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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: EFE/ Antonio Lacerda

Apesar dos anseios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se posicionar como uma das principais lideranças no cenário internacional, o primeiro semestre de mandato do petista foi marcado por uma série de erros por parte de sua diplomacia. Além da tentativa fracassada de criar um clube da paz para intermediar a pacificação na guerra da Ucrânia, as declarações de Lula ao longo deste período ampliaram seu isolamento em relação aos países do Ocidente.

No episódio mais recente, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em entrevista a veículos de imprensa latino-americanos que imagina que Lula tivesse uma "visão mais ampla sobre o mundo". Além disso, o ucraniano acusou Lula de concordar com as "narrativas" do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

"Para ser honesto, pensei que ele [Lula] tinha uma compreensão maior do mundo. Só acho que ele tem uma opinião própria. Parece-me que não é necessário que seus pensamentos coincidam com os pensamentos do presidente Putin", disparou.

A fala de Zelensky foi uma reação sobre as declarações de Lula e de seu assessor especial para política externa, Celso Amorim, sobre a necessidade de negociar uma solução diplomática para a guerra da Ucrânia. Na quarta-feira (2), o petista disse a jornalistas estrangeiros que nem Zelensky nem Putin têm declarado que querem negociar para acabar com a guerra.

No mesmo evento, Amorim voltou a dizer que as preocupações de Moscou com segurança precisam ser consideradas. "Você não pode deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia, elas são reais", disse o ex-chanceler na ocasião.

“É estranho falar sobre a segurança da Federação Russa. Só a Rússia, Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia, sobre as garantias que precisam ser dadas para a segurança da Rússia”, disse Zelensky, mostrando ter ficado surpreso com as declarações de Lula.

Alinhamento com a Rússia amplia o isolamento de Lula com o Ocidente 

A reação de Zelensky é mais um revés para Lula diante da tentativa de se posicionar como um dos interlocutores de negociação por um acordo de paz. O petista chegou a defender a criação de um clube da paz, mas a proposta acabou sendo rejeitada pelos países do Ocidente diante do alinhamento do brasileiro com Putin.

Inicialmente, Lula chegou a enviar Celso Amorim à Rússia para intermediar um acordo com Putin. Meses depois, em abril, o brasileiro recebeu em Brasília o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, que disse que seu país e o Brasil têm visões similares sobre questões globais.

Após a visita de Lavrov ao Brasil, o Kremlin disse que a proposta do líder brasileiro de criar um clube de mediação neutro para a guerra da Ucrânia merecia atenção porque leva em conta os interesses russos. "Qualquer ideia que leve em conta os interesses da Rússia merece atenção e certamente precisa ser ouvida", disse o porta-voz Dmitri Peskov.

Pressionado pelos países do Ocidente, Lula chegou a enviar Amorim para a Ucrânia. Desde então, Zelensky chegou a defender um encontro com Lula no Brasil ou uma visita do petista à Ucrânia. A agenda, no entanto, não foi viabilizada pelo Itamaraty.

Como a Gazeta do Povo mostrou, o alinhamento de Lula com Putin acabou provocando uma mudança de rota na estratégia do petista, que agora tenta se posicionar internacionalmente por meio da agenda ambiental. Recentemente, por exemplo, o petista indicou que não ''quer se meter'' no conflito.

"E é por isso que não quero me meter na questão da guerra da Rússia e da Ucrânia. Porque a minha guerra é aqui: é contra a fome, é contra a pobreza, é contra o desemprego, é contra a desindustrialização. Por que vou me preocupar com a briga dos outros? Eu vou me preocupar com a minha briga", disse o petista durante um evento no Planalto.

Plano da China apoiado por Lula foi rejeitado pelos aliados da Ucrânia

A rejeição ao clube de paz proposto por Lula foi ampliada pelos países do Ocidente depois que o governo brasileiro passou a endossar um plano de paz que vinha sendo costurado pela China, um dos países aliados de Putin no conflito. A avaliação dos aliados da Ucrânia foi de que a proposta costurada pelos chineses era pró-Rússia.

Antes de assumir publicamente que o Brasil "recebia positivamente" o acordo defendido por Pequim, Lula sugeriu que, para acabar com a guerra, a Ucrânia deveria ceder o território da Crimeia para a Rússia. Por outro lado, ele disse que as províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia no Leste do país, anexadas pelo presidente Vladimir Putin, deveriam ser devolvidas.

“Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar. O [presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky não pode querer tudo. A Otan não vai poder se estabelecer na fronteira [com a Rússia]", disse Lula em abril deste ano.

A Ucrânia, no entanto, rebateu a proposta de Lula. Zelensky indicou que não aceita decretar cessar-fogo nem iniciar o diálogo sem que os russos devolvam os territórios que anexaram ilegalmente. Além da Crimeia, anexada ao território russo em 2014, as tropas de Putin ocupam diversas regiões na Ucrânia.

"Congelar o conflito dá aos russos tempo para treinar e equipar as tropas. Enquanto isso, o mundo vai dizer que a guerra acabou, o conflito terá muito menos atenção, receberemos menos armas, haverá uma normalização", diz Andrii Zagorodniuk, ex-ministro da Defesa e atual assessor do governo da Ucrânia.

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