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General Arruda toma posse
Escolhido pelo critério de antiguidade, general Júlio César de Arruda é apontado como um oficial equilibrado, discreto e técnico.| Foto: Romério Cunha/VPR

A dois dias da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o general Júlio Cesar de Arruda assumiu o comando do Exército de forma interina nesta sexta-feira (30) – ele será empossado em definitivo logo após Lula assumir a Presidência. A cerimônia aconteceu às 10 horas, no Clube do Exército, em Brasília, e contou com a presença do vice-presidente da República e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

A nomeação do general Arruda ainda durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL) foi resultado de um acordo entre o futuro ministro da Defesa no governo Lula, José Múcio Monteiro, e o atual titular da pasta, Paulo Sérgio Nogueira. Ambos estiveram presentes na posse do novo comandante nesta sexta. Arruda substitui o general Marco Antônio Freire Gomes, que permaneceu no posto por apenas oito meses.

A escolha de Lula pelo general Arruda deu-se mais pelo respeito ao critério de antiguidade – o novo comandante é, atualmente, o mais antigo general quatro estrelas da ativa do Exército Brasileiro – do que por alinhamento político. Tal critério, no qual o presidente da República indica um dos três oficiais-generais com mais tempo no topo da carreira para assumir o comando das Forças Armadas, também foi usado na escolha dos comandantes da Marinha e da Aeronáutica.

Na busca por aproximar-se dos militares, que são um grupo considerado mais alinhado à plataforma política de Bolsonaro, Lula evitou criar atritos ao “driblar” o critério de antiguidade e escolher um comandante por caráter político. A escolha, aliás, desagradou parte dos conselheiros do presidente eleito, que consideram o general “bolsonarista”.

Um dos principais responsáveis por afastar o critério político das indicações aos comandos das Forças Armadas foi José Múcio. O futuro ministro da Defesa de Lula chegou a ter uma conversa com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, para defender, em especial, o nome do general Arruda. À imprensa, Múcio afirmou que disse ao ministro que o novo comandante não é engajado em pautas políticas e que ele próprio se responsabilizaria pela escolha.

General Arruda é visto como militar equilibrado, discreto e técnico

Cuiabano de 63 anos, general Arruda é avaliado por outros militares como discreto e de perfil técnico. Entre os anos de 2000 e 2001, quando ainda era tenente-coronel, foi assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Como coronel, fez o curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército, comandou a Escola de Administração do Exército/Colégio Militar de Salvador e foi instrutor do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva em Itajubá (MG), da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

Já como oficial general, foi comandante da Academia Militar das Agulhas Negras em Resende (RJ), comandante de Operações Especiais em Goiânia (GO), diretor de Educação Superior Militar no Rio de Janeiro, subcomandante de Operações Terrestres em Brasília e comandante militar do Leste no Rio de Janeiro.

Até a última segunda-feira (26), general Arruda ocupava o cargo de chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército, gerenciando cerca de 20 mil militares e civis em ações relacionadas a obras de cooperação, obras militares, elaboração de projetos de engenharia, gerenciamento de material e gestão do patrimônio imobiliário.

Na cerimônia em que passou o cargo de chefe do DEC para ficar disponível para assumir o comando do Exército, o então comandante general Freire Gomes teceu elogios ao general Arruda, descrevendo-o como “um assessor de mais alto nível deste comandante, atuando de forma equilibrada e leal”. “Tenho a certeza de que sua dedicação incondicional, tirocínio e destacada inteligência serão primordiais para o futuro de nosso Exército”, declarou.

Novo comandante terá de achar solução para acampamentos em quartéis

Apoiadores do governo Lula esperam uma postura mais enérgica do novo comandante do Exército com relação aos atos de manifestantes pró-Bolsonaro em frente aos quartéis do país com pedidos de intervenção militar.

Na alta cúpula do novo governo há divergências quanto ao tratamento a ser dado aos manifestantes após Lula assumir o cargo. Um grupo ligado ao futuro ministro da Justiça Flávio Dino (PSB), é favorável à retirada forçada dos manifestantes – Dino disse, recentemente, que os acampamentos de apoiadores de Bolsonaro são “incubadoras de terroristas”.

A declaração ocorreu após a prisão de um homem acusado de tentar explodir uma bomba nas proximidades do aeroporto de Brasília. Em depoimento à polícia, o suspeito afirmou que a ideia era criar o "caos" e que o ato foi planejado no acampamento instalado em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.

Por outro lado, José Múcio defende uma abordagem menos agressiva: na última segunda-feira (26), o futuro ministro da Defesa disse ao jornal Valor Econômico que manifestantes poderão permanecer acampados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, durante a posse de Lula, caso desejem e que ninguém seria tirado “na marra”.

O próprio Exército já se movimenta para esvaziar os acampamentos, mas com diálogo. Nesta quinta-feira (29), uma operação conjunta entre militares e agentes do governo do Distrito Federal tentou remover estruturas de manifestantes em frente ao QG do Exército, em Brasília.

Algumas barracas chegaram a ser removidas, mas a operação foi interrompida depois que manifestantes começaram a reagir, xingando os agentes e lançando objetos contra as autoridades para evitar confrontos com os manifestantes. O Exército confirmou nesta quinta que a atividade “foi suspensa no intuito de manter a ordem e a segurança de todos os envolvidos”.

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