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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O presidente da Câmara, Arthur Lira, avalia fatiar a reforma tributária.| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Faltando ainda um ano para a eleição da nova mesa diretora da Câmara dos Deputados, a corrida pela sucessão do atual presidente Arthur Lira (Progressistas-AL) já movimenta partidos e parlamentares que buscam ocupar a vaga. A disputa ganhou espaço até mesmo no badalado Carnaval de Salvador.

Fora dos corredores do Congresso Nacional, o atual líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA) - apontado como potencial sucessor de Lira - e o do PSD, o também baiano Antônio Brito, levaram a disputa para os blocos do Carnaval baiano, que contaram este ano com a presença de diversos parlamentares, além dos foliões e celebridades que costumam encher as ruas de Salvador.

Enquanto o grupo do líder do União Brasil curtiu o bloco de Bell Marques, no evento chamado por alguns de "Elmar Folia", deputados do PSD e integrantes de outras legendas também passaram por camarotes e participaram de um esquenta na Praia do Forte, nas proximidades da capital baiana. A folia em Salvador teve ainda um café da manhã que reuniu os futuros adversários políticos Brito e Nascimento; Arthur Lira; o governador Jerônimo Rodrigues (PT); além dos ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e do Turismo, Celso Sabino.

Longe do agito, nesta quarta (14), o líder do PMDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), disse a jornalistas em Brasília que a legenda deverá apresentar um candidato para concorrer à presidência da Casa. A conversa do líder vem de encontro às pretensões de Eunício Oliveira (CE), que também tem se movimentado e se apresentado como uma alternativa para substituir o presidente da Câmara.

Eunício disse ao "Valor Econômico" que o governo teria errado ao apoiar Lira nas últimas eleições para a Câmara, já que o deputado tinha amplo apoio do Centrão, e isso teria custado menor participação tanto na mesa diretora quanto nas comissões permanentes da Casa.

"Honestamente, não descarto sair candidato”, afirmou Eunício ao jornal. Também podem correr por fora nesta disputa o líder do PP, doutor Luizinho Teixeira (RJ); e o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion (PP-PR).

O PL, que hoje comanda a oposição na Câmara, também trabalha para construir uma candidatura própria, mas ainda não há um nome definido. A presidente do PT, Gleisi Hoffman (PR) também já disse anteriormente que o partido poderá lançar um nome para suceder Lira.

A saída do PSB do bloco de Lira e o reflexo na corrida pela presidência da Câmara

A corrida para a presidência da Câmara também ganhou novos contornos com o anúncio da saída do PSB do blocão que apoia Lira, formado por 176 deputados de nove partidos.

O PSB, partido do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, formalizou no começo de fevereiro a saída do chamado "blocão". O líder do partido, Gervásio Maia (PB) disse à Gazeta do Povo, a motivação não é de insatisfação com posicionamentos do atual presidente da Câmara, mas sim um movimento calculado para permitir que a legenda possa se juntar a qualquer outro bloco nesta legislatura.

Segundo Maia, a causa para o PSB sair do blocão "foi o regimento", se referindo às regras internas da Casa. Pelo regimento da Câmara, se o PSB saísse apenas a partir do início do ano legislativo - que ocorreu no dia 5 - não teria a possibilidade de integrar outro bloco.

Na mira dos blocos, PSB vai deixar decisão para próxima semana

Antes do feriado de Carnaval, o líder do PSB se reuniu com a presidente do PT, Gleisi Hoffman (PR), que segundo fontes, busca atrair a legenda para a Federação Brasil da Esperança, que conta com PCdoB e PV, além do próprio PT, e com os 14 parlamentares do PSB somaria 95 deputados. O líder disse que, durante o encontro, o tema girou somente em torno das eleições municipais deste ano.

Quem também está de olho no PSB é o bloco formado por MDB, PSD, Republicanos e Podemos e que, atualmente, tem 144 integrantes. Mas por enquanto, o PSB vai deixar a decisão para os próximos dias, disse Maia. Ele ainda quer avaliar com a bancada o futuro da legenda.

O líder do PSB diz que a disputa pelos votos dos integrantes do partido pode fazer a diferença na escolha, e claro, no total de votos que vai eleger o sucessor de Arthur Lira no comando da Casa, em fevereiro de 2025.

Apesar de parecer distante e do próprio Lira ter citado na abertura do ano legislativo que as "especulações" sobre a disputa não vão influenciar os trabalhos, nos bastidores, parlamentares avaliam que a tendência é definir os acordos e aliados já neste primeiro semestre, justamente por conta do calendário apertado devido às eleições municipais.

Analistas avaliam possíveis cenários para sucessão na Câmara

Elmar Nascimento e Marcos Pereira teriam a preferência do presidente Lula para suceder Arthur Lira, avalia o cientista político Jorge Mizael, da Metapolítica Consultoria. Pereira poderia acenar com uma possibilidade de reaproximação com os evangélicos, mais alinhados às bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Elmar enfrentaria maior resistência dentro do PT, apesar de contar com a preferência de Lira.

Já Antônio Brito, na avaliação do cientista político, pode ser visto com bons olhos pelo Planalto por ter menos atrito com a bancada governista. Para Mizael, esse cenário pode mudar ao longo dos próximos meses e Lira deverá esperar o primeiro semestre para apontar suas preferências. O cientista político cita ainda que podem surgir outros nomes na disputa, como o relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Para Adriano Cerqueira, professor de ciências políticas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Arthur Lira, com uma postura de independência em relação ao Planalto, deu mais poder ao papel de presidente da Câmara, o que pode acirrar ainda mais a disputa.

Neste cenário, segundo ele, Marcos Pereira poderia ser o candidato "ideal" do Planalto, mas teria dificuldades de conseguir apoio dos próprios deputados. Outro fator que poderá impactar diretamente na sucessão de Arthur Lira, segundo Cerqueira, será o resultado das eleições municipais.

"Se o governo federal conseguir boa votação de vereadores ou prefeitos, talvez Marcos Pereira ou outro candidato mais próximo de Lula tenha chance. Mas se a direita avançar, aí as chances do Lula sonhar em ter uma presidência da Câmara estilo Rodrigo Pacheco no Senado vão ficar mais longe", pontua Cerqueira.

O cientista também destaca que o PL, com 98 deputados, terá papel fundamental na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados. Segundo o cientista, mesmo que o partido decida lançar um candidato próprio, como já foi ventilado pelo presidente Valdemar Costa Neto, o apoio da bancada fará toda a diferença na sucessão de Arthur Lira.

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