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Uma operação da Polícia Federal deflagrada nesta sexta-feira (12) mira uma ex-assessora do deputado federal Arthur Lira (PP-AL) por suspeita de desvio de emendas parlamentares. São dois mandados de busca e apreensão cumpridos na Câmara dos Deputados, em Brasília, pela Operação Transparência.
Segundo informações confirmadas à Gazeta do Povo, o alvo é a assessora Mariângela Fialek, que trabalhou no gabinete de Lira e, atualmente, está lotada na liderança do PP. Ela seria, ainda, responsável pelo setor da Câmara que organiza a indicação das emendas parlamentares, segundo explicitou o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação.
“A Polícia Federal deflagrou, nesta sexta-feira (12/12), a Operação Transparência, com o objetivo de apurar irregularidades na destinação de recursos públicos por meio de emendas parlamentares. Policiais federais cumprem dois mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, em Brasília/DF”, afirmou a PF em nota.
A reportagem procurou a assessoria de Lira, seu gabinete e o PP e aguarda retorno.
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Dino relata diversos processos no Supremo Tribunal Federal (STF) que apuram uso indevido da verba. Lira, no entanto, não é alvo desta operação da PF.
Entre os crimes investigados pela autoridade estão o de peculato, falsidade ideológica, uso de documento falso e corrupção.
Na decisão de Dino, tornada pública no final da manhã, Mariângela seria a principal responsável pela distribuição de emendas parlamentares durante a gestão de Lira na presidência da Câmara. A investigação chegou a ela após depoimentos prestados pelos deputados Glauber Braga (PSOL-RJ), José Rocha (União-BA), Adriana Ventura (Novo-SP), Fernando Marangoni (União-SP) e Dr. Francisco (PT-PI); pelo senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), e da servidora Elza Carneiro, da Câmara dos Deputados.
"Mariângela Fialek, que desponta exercer o controle de indicações desviadas de emendas decorrentes do orçamento secreto em benefício de uma provável organização criminosa voltada à prática de desvios funcionais e crimes contra a administração pública e o sistema financeiro nacional", afirmou Dino na decisão (veja na íntegra).
Ele emendou afirmando que "tais oitivas direcionaram as apurações à Representada, indicada como a principal responsável pela operacionalização do chamado 'orçamento secreto' no âmbito daquela Casa Legislativa". "Constatou-se, ainda, que, mesmo após a alteração na Presidência da Casa, ela permaneceu no exercício da função", completou.
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Dino aprofunda crise com o Congresso
Flávio Dino se tornou pivô de uma crise entre o Judiciário e o Legislativo ao questionar o pagamento de emendas parlamentares – especialmente as chamadas “emendas PIX” e outras transferências orçamentárias – sem controle e sem transparência.
O magistrado tem emitido sucessivas decisões exigido informações detalhadas e determinado auditorias e investigações da Polícia Federal sobre irregularidades no uso desses recursos, após relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) indicarem possíveis problemas na prestação de contas e aplicação dos valores.
Dino e outros ministros tem aprofundado o controle judicial sobre o pagamento das emendas, um terreno tradicionalmente dominado pelo Congresso. Isso inclui a exigência de rastreabilidade dos recursos e a revisão da constitucionalidade de mecanismos como as impositivas e as instantâneas, que representam uma parte expressiva do orçamento federal e são instrumentos centrais de atuação dos parlamentares junto às bases.
Para muitos líderes no Legislativo, essa atuação é vista como interferência em matéria de política orçamentária, que, segundo eles, deveria ser discutida e decidida internamente no Congresso e pelo Executivo, e não judicializada.
Congresso tentou barrar operações em gabinetes
Em meados do ano passado, a oposição ao governo na Câmara tentou aprovar uma PEC proibindo o cumprimento de mandados da Polícia Federal em gabinetes sem a autorização das mesas diretoras das duas casas do Congresso, com a alegação de proteção do exercício parlamentar “contra abusos que possam ser cometidos contra outro poder”.
A PEC foi proposta pelo deputado federal Rodrigo Valadares (União-SE) que pretendia incluir um inciso na Constituição Federal determinando que “ações judiciais, mandados de busca e apreensão e investigações realizadas contra deputados e senadores com expedição do diploma serão realizados mediante aprovação da Mesa Diretora da respectiva Casa Legislativa, exceto nos casos de flagrante delito”.
A proposta previa um prazo de 10 dias para a Mesa Diretora da respectiva Casa Legislativa "se pronunciar sobre a aprovação ou rejeição do pedido realizado pelo Poder Judiciário". E ainda estabelece que o pedido só poderá ser respondido "durante o Ano Legislativo, ficando o prazo suspenso no Recesso Parlamentar".
Na justificativa da proposta, Valadares explica que a medida não é para "dificultar a investigação contra Parlamentares nos casos de crimes cometidos pelos mesmos", mas para "garantir o respeito à Constituição e ao exercício do mandato parlamentar contra abusos que possam ser cometidos contra outro poder".
"A medida visa proteger o mandato dos deputados e senadores contra repetidos abusos cometidos pelo Poder Judiciário que colocam em risco a soberania do voto popular, o exercício parlamentar e a democracia em nosso País", disse Valadares à Gazeta do Povo.
Mais informações em instantes.









