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Protesto em Brasília

Ibaneis diz à PF que foi sabotado e que Exército “impediu a remoção” do acampamento

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Governador afastado do DF, Ibaneis Rocha disse que respondeu a todos os questionamentos feitos pela PF em depoimento. (Foto: Joedson Alves/EFE)

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O governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou em depoimento à Polícia Federal nesta sexta (13) que foi sabotado pelo ex-secretário de segurança pública no policiamento que culminou com a invasão às sedes dos Três Poderes em Brasília, no último domingo (8), que não recebia os informes corretos das agências de inteligência e que o Exército "impediu a remoção" do acampamento montado em frente ao Quartel-General.

O conteúdo da oitiva, divulgado pela CNN Brasil no meio da tarde, aponta que Ibaneis só soube da invasão ao Congresso Nacional quando ela já estava acontecendo, pela TV, e que a informação repassada a ele até então era de que a manifestação estava ocorrendo pacificamente com escolta da Polícia Militar.

No depoimento de mais de duas horas de duração, Ibaneis fez uma cronologia de tudo o que ocorreu desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando manifestantes insatisfeitos com o resultado começaram a acampar em frente ao QG militar, no começo de novembro do ano passado, até o momento que soube do afastamento temporário do cargo, no início desta semana.

Em diversos momentos do depoimento, Ibaneis reiterou que todo o esquema de segurança da Esplanada dos Ministérios estava a cargo da Secretaria de Estado de Segurança Pública, sob o comando do ex-ministro Anderson Torres, do governo de Jair Bolsonaro (PL), e que só recebia as informações que fossem necessárias para sua tomada de decisões.

O governador afastado afirma que se sentiu sabotado e perdeu a confiança no seu ex-secretário, que foi exonerado do cargo ainda na tarde de domingo (8) – Torres já estava viajando de férias e tinha deixado o secretário executivo, Fernando de Sousa Oliveira, como um interino no cargo.

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Exército não deixou que acampamento fosse desmobilizado

Logo no começo do depoimento, Ibaneis Rocha diz que havia um acordo do governo com os militares para que o acampamento montado em frente ao Quartel-General fosse desmobilizado até o dia 29 de dezembro de 2022, mas que “o Exército impediu a remoção”, tendo retirado apenas algumas barracas. Na época, o comando militar afirmou que a operação foi "suspensa no intuito de manter a ordem e a segurança de todos os envolvidos".

A Gazeta do Povo entrou em contato com o QG do Exército Brasileiro para explicar a declaração de Ibaneis, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

“Por parte do GDF [Governo do Distrito Federal], os contatos com o comando ficavam a cargo da Secretaria de Segurança Pública, que coordenava as ações do DF Legal e da Polícia Militar”, disse Ibaneis relatando que a equipe de transição do governo Lula também participava das conversações, e que tinha conhecimento da oposição do Exército em desmobilizar o acampamento.

No entanto, mesmo com o acampamento ainda em pé, a posse presidencial no dia 1º de janeiro seguiu o roteiro, com uma aparente desmobilização a partir do dia seguinte. Ibaneis explica no depoimento que o GDF chegou a auxiliar a saída voluntária de alguns manifestantes “fornecendo passagens de ônibus e na retirada de algumas barracas”, e que nenhum dos relatórios que recebia apontava possíveis ações radicais que estivessem sendo organizadas.

“A Secretaria de Segurança Pública estava encarregada integralmente de fazer o planejamento para garantir a segurança dos atos do dia 8”, ressaltou Ibaneis citando que teve conhecimento da formalização de um protocolo com um plano de policiamento da Esplanada dos Ministérios com o efetivo necessário para monitorar e conter eventuais tumultos.

A partir disso, Ibaneis relata as comunicações que tinha com Anderson Torres, Fernando de Sousa e Flávio Dino, ministro da Justiça, na preparação do esquema de segurança a ser utilizado ao longo do final de semana. Dino teria escrito a ele ainda na sexta (6) preocupado com a chegada à Brasília de diversos ônibus transportando manifestantes para o protesto de domingo (8), mas que ele só leu a mensagem no dia seguinte.

Segundo consta no depoimento, Ibaneis ligou imediatamente para Torres, que já estava em viagem aos Estados Unidos, e pediu que entrasse em contato com seu secretário-executivo. Souza afirmou que os relatos da inteligência apontavam que os manifestantes estavam chegando pacificamente ao acampamento, o que foi imediatamente repassado ao ministro da Justiça.

Manifestação ficou pacífica e se tornou violenta no meio da tarde

Já no domingo (8), pela manhã e no começo da tarde, Ibaneis diz que recebeu mais dois informes de Fernando de Sousa relatando que a situação estava tranquila no acampamento e que os manifestantes tinham iniciado a caminhada até a Esplanada, escoltados pela PM para não obstruírem totalmente as vias do Eixo Monumental.

Diante destas mensagens, Ibaneis disse que continuou acompanhando a manifestação pela TV e que, ao ver os manifestantes furando o bloqueio policial e o início do tumulto no meio da tarde, entrou em contato com o secretário-executivo. Fernando teria respondido que a situação “saiu um pouco de controle”, ao que foi prontamente ordenado que colocasse na rua “o máximo efetivo policial possível”.

“Tirem eles do Congresso e prendam o máximo possível”, relata Ibaneis no depoimento.

Na sequência, o então governador teria pedido a ajuda do Exército e convocado a Tropa de Choque e a Cavalaria para conter o protesto que, a essa altura, já ocupava o Palácio do Planalto e o Congresso. As forças conseguiram controlar as invasões já no final da tarde e começo da noite.

Neste meio tempo, Ibaneis diz que convocou uma reunião de emergência no Palácio do Buriti com a vice-governadora, Celina Leão (PP), e o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, para a tomada de decisões e para participar de uma reunião com o Fórum de Governadores. E, enquanto discutia o que seria feito, ficou sabendo da intervenção decretada por Lula na segurança pública do DF, ordenando que a dupla prestasse todo o auxílio necessário.

“Deixo claro que todos tinham poderes para tomar as providências necessárias”, ressaltou Ibaneis no depoimento à Polícia Federal.

Ao fim, Ibaneis disse que só tomou conhecimento de seu afastamento temporário do cargo no dia seguinte, já que a decisão do ministro Alexandre de Moraes foi determinada tarde da noite, e confirmada pelo plenário dos magistrados na quarta (11).

Não se manteve em silêncio

No final da manhã desta sexta (13), após o depoimento, Ibaneis disse à reportagem do Correio Braziliense que respondeu a todos os questionamentos feitos pela Polícia Federal e classificou a oitiva como “excelente”. “Espero ter deixado claro que não tive qualquer envolvimento, seja por ação ou por omissão, com os fatos ocorridos no domingo (8/1)”, declarou.

Em uma nota publicada na quinta (12), Ibaneis disse que foi “levado ao erro pelas autoridades da segurança que estavam à frente da operação”, e que respeita a decisão do STF.

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