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O ex-presidente Lula
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

A Gazeta do Povo lançou o e-book Dossiê 2022, para que os nossos leitores tenham à mão todas as informações necessárias para acompanhar o xadrez político das próximas eleições presidenciais. A partir de perguntas formuladas por jornalistas, especialistas das mais diversas áreas dizem quais são fatores que vão influenciar o voto do brasileiro e como eles acreditam que serão as eleições. Este conteúdo é uma parte do e-book, que você pode baixar gratuitamente, na íntegra, ao fim do texto.

Qual o caminho que esquerda está trilhando para as eleições em 2022? Qual deve ser o principal nome da esquerda?  

GUSTAVO MAULTASCH, diplomata de carreira desde 2008, tendo atuado em uma série de projetos de modernização tecnológica e administrativa. É mestre em diplomacia pelo Instituto Rio Branco e doutorando em Administração Pública pela Universidade de Illinois-Chicago. Foi Network Fellow (2013-2014) do Centro de Ética da Universidade de Harvard. Em 2017, foi vencedor do Concurso de Artigos da V Conferência de Escola Austríaca, com o artigo "Liberalismo e bem-estar geral: um diálogo com a esquerda". 

Um dos principais problemas da esquerda brasileira é a ausência de soluções para os antigos e conhecidos problemas da população brasileira. Com a redução do emprego de massa na indústria, o trabalhismo enfraqueceu-se, e a esquerda migrou para a defesa de grupos e sindicatos privilegiados (como os de funcionários públicos) e para a promoção das chamadas pautas identitárias. Nenhuma dessas coisas encontra apoio nas classes populares, em nome das quais a esquerda diz militar.

Em temas importantes para sociedade – como combate ao crime, saneamento básico, qualidade da saúde e da educação, e aceitação do livre-mercado como processo gerador de riqueza –, a esquerda não tem nenhuma solução nova para nada. Afora em algumas alas do PSDB, Cidadania e Rede, não se encontra no Brasil uma esquerda social-democrata de fato, que não romantize ditaduras de esquerda e que busque implementar políticas sociais protegendo a geração de riqueza do livre-mercado; ou seja, uma esquerda sem o tradicional ranço paleomarxista. E o PT, principal partido de esquerda e que poderia liderar essa modernização, não tem nenhum incentivo para mudar, pois sabe que, na hora H, a esquerda fecha com a esquerda mesmo; o PT sabe que não precisa renegociar o seu protagonismo na esquerda.

MURILO HIDALGO, diretor-presidente do instituto Paraná Pesquisas, dedica-se há 30 anos ao estudo e elaboração de pesquisas de opinião pública. É economista com pós-graduação em marketing e ex-professor universitário. 

Com essa decisão do STF, que no momento libera a candidatura do ex-presidente Lula, muda tudo na esquerda. Não tenho dúvida de que o Lula passa a ser o principal nome desse campo. O grande derrotado é o Ciro Gomes. Acho que se o Lula for candidato, o Guilherme Boulos não será. Também não descarto, e vejo até como provável, que o Lula não seja candidato e que se ocupe de montar uma frente de partidos para 2022. Que se organizaria em torno dele, obviamente, e que ele ocupasse de conduzir esse candidato à vitória. O Lula enfrenta alguns componentes como a idade. E é preciso saber se ele vai querer investir todo seu prestígio, que ficou mais forte neste momento. Ele tinha um prestígio de opinião pública quando saiu do cargo como um dos mais bem avaliados presidentes da história. Agora esse prestígio está sendo retomado porque ele está se colocando como uma vítima de um grande processo de fundo eleitoral. Por tudo isso, não descarto que ele até aparecer como candidato agora, mas desistir mais para frente.

ALEXANDRE BORGES, analista, palestrante, consultor, podcaster e colunista sobre política nacional e internacional da Gazeta do Povo. Foi titular do programa "3 em 1" da Jovem Pan FM, líder de audiência no segmento. 

A entrada de Lula muda as peças do tabuleiro e ele evidentemente rouba a cena. Seu principal trunfo, além da "ficha limpa" dada pelo STF, é sua oratória, sua leitura acurada do momento político e capacidade de persuasão de parte do eleitorado. É o primeiro candidato que realmente ameaça a reeleição de Bolsonaro. Não custa lembrar que, quando foi preso em abril de 2018, liderava as pesquisas com folga.

PAULO LOIOLA, administrador, sócio-fundador da Baselab, mestre em políticas públicas pela FGV, com MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela UFRJ e em Gestão Energética pela FGV. Tem passagens pela Petrobras, onde atuou na área de Responsabilidade Social e Planejamento Estratégico. Também tem passagens pelas prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro, tornando-se sócio da consultoria em Gestão Pública Humana Sustentável. 

A esquerda está trilhando um caminho parecido com o de 2018 e ainda há uma grande distância até 2022, porém, o que pode ser analisado até aqui é que o PT terá uma candidatura própria, muito provavelmente do ex-presidente Lula, que além de importante para manter seu papel ativo na câmara, dado o tamanho político de Lula e por seu tamanho como maior estrutura da esquerda ainda hoje no país mudou o jogo político. Ciro parece isolado no momento e será obrigado a acelerar uma caminhada para o centro e buscar nova estratégia com o retorno de Lula.

O PSB que vinha apresentando uma tendência a negociar seu apoio a uma candidatura mais ao centro poderá agregar no projeto do PT, assim como o PCdoB. Boulos foi uma surpresa em 2020, mas dificilmente terá capacidade de angariar mais de 5% dos votos e sua presença no palanque de Lula demonstrou algum nível de unidade entre PSOL e PT. Resumidamente, o cenário de uma frente ampla muda bastante com Lula, que poderá angariar apoios ao centro como apontou em seu discurso. Aqui é importante ressaltar que mesmo eleitores que estão hoje decepcionados com Bolsonaro tenderiam a um voto no atual presidente em eventual segundo turno contra a esquerda, em um cenário onde a esquerda parece mais uma vez muito dependente do PT.

GUILHERME MACALOSSI, jornalista, apresentador, redator e radialista. Apresenta o programa "Confronto", na Rádio Sonora FM, e o programa "Cruzando as Conversas", veiculado pela RDC TV, emissora de TV a cabo no Rio Grande do Sul. Trabalhou na agência Critério - Resultado em Opinião Pública, e já escreveu artigos para o site do Instituto Liberal. Na Gazeta Povo, produziu o programa "Imprensa Livre" e também mini documentários sobre temas variados publicados ao longo de 2019. 

A esquerda brasileira entrou em transe e perdeu o protagonismo a partir da vitória de Bolsonaro. Isso aconteceu por diversos fatores, como o enfraquecimento do PT como polo centralizador da esquerda ficou muito claro principalmente nas eleições de 2020. O partido já vinha encolhendo em eleições anteriores, mas nessa última a derrocada foi ainda maior: o PT não ficou com nenhuma das capitais. De modo que a votação expressiva de Haddad no 2º turno em 2018 também contou com o voto antibolsonarista, já presente naquele momento. As coisas mudaram de figura a partir do momento que o ministro do STF Edson Fachin declarou a incompetência da 13.ª Vara Federal de Curitiba, fazendo com que Lula readquirisse plenos direitos políticos. O ex-presidente voltou a se tornar uma alternativa. E viável, visto o “recall” que ostenta.

Existe uma diferença entre o petismo e o ex-presidente. Lula sempre foi maior que o PT. A rejeição ao partido não se confunde com o político. Lula é uma outra figura. Uma outra entidade que deve ser analisada em particular. Apesar de sabermos que as bases da crise econômica no segundo mandato de Dilma terem sido semeadas lá no governo Lula, a população em geral não o identifica como responsável. Por isso, ele está resguardado. A lembrança que parte da população tem em relação a Lula é dos tempos de bonança.

Lula tem capacidade de dialogar com o cidadão comum e com a classe política. A partir do momento em que readquire a capacidade eleitoral, assume um protagonismo na esquerda que até então estava dividida em três nomes: Haddad, que é agora é carta fora de baralho, pois nunca foi mais que um poste do ex-presidente; Ciro Gomes, que me parece que está atordoado e não deve ter gostado da decisão de Fachin, já que perde espaço; e Guilherme Boulos, que estava disputando a hegemonia da esquerda e que havia capitalizado nas eleições municipais em 2020.

Bolsonaro agora tem um adversário à esquerda devidamente estabelecido, o Lula, que tem uma presença muito maior dos outros três nomes. Isso significa que o ex-presidente será candidato? Não, pois a decisão de Fachin ainda vai ser apreciada em plenário, apesar de ter poucas chances de ser revertida. De qualquer maneira, a força de Lula é muito grande. Ele basicamente embaralhou as cartas que estavam colocadas na mesa e diminuiu ainda mais o espaço no centro -político, que ainda não tem um nome e que está perdido no tiroteio entre o ex-presidente e o atual presidente.

A esquerda antes estava desnorteada, em transe, e agora se reavivou em torno do Lula. Entretanto, mesmo neste grupo político, ainda é necessário entender como vão ficar outros nomes, principalmente Ciro e Boulos. Ciro parece tentar se desvincular do petismo. E o Boulos ficou em silêncio. O xadrez político tende a gravitar em torno de Lula e o destino dele continua sendo o destino da esquerda brasileira.

FLAVIO GORDON, doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ) e autor do best-seller A Corrupção da Inteligência: intelectuais e poder no Brasil (Record, 2017). 

No Brasil, a esquerda ocupa a quase totalidade do espectro político, e, portanto, eleitoralmente ela virá subdividida em várias frentes. Há a esquerda mais tradicional, de passado socialista e trabalhista, que ainda orbita o campo gravitacional lulopetista, e que virá representada, de um lado, por algum nome indicado por Lula (que, na ausência de quadros, possivelmente insistirá no Haddad) ou pelo próprio Lula, agora que o companheiro Fachin fez a mágica jurídica de torná-lo elegível novamente. [Outra frente será representada] por Ciro Gomes, que procura revitalizar o brizolismo. Uma eventual aliança entre Ciro e Lula, altamente improvável, talvez tornasse essa chapa bastante competitiva, mas não deve ser o caso. E há a esquerda envergonhada, disfarçada de centro, que gosta de adotar um vocabulário universalista, pretensamente supra-ideológico, “científico” e “pragmático”. Essa virá representada por nomes como Dória, Moro, Mandetta e Luciano Huck.

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