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terceira via
Luciano Huck, João Doria, Luiz Henrique Mandetta, Cirto Gomes e Tasso Jereissati: candidaturas da chamada terceira via sofrem com desunião do centro.| Foto: Montagem/Gazeta do Povo

Apesar de favoritos na corrida eleitoral de 2022 até o momento, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também são os nomes mais rejeitados pela população brasileira. Pesquisa de junho do PoderData em parceria com a TV Bandeirantes mostrou que, em um cenário de primeiro turno os dois políticos teriam 33% e 31% dos votos, respectivamente. No entanto, a mesma pesquisa mostrou que os dois são rejeitados por metade do eleitorado. De acordo com o levantamento, 50% dos entrevistados afirmam que não votariam no atual presidente. Já a taxa de eleitores que rejeita Lula é de 48%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Mesmo com a alta taxa de rejeição de ambos, uma possibilidade de terceira via com forças para evitar um segundo turno entre Bolsonaro e Lula ainda não conseguiu cativar o eleitorado.

Com 10% das intenções de voto, o pré-candidato pelo PDT Ciro Gomes aparece em terceiro lugar na corrida eleitoral. Já nomes como do apresentador Luciano Huck (sem partido) e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) somaram 4%, cada. Por fim, João Amoêdo (Novo) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), obtiveram 3%.

Esse mesmo grupo de políticos chegou a ensaiar uma união que viabilizasse uma candidatura única de centro que tivesse chances de chegar ao segundo turno na disputa do ano que vem. Entretanto, a 16 meses das eleições de 2022, o grupo se dissipou e a tendência até o momento é de uma pulverização de candidaturas.

Ciro Gomes tenta espaço

Com a candidatura posta há mais de um ano, Ciro Gomes tem afirmado que não pretende abrir mão de se lançar na disputa em detrimento de uma terceira via. Sem conseguir adesão de outras legendas no campo de centro e centro-direita, o pedetista também tem divido com Lula o apoio da centro-esquerda.

Em entrevista à rádio Tupi, o pedetista disse que pretende “lutar” para chegar ao segundo turno no ano que vem. Segundo ele, sua certeza não é apenas porque deseja estar na disputa, mas porque tem "obrigação moral" de dar ao povo brasileiro outra opção, que seja "escolher entre coisa ruim e coisa pior".

Ciro tem apostado nas críticas tanto a Lula quanto a Bolsonaro para se colocar como opção ao eleitorado que rejeita os dois principais nomes. Recentemente o seu partido contratou o ex-marqueteiro do PT João Santana, que passou a ditar o tom da pré-campanha do pedetista.

Em vídeo publicado no mês passado, Ciro Gomes disparou contra o governo de Lula. “Eu gostaria que você tivesse paciência de escutar coisas que não está acostumado. Uma delas: o governo Lula deu pouco aos pobres e muito aos ricos”, criticou o pedetista.

Agora, no mês de junho, uma nova gravação traz críticas de Ciro contra Bolsonaro em relação ao militares, uma das principais frentes de apoio do atual presidente. “Cada um tem uma palavra para definir Bolsonaro. Eu também tenho a minha. É a que revelo nesse vídeo. #BolsonaroTraidor”, diz o pré-candidato do PDT.

Após trabalhar pelo nome de Huck, Cidadania se aproxima de Ciro

Um dos principais articuladores de uma candidatura de centro, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, era um entusiasta do nome de Luciano Huck. Entretanto, a indefinição por parte do apresentador da TV Globo acabou travando as discussões.

Um dos fatores que teria pesado na decisão de Huck pela não candidatura foi o anúncio da saída de Fausto Silva das tardes de domingo da emissora. Com isso, o apresentador do Caldeirão do Huck passou a ser o principal cotado para assumir o horário do “Domingão do Faustão” a partir de 2022.

Diante disso, o entorno de Roberto Freire afirma que ele tem se aproximado de Ciro Gomes no intuito de apoiar a candidatura do pedetista. Sem menções a Ciro, o Cidadania lançou recentemente uma peça publicitária defendendo uma terceira via com o mote “bora fazer juntos um futuro melhor para o nosso país”.

O vídeo mostra imagens e trechos de gravações com frases polêmicas da ex-presidente Dilma Rousseff e uma fala em que Lula afirma ser honesto. Em outro trecho, a gravação mostra Bolsonaro dizendo que “acabou com a Lava Jato”, além de críticas pela condução da pandemia e pela volta da fome no país.

Ciro e Freire já travaram diversos embates e trocas de farpas em disputas anteriores. Apesar disso, o presidente do Cidadania admitiu recentemente ter havido uma reaproximação com o pedetista. “Não tivemos atritos, tivemos divergência concreta, objetiva. A posição dele nunca foi extremada de esquerda”, afirmou Freire ao jornal Folha de São Paulo.

Disputas internas colocam PSDB e DEM em lados opostos

Apesar de ter assumido a dianteira na articulação por uma terceira via de centro para 2022, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta deve ter sua pré-candidatura lançada nos próximos meses pelo DEM. O partido comandado pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto pretende testar o nome de Mandetta até meados de 2022, e caso não haja crescimento nas pesquisas, a legenda tende a declarar independência na disputa.

A estratégia é uma ofensiva de ACM Neto contra o governador de São Paulo, João Doria. Mesmo com o histórico de alianças nas eleições presidenciais entre democratas e tucanos, o presidente do DEM rompeu relações com o governador paulista nas articulações para a disputa do ano que vem.

Na esteira das negociações, Doria tem trabalhado internamente para conseguir vencer as prévias do seu partido e com isso se lançar na disputa. As eleições internas estão previstas para meados de outubro deste ano e, além de Doria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador Tasso Jereissati (CE) pretendem disputar a vaga. Com isso, tanto PSDB quanto o DEM tendem a ter candidaturas próprias na disputa de 2022.

Já no campo da centro-direita, o Novo planeja lançar um nome novo na disputa de 2022. Há poucas semanas, o partido tinha oficializado a pré-candidatura de João Amoêdo. O fundador da legenda se candidatou pela primeira vez em 2018 e foi o quinto colocado na preferência do eleitorado, com 2,5% dos votos válidos no primeiro turno.

Mas o nome dele não era unanimidade dentro da legenda e sofria resistência principalmente da bancada do Novo na Câmara Federal. Nesta quinta-feira (10), o partido anunciou que Amoêdo desistiu de se candidatar. Com isso, o deputado federal Tiago Mitraud (MG) passou à condição de favorito para ser o pré-candidato do Novo.

Pulverização de candidaturas da terceira via favorece Lula e Bolsonaro

Com a pulverização de candidaturas de terceira via, a polarização entre Bolsonaro e Lula é uma tendência quase concreta para 2022, na avaliação de Pablo Vieira, cientista político pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O que faltou para esses nomes de centro foi a definição de um programa mínimo de governo e de convergências. As articulações travaram quando todos os nomes estavam dispostos a ser esse candidato único e angariar todos os apoios, mas me parece que nenhum pretendia abrir mão do seu próprio nome para apoiar o outro”, analisa.

Segundo o analista, a chance de uma candidatura de centro chegar ao segundo turno vai depender de como a campanha se dará no ano que vem. “A não ser que haja um fator político muito grande, como a morte de Eduardo Campos (PSB) em 2014, que quase levou Marina Silva ao segundo turno, ou o atentado que sofreu Bolsonaro em 2018, a tendência do eleitor brasileiro é sempre se dividir entre os primeiros colocados das pesquisas”, completa.

Na mesma linha, André Montovão, professor de Direito Eleitoral e cientista político pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que, até o momento, tanto Bolsonaro quanto Lula conseguiram aglutinar mais forças que seus adversários da chamada terceira via. “Apesar dos desgastes do governo, Bolsonaro conseguiu construir uma base de apoio que vem se mostrando sólida. No outro campo, Lula adotou um tom conciliador, e tem unificado forças e feito o PT dialogar de uma forma mais aberta com outras legendas. Além do eleitorado, essas uniões tendem a favorecer as candidaturas de ambos”, afirma.

Metodologia da pesquisa citada

O instituto PoderData realizou 2,5 mil entrevistas por telefone entre os dias 7 e 9 de junho em 522 municípios nas 27 unidades da federação. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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