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Lula - PT - prêmio Nobel
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)| Foto: André Borges/EFE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se dedicado, desde que assumiu o terceiro mandato, a melhorar sua imagem internacional. Já propôs a criação de um "clube da paz" para intermediar a guerra na Ucrânia – que fracassou – e tem tentado se colocar como um líder global da preservação ambiental e dos países em desenvolvimento. Mas a insistência nessas agendas, que ganham muitas vezes mais destaque do que assuntos nacionais devido às constantes viagens do presidente, também sugere que Lula pode estar de olho em um prêmio Nobel da Paz.

O PT e o atual assessor de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, já defenderam, alguns anos atrás, que o petista seja indicado e laureado, por "retirar quase 30 milhões de brasileiros" da pobreza. Agora, em fóruns internacionais, Lula foca em temas que são apreciados pela premiação.

"Os pilares do meio ambiente, o combate à desigualdade e a luta por reformas às lideranças globais são, basicamente, os pilares do Prêmio Nobel da Paz", pontua o cientista político Marcelo Suano, diretor de Projetos do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais. “Ora, para se ganhar um prêmio Nobel da Paz você tem que defender os direitos humanos, defender a democracia e defender o meio ambiente. Lula tem apostado em sua imagem”, complementa.

Apostas de Lula vão ao encontro dos homenageados passados do Nobel

A primeira aposta de Lula em seu terceiro mandato foi a criação de um “clube da paz” para intermediar o conflito entre Rússia e Ucrânia. O movimento pode ser entendido como uma inspiração no trabalho realizado por Abiy Ahmed Ali na Etiópia, vencedor do Nobel da Paz em 2019 – ano em que houve uma campanha da esquerda para a indicação de Lula ao prêmio.

Sem qualquer dominância ou relevância geopolítica para o tema, contudo, o petista passou a dizer mentiras em relação ao conflito na Ucrânia, sempre tentando melhorar a imagem da Rússia. Apesar disso, algumas declarações de Lula, como quando equiparou as responsabilidades dos governos russo e ucraniano pela guerra, renderam críticas dos Estados Unidos, de países da Europa e do próprio Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, ao petista.

Em mais de 18 meses de conflito e com quase 200 mil mortos, o mandatário brasileiro tentou reforçar um discurso de que o conflito deveria ser resolvido com o “diálogo”. Tal estratégia não rendeu qualquer resultado positivo.

Após o plano fracassar, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que Lula não propôs o chamado "clube da paz", agremiação de países que intermediariam um acordo entre a Rússia e a Ucrânia para colocar fim ao conflito. A declaração do chanceler ocorreu após a reunião de Lula com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Nova York, em 20 de setembro.

Sem sucesso em pacificar a guerra entre Rússia e Ucrânia, Lula tem mirado em pautas ambientais. O diplomata, ex-embaixador do Brasil em Washington e ex-ministro do Meio Ambiente, Rubens Ricupero, disse que Lula, se deseja conquistar a premiação, deveria "apostar no meio ambiente". "Goste ou não, para o mundo o Brasil é a Amazônia. Eu até acho, pessoalmente, que, se ele quer ter o Nobel da Paz, ele devia apostar tudo no meio ambiente", disse ao Estadão.

Lula e o Nobel da Paz

Criado em 1895 por Alfred Nobel, o Prêmio Nobel foi criado com o objetivo de reconhecer pessoas ou instituições que realizaram pesquisas, descobertas ou fizeram notáveis contribuições à humanidade no ano anterior ou no atual em que foi nomeado. O vencedor ganha uma medalha, um certificado e também uma quantia em dinheiro.

A base governista do petista especula que ele tenha sido um dos indicados a receber a premiação em 2019 devido aos seus esforços de combate à fome. Contudo, não se sabe se o petista foi realmente considerado para o prêmio porque os nomes das pessoas indicadas só são divulgados 50 anos depois, devido à regra de sigilo da premiação.

Os boatos tiveram início depois que Adolfo Pérez Esquivel, arquiteto argentino e ativista dos direitos humanos, que ganhou um Nobel da Paz em 1980, disse que indicaria Lula para a premiação. Um nobelista, Esquivel teria peso para fazer indicações aos membros da Comitê Norueguês do Nobel — esses que, de fato, escolhem quem é agraciado com a premiação.

Na mesma época, o assessor de assuntos especiais de Lula, Celso Amorim, e o próprio PT passaram a corroborar com a campanha do petista pelo prêmio. A legenda ainda promoveu um abaixo-assinado com o intuito de impulsionar o nome do presidente pelo Nobel da Paz.

Como se sabe, Lula não foi laureado, mas viu figuras políticas ganharem um Nobel da Paz recentemente. Isso, de acordo com analistas políticos, pode ter motivado a ambição do mandatário brasileiro em conquistar tal reconhecimento.

Em 2019, ano em que Adolfo Pérez Esquivel disse ter indicado Lula, quem ganhou o Nobel da Paz foi o primeiro-ministro da Etiópia Abiy Ahmed Ali. O político foi laureado com o prêmio por ter sido uma das figuras determinantes para colocar fim no conflito territorial de duas décadas entre Etiópia e Eritreia.

Localizados no nordeste africano, os dois países dividem uma extensa fronteira e, em 20 anos de guerra, aproximadamente 80 mil pessoas morreram. À frente do país, Ali negociou um acordo de paz com o governo da Eritreia e o conflito chegou ao fim. O Comitê justificou que Abiy "procurou promover a reconciliação, a solidariedade e a justiça social" e por isso merecia o Nobel da Paz.

Em 2016, o Nobel da Paz foi concedido ao ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos, e, em 2009, ao ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

Ainda que a premiação de Obama seja contestada pela "extrema precipitação" – afinal, foi concedida a ele no primeiro ano de mandato dele – e tenha colocado a credibilidade do Nobel em risco, Suano pontua que é preciso investir em ações e não em "marketing de imagem pessoal" para ser reconhecido pelo prêmio.

"[Para ganhar um Nobel da Paz,] você tem que ter elementos concretos, mas ele [Lula] está apostando mais em sua imagem. Ele está apostando nessas pautas exatamente para fazer um programa de marketing pessoal, mais do que com o intuito de buscar eficácia em seus discursos", opina o cientista político.

Lula mira em meio ambiente para angariar destaque internacional

Após a tentativa frustrada de mediar o fim da guerra, Lula voltou seus esforços para as discussões ambientais. Como algumas figuras já foram premiadas com o Nobel após se destacarem no cenário do ativismo ambiental, o presidente tem apostado na "menina dos olhos para o Brasil".

Como já apontou Ricupero à Gazeta do Povo anteriormente, Lula tem tentando fazer do Brasil uma vitrine do meio ambiente. Na extensa agenda internacional que trabalhada ao longo deste ano, o mandatário brasileiro tem apostado em discursos que chamam atenção para a mudança climática, transição energética e a proteção ambiental. Mas, além disso, o petista tem convidado os mais diversos líderes para a COP-30, que deseja trazer para o Brasil em 2025.

O presidente também promoveu, neste ano, a Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), onde reuniu os oito países amazônicos. A intenção, de acordo com Lula, era voltar o protagonismo da região ao Brasil e às demais nações que dividem o bioma.

A Cúpula realizada no Pará, porém, não surtiu o efeito desejado por Lula. Nem mesmo os países que compõem a região conseguiram chegar a um consenso sobre assuntos delicados para proteção e preservação amazônica. No evento, o brasileiro demonstrou que os seus discursos, nem sempre, estão alinhados às práticas.

O presidente apresentou contradições, por exemplo, ao apoiar a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas e o acordo de zerar o desmatamento no bioma até 2030. O tema tem gerado críticas em sua base governista e também entre aliados.

"Isso é contraditório a toda imagem que ele quer passar, assim como ele ter proposto um empréstimo para exploração de gás natural na região de Vaca Muerta, na Argentina, pelo sistema de fracking, que é o mais poluente de todos", salienta Suano à Gazeta do Povo.

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