• Carregando...
O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram vistos pela última vez na manhã de domingo (5), há quase 10 dias, na região da reserva indígena do Vale do Javari.
O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram vistos pela última vez na manhã de domingo (5), há quase 10 dias, na região da reserva indígena do Vale do Javari.| Foto: Divulgação/Funai/Reprodução/Twitter

A Polícia Federal confirmou na noite desta quinta-feira (15) que Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado", confessou ter participado do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Os dois teriam sido mortos no dia 5 de junho.

Bruno e Dom foram vistos pela última vez na manhã de domingo (5), há 10 dias, na região da reserva indígena do Vale do Javari. Eles partiram da Comunidade São Rafael e seguiam para Atalaia do Norte. O deslocamento deveria durar cerca de duas horas, mas eles não chegaram ao destino.

A PF ainda investiga a possível participação de um terceiro envolvido no desaparecimento de Bruno e Dom. Amarildo teria dito à PF durante seu depoimento que ajudou a enterrar os corpos do jornalista e do indigenista brasileiro, que teriam sido mortos a tiros, informou a CNN Brasil. Ele disse que não efetuou os disparos e também não ouviu os tiros. Segundo Amarildo, uma terceira pessoa teria feito os disparos contra a dupla.

O suspeito afirmou ainda que Bruno trabalhava para combater a pesca ilegal na região e este teria sido o motivo do crime. No depoimento, Amarildo teria dito aos policiais que os corpos do indigenista e do britânico foram queimados, esquartejados e enterrados.

Prisões de suspeitos

Dois dias após o desaparecimento do jornalista e do indigenista, a PF prendeu o pescador Amarildo da Costa Pereira, conhecido como "Pelado". Após audiência de custódia, ele teve a prisão estendida por 30 dias. Até o momento, nove pessoas foram ouvidas pela polícia. Já Oseney da Costa de Oliveira , conhecido como “Dos Santos”, de 41 anos, foi detido pela PF nesta quarta-feira (14).

Durante a audiência de custódia nesta quarta, a juíza Jacinta Silva dos Santos atendeu a um pedido da PF e determinou a prisão temporária de Oseney por 30 dias da prisão temporária, prorrogáveis por mais 30 dias. O processo tramita sob segredo de Justiça.

A PF levou um dos suspeitos na manhã desta quarta para a área de buscas no rio Itaquaí. A equipe de agentes e o suspeito saíram da delegacia de Atalaia do Norte (AM) e foram até o porto da cidade, principal acesso às terras indígenas do Vale do Javari. Mais cedo, os policiais incluíram um cão farejador na equipe de buscas.

Desaparecimento

Dom Phillips, que é colaborador do jornal britânico The Guardian, e Bruno Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram vistos pela última vez na manhã de domingo (5), há quase 10 dias, na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares.

Eles se deslocavam da comunidade ribeirinha de São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte (AM), quando sumiram sem deixar vestígios. O indigenista denunciou que estaria sofrendo ameaças na região, informação confirmada pela PF, que abriu procedimento investigativo sobre essa denúncia. Bruno Pereira estava atuando como colaborador da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), uma entidade mantida pelos próprios indígenas da região.

Buscas e análise de DNA

A PF, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou nesta terça o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça, com a apreensão de "alguns cartuchos de arma de fogo e um remo, os quais serão objeto de análise". Os mandados foram cumpridos durante a prisão de Oseney.

No último domingo (12), bombeiros envolvidos na operação encontraram uma série de pertences dos dois desaparecidos. Segundo a PF, os itens encontrados foram: um cartão de saúde, uma calça preta, um chinelo preto e um par de botas pertencentes a Bruno e um par de botas de Dom.

Na sexta-feira (10), a PF informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. Ainda não há informação se a amostra recolhida tem alguma relação com o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira.

O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal está fazendo análise pericial do material recolhido, como também fará a perícia em vestígios de sangue encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, informou a Agência Brasil. A expectativa é que os resultados laboratoriais sejam divulgados nesta quarta-feira.

A Embaixada do Brasil no Reino Unido chegou a informar familiares do jornalista na segunda-feira (13), por meio de uma ligação, que os corpos dos dois teriam sido encontrados amarrados em uma árvore em uma região remota da floresta e que ainda seriam identificados oficialmente.

No entanto, a Polícia Federal negou a informações e a Embaixada pediu desculpas às famílias por ter repassado informações que se mostraram “incorretas”.

“O Itamaraty confirma o envio de comunicação do Embaixador do Brasil em Londres dirigida hoje a familiares do jornalista britânico Dom Phillips, na qual lamentou e pediu desculpas por terem sido repassadas, pela embaixada, informações que se mostraram incorretas”, disse o Ministério da Relações Exteriores em nota divulgada nesta terça.

Bolsonaro disse que Dom Phillips era "mal visto" no Amazonas

O presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou o desaparecimento de Dom e Bruno nesta quarta-feira (15). O chefe do Executivo afirmou que o jornalista britânico "era malvisto na região" porque fazia reportagens contra garimpeiros. Para Bolsonaro, Dom deveria ter tido mais atenção "consigo próprio".

"Esse inglês era malvisto na região, porque fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental, então, naquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele", disse o presidente da República em entrevista à jornalista Leda Nagle.

"Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio e resolveu fazer uma excursão. A gente não sabe se alguém viu e foi atrás dele, lá tem pirata no rio, lá tem tudo que possa imaginar lá", completou.

O presidente disse ainda que o indigenista e o jornalista deveriam estar armados para atuar na região. "É muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai, que pelo que parece não estavam", afirmou.

"Aquela região, você pode ver, pelo que tudo indica, se mataram os dois, se mataram, espero que não, eles estão dentro d’água e dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha lá no Javari. A gente lamenta tudo isso aí", disse Bolsonaro.

CNJ e Senado criaram grupos para acompanhar as investigações

O Senado criou nesta segunda-feira (13) uma comissão externa para acompanhar as buscas pelo indigenista e pelo jornalista inglês. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou o requerimento para criar a comissão. O colegiado será composto por nove senadores: três da Comissão de Constituição e Justiça, três da Comissão de Meio Ambiente e três da Comissão de Direitos Humanos da Casa.

"Há uma ofensa ao Estado brasileiro, há uma ofensa às instituições gravíssimas. E nós no Senado Federal não podemos tolerar essas atrocidades", disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na abertura da sessão plenária desta segunda.

Os senadores deverão realizar uma diligência na região por dois meses para apurar "in loco as causas e as providências adotadas diante do desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips, servindo como subsídio para eventual pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito".

Nesta terça-feira (14), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luiz Fux, criou um grupo de trabalho para acompanhar as buscas, que deve atuar no âmbito do Observatório do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.

A iniciativa será formada pelo fotógrafo Sebastião Salgado; o ator Wagner Moura; a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, e a juíza auxiliar da Presidência do CNJ, Livia Cristina Marques Peres.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]