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QG Exército Brasília
Ex-comandante do Comando Militar alertou ao Ministério da Justiça que prisões levariam a um “banho de sangue”.| Foto: André Borges/EFE

O ex-comandante do Comando Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, alertou ao Ministério da Justiça que a prisão de manifestantes que estavam acampados em frente ao Quartel-General em Brasília na noite do 8 de janeiro de 2023 levaria a um “banho de sangue” e que, por isso, os acessos ao local foram fechados pelas tropas.

A revelação foi dada na manhã desta segunda (8) pelo secretário-executivo da pasta, Ricardo Cappelli, ao relembrar como foi a negociação “dura” com o Exército para que os manifestantes que retornaram da Esplanada para o acampamento fossem detidos apenas na manhã do dia seguinte após a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

Cappelli afirmou que este foi um dos momentos de maior tensão daquela noite, em que ele e a Polícia Militar do Distrito Federal pretendiam prender os manifestantes acampados em frente ao QG, mas que o próprio Exército movimentou blindados e tropas para fechar o acesso à área do setor militar urbano de Brasília.

“Eu tinha a tropa da PM de um lado e a tropa da Polícia do Exército, inclusive movimentando blindados na nossa direção, foi um momento muito tenso. Tive uma conversa muito dura, mas muito respeitosa, com o general Dutra, e dali chegou-se a um acordo para esperar um pouco mais [...] e ele me falou que se eu entrasse nós teríamos um banho de sangue”, disse Cappelli em entrevista à GloboNews.

Nas primeiras horas da segunda (9/1/2023), uma grande operação prendeu mais de mil pessoas que estavam acampadas em frente ao QG do Exército em Brasília.

Naquela noite, Cappelli havia assumido o cargo de interventor da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para “retomar o comando das forças” por conta de “falhas inaceitáveis” no plano operacional de policiamento no dia.

O secretário afirmou que, ao longo dos 23 dias de intervenção, verificou que não havia um plano efetivo de segurança para o 8 de janeiro – o que seria “fora do padrão”, de acordo com ele – e que as tropas destacadas para a proteção da Esplanada dos Ministérios foram “colocadas de forma inadequada”.

“Tinha homens e mulheres do curso de formação sem equipamentos adequados, muita coisa fora do padrão. Não me parece coincidência ou desleixo, boa parte do comando da PM na época segue detida e as investigações continuam”, concluiu o secretário.

Ricardo Cappelli afirmou que, ao longo daquela tarde e noite de 8 de janeiro, as decisões eram tomadas de uma hora para a outra de acordo com o desenrolar dos acontecimentos, e que se discutiu a implantação de uma operação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para atuação do Exército na contenção da invasão aos prédios públicos.

Os atos de 8 de janeiro de 2023 que culminaram com a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes completaram um ano nesta segunda (8) ainda cercados de muitas dúvidas sobre a falta de informações e falhas de inteligência. Em uma entrevista publicada nesta segunda (8), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou que órgãos de inteligência falharam ao informar ao governo possíveis movimentações mais violentas dos manifestantes.

Uma cerimônia em alusão aos atos está marcada para ser realizada às 15h no Congresso, com a participação de autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros, membros do Poder Judiciário, governadores, entre outros. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), confirmou mais cedo que não vai comparecer, assim como o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB-DF), que foi afastado do cargo pelo STF por pouco mais de dois meses.

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