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CPI da Covid Maximiano
CPI da Covid vai interrogar o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, nesta quinta-feira (1º)| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

O depoimento do empresário Francisco Maximiano, proprietário da Precisa Medicamentos, previsto para ocorrer nesta quinta-feira (1º) na CPI da Covid do Senado, é esperado tanto pelos senadores que apoiam quanto pelos que fazem oposição ao governo Jair Bolsonaro. Os dois grupos entendem que poderão explorar a fala de Maximiano para a defesa de suas bandeiras na CPI.

Do lado da oposição, a ideia é explorar a recente denúncia de que a Precisa seria a beneficiária de um esquema de corrupção implantado no Ministério da Saúde. A informação foi tornada pública na semana passada, com o depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, o servidor Luís Ricardo Miranda, que atua no próprio ministério. Segundo eles, a Precisa — que é a intermediária da Bharat Biotech, empresa indiana que fabrica a vacina Covaxin — contaria com vantagens dentro da pasta que não foram fornecidas a nenhuma outra produtora de imunizantes.

"Essa empresa é uma 'queridinha' do governo Bolsonaro. Entrou nesse processo de intermediação da aquisição das vacinas indianas, mas foi indicada para isso pelo governo. Com toda certeza, ali existem ações de corrupção que foram barradas pelo servidor do Ministério da Saúde [Luís Ricardo] e agora o governo, sem ter como se explicar, inventou algumas desculpas esfarrapadas e mandou suspender o contato", declarou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Já por parte dos apoiadores de Bolsonaro, a tática será a de falar sobre denúncias que envolvem a Precisa e governos de outras unidades da federação. O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que não se apresenta como governista, mas já foi vice-líder de Bolsonaro no Senado, relembrou que a Precisa tem conexão com o escândalo da Falso Negativo, uma operação policial deflagrada em Brasília que apurou desvios e superfaturamentos na compra de produtos para o combate à pandemia por parte do governo local.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) disse que a Precisa "tem problemas que não são de hoje". "Tem prolema de muito tempo com o governo brasileiro, com o GDF [Governo do Distrito Federal], e como é que essa empresa participa de alguma forma ainda, com todos esses problemas, de não entregar o que foi prometido, de processos?", questionou.

Líder do DEM no Senado e defensor do governo na CPI, o senador Marcos Rogério (RO) disse considerar "natural" a presença de Maximiano, para falar em nome da Precisa. "A CPI ouviu os irmãos Miranda, vai ouvir a empresa, e os outros citados também devem ser ouvidos e que se busque a verdade", declarou. O senador contestou, porém, o que chamou de "seletividade" da CPI: segundo ele, o grupo que comanda a comissão, formado majoritariamente por parlamentares oposicionistas e independentes, não quis falar sobre corrupção até que o tema chegasse ao governo federal.

Os parlamentares bolsonaristas que integram a CPI defendem que a comissão avance na investigação sobre denúncias de corrupção em estados e municípios. Na avaliação dos parlamentares, os principais problemas que o Brasil enfrenta em virtude da pandemia são resultado justamente destes desvios. Para eles, o governo Bolsonaro municiou estados e municípios com verbas, e os prefeitos e governadores foram corruptos ou incompetentes no ato de administrar esses montantes.

Girão voltou a cobrar que a CPI chame responsáveis pelo Consórcio Nordeste, grupo que integra os nove governadores da região. O senador pede a apuração de uma transação feita pelo consórcio para a compra de respiradores — que, segundo ele, teve pagamentos antecipados e não registrou a entrega dos produtos.

O depoimento de Maximiano é aguardado também pelo fato de ser a segunda ocasião em que a comissão tentará ouvir o executivo. Inicialmente, a oitiva com ele estava prevista para o dia 23. O adiamento foi pedido pela defesa do empresário um dia antes, sob a alegação de que ele precisava cumprir quarentena, já que havia estado na Índia dias antes.

O fato de ele ter informado sobre a quarentena apenas às vésperas do depoimento foi criticado pelos senadores da comissão. "Ele começou muito mal", disse na ocasião o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é o vice-presidente da CPI.

Sessão da CPI com Wizard termina em silêncio

Na sessão desta quarta (30), a CPI recebeu o empresário Carlos Wizard Martins e o viu permanecer em silêncio durante quase todo o período da reunião. O empresário fez um pronunciamento inicial e depois anunciou que utilizaria o direito de ficar calado, que foi concedido a ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ele teve que ficar fisicamente na sala da CPI durante todo o depoimento e ouvir as perguntas dos senadores, mas não as respondeu. Ele não chegou nem a rebater questionamentos simples, como quando perguntado sobre sua religião e se já havia se vacinado contra a Covid-19.

Wizard só quebrou o silêncio em uma breve ocasião, quando respondeu que permaneceu filiado ao PSDB por apenas 15 dias. Ele integrou o partido no ano passado, quando havia a possibilidade de que se candidatasse à prefeitura de Campinas (SP). O projeto não vingou e Wizard deixou a sigla, posteriormente se aproximando do bolsonarismo, que atualmente vê o PSDB como um dos principais adversários.

O silêncio de Wizard na CPI foi criticado não apenas por parlamentares que se opõem ao governo Bolsonaro, mas também por alguns de maior afinidade com o Palácio do Planalto. Soraya Thronicke (PSL-MS) declarou que "o silêncio diz muito" e que Wizard poderia ter explicado suas reais conexões com o governo.

Na fala inicial, o empresário disse desconhecer a existência de um "gabinete paralelo" para auxiliar Bolsonaro nas questões ligadas à pandemia de Covid-19. Já Eduardo Girão chamou Wizard de "missionário" e "humanista", mas declarou que se sentiu frustrado com a ausência de respostas.

O senador Humberto Costa afirmou que vê como grandes as possibilidades de que Wizard esteja entre os indiciados no relatório final da CPI. E o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), disse que recorrerá ao STF contra a decisão que deu ao empresário o direito ao silêncio.

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