis para casa, veículos (Hilux), pedreiro para cofre (esconderijo para armas), ajudas irmão, tempo aproximado e telefone para o trabalho”. No topo da página, o nome da cidade de Curitiba.

Numa mensagem, há o relato detalhado de um reconhecimento de local em Curitiba, um colégio eleitoral, que seria usado para votação na eleição de 2022, com descrição dos acessos, câmeras existentes no local, segurança e rota de acesso – era a seção eleitoral onde Moro votou no ano passado.

Celular investigado tinha conta com e-mail “lulalivre”

A PF conseguiu devassar os celulares a partir de contas de e-mail registrados em suas respectivas linhas telefônicas. Um dos e-mails tinha endereço “lulalivre1063@icloud.com”. “Lula Livre” era também nome e sobrenome registrados no aparelho da linha. A PF, no entanto, não destacou nada de relevante para a investigação nessa conta.

Na decisão, a juíza federal Gabriela Hardt, que supervisiona a investigação, inicialmente afirmou que “as contas de e-mail vinculadas aos IMEIs dos aparelhos possui [sic] nomes variados, corroborando a citada prática de utilização de cadastro em nome de terceiros para se esquivar de investigações policiais que levem a qualificação dos criminosos”. Em outras palavras, diz que não necessariamente alguns dos e-mails eram de usuários ligados a Nefo. Porém, a conexão do codinome com um membro do PCC não é descartada.

Operação Sequaz

A Operação Sequaz, que prendeu 9 pessoas nesta quarta (22) envolvidas no plano contra Moro, foi executada por 120 policiais em Rondônia, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Outro alvo dos criminosos era o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há muitos anos. A ideia inicial era resgatar o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola.

Em 2018, Gakiya pediu a retirada de Marcola de um presídio estadual de São Paulo. Em 2019, como ministro da Justiça, Moro preparou a logística para transferi-lo para a penitenciária federal de Brasília. Meses depois, ele foi enviado para o presídio federal de Rondônia e, no início deste ano, voltou para a prisão de segurança máxima de Brasília.

A reportagem não conseguiu localizar os advogados dos suspeitos.

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