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A oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou uma nova ofensiva política nas redes sociais após a divulgação da carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responsabilizando a “injustiça contra Bolsonaro” como uma das causas para a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros. Deputados, senadores e líderes conservadores reagiram imediatamente com uma campanha no X, antigo Twitter, impulsionada pelas frases “Defenda o Brasil do PT” e “A culpa é do Lula”.
A campanha ocorre em resposta à mobilização de parlamentares da esquerda, que tentam emplacar uma mobilização com o lema "Defenda o Brasil", em razão dos impactos econômicos que a taxação de Trump pode ocasionar ao país. A mensagem que o PT pretende passar é a de que cabe a todo brasileiro defender o país e descobrir quem seriam os “falsos patriotas”. Para a esquerda, seriam aqueles que concordam com as medidas de Trump. O símbolo da campanha, de acordo com integrantes do partido, é a defesa da bandeira brasileira.
"O plano deles era levantar a frase DEFENDA O BRASIL. Mas conseguimos anular essa ação preventivamente com nossa denúncia e levantamos a frase DEFENDA O BRASIL DO PT", declarou o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) na rede social X.
O movimento contra a estratégia petista foi endossado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que divulgou nota oficial afirmando que recebeu "com responsabilidade" a medida de Trump. “Isso jamais teria acontecido sob o meu governo”, afirmou. Segundo Bolsonaro, o Brasil se afastou dos valores que sustentaram sua relação com o “mundo livre” e, agora, colhe as consequências de escolhas ideológicas.
“Essa caça às bruxas – termo usado pelo próprio presidente Trump – não é apenas contra mim. É contra milhões de brasileiros que lutam por liberdade e se recusam a viver sob a sombra do autoritarismo”, declarou o ex-mandatário.
Bolsonaro ainda reforçou que "o Brasil caminha rapidamente para o isolamento e a vergonha internacional". "A escalada de abusos, censura e perseguição política precisam parar. O alerta foi dado, e não há mais espaço para omissões".
Parlamentares de direita reforçaram a narrativa nas redes. A deputada Caroline de Toni (PL-SC) criticou a resposta do governo brasileiro às tarifas - a gestão petista tenta apresentar a narrativa de que a taxação foi motivada por vingança política.
“O ódio doentio a Bolsonaro e à direita são maiores do que a responsabilidade que ele carrega enquanto Presidente da República. A resposta dada pelo governo brasileiro é sentença de uma crise diplomática e econômica sem precedentes”, disse a parlamentar.
No Senado, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ironizou a condução da política externa e sugeriu que o pai resolveria a questão com os EUA. “Se Lula não tem capacidade, poderia pedir ao Alexandre de Moraes para devolver o passaporte pro Bolsonaro que ele vai pra lá e resolve”, publicou.
O senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição na Casa, também responsabilizou Lula pela escalada: “Temos que lembrar que há poucos meses a tarifa do Brasil era uma das menores, de 10%. Mas o petismo não se aguenta e tanto Lula quanto [Haddad] se declaram favoráveis à desdolarização em transações do Brics. A culpa é de Lula!”, afirmou.
Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), informou que busca "soluções efetivas" para a taxação dos EUA. "É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa", escreveu na rede X, após participar de uma reunião com um encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, em Brasília.
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Ernesto Araújo fala em hipocrisia da esquerda
Ex-chanceler no governo Bolsonaro, Ernesto Araújo acusou setores da esquerda e do empresariado de adotarem dois pesos e duas medidas ao lidar com potências internacionais.
"A cada tentativa chinesa de determinar os rumos do Brasil, que nós repelíamos, a esquerda, o centrão, a mídia, parlamentares do agro, alto empresariado e agentes do sistema dentro do próprio governo exigiam que nos curvássemos até o chão e beijássemos os pés da China para evitar restrições comerciais. Nunca me curvei", disse.
Na visão de Araújo, a influência chinesa "fortalece as elites corruptas", enquanto a influência americana, especialmente com Trump, ameaça esse sistema e por isso é combatida. "A influência chinesa reforça o poder das elites políticas corruptas que mandam no país, e por isso será sempre por elas muito bem vinda. A influência americana - principalmente com Trump - tende a enfraquecer esse esquema corrupto e por isso é combatida", argumentou.
O ex-chanceler Ernesto Araújo representa o outro lado da moeda de Celso Amorim, atual assessor internacional do presidente Lula. Enquanto Amorim simboliza a diplomacia tradicional da esquerda latino-americana, alinhada ao multilateralismo e aos Brics, Araújo se notabilizou por uma política externa de enfrentamento ao globalismo e alinhamento direto com o governo Trump.
No entanto, após desgastes com a China - maior parceiro comercial do Brasil - e outros nações com relações comerciais, Bolsonaro decidiu substituir Araújo por Carlos França, um diplomata de carreira, com tom técnico e pragmático no Itamaraty.
Já no governo Lula, não há até o momento sinais de mudança. Mesmo diante da crise com os Estados Unidos, o Planalto mantém o mesmo núcleo de condução internacional, sem acenos a qualquer ajuste estratégico.
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Malafaia e Girão reforçam críticas à crise com Trump
O pastor Silas Malafaia também afirmou que a carta de Trump ao Brasil é uma denúncia clara contra o STF e contra o que chamou de “censura ilegal” no país. “A denúncia de Trump é gravíssima. Lula e o STF têm 21 dias para resolver. Não adianta vir com discurso nacionalista para enganar o povo”, afirmou. “Liberdade para os EUA é inegociável”, completou.
O senador Eduardo Girão (Novo-CE) também responsabilizou o atual governo pela deterioração das relações internacionais e pelas possíveis consequências econômicas da decisão de Donald Trump. Em entrevista à TV Senado, ele afirmou que o Brasil vive uma crise “não apenas econômica e social, mas sobretudo de ordem moral”.
“Nosso país vive uma permanente crise política, social, econômica, mas, sobretudo, de ordem moral desde o início desse governo perdulário do Lula, que está alinhado – política e ideologicamente – até a medula com o STF ativista, que hoje é quem manda e desmanda no Brasil”, afirmou o senador.
Girão também fez um apelo por união política para restaurar a estabilidade institucional: “A hora é de união e diálogo entre os diversos grupos políticos com o objetivo de consertar a tragédia anunciada a partir de desmandos e desrespeito à Constituição, que nos levaram a essa situação dramática.”
Oposição aposta na mobilização digital contra Lula já pensando em 2026
A campanha com o slogan “Defenda o Brasil do PT” e as postagens com críticas diretas ao STF, ao Itamaraty e à suposta perseguição à direita alcançaram alta repercussão nas redes. A oposição aposta que o desgaste externo pode alimentar uma percepção de instabilidade e autoritarismo no governo — e servir de base para 2026.
"Se um deputado federal licenciado realmente tiver mais força junto ao governo americano do que toda a diplomacia brasileira em Brasília e em Washington, como alegam os petistas, mais um motivo para afirmar categoricamente: A CULPA É DO LULA!", declarou o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS).
Enquanto isso, o governo tenta conter os danos e evitar uma escalada diplomática. A oposição, por outro lado, já transformou a crise em ativo político — e não pretende recuar.
O Partido Liberal também reforçou a mobilização "defenda o Brasil do PT": "De 100% dos problemas do Brasil, 99% vêm do PT. O 1% restante? Foi provocado por ele. Ficha de corrupção, manipulação, censura, autoritarismo, fracasso econômico e taxação... eles têm!", afirmou a legenda nas redes sociais.
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