O diplomata Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, afirmou que se o governo de Israel espera um pedido de desculpas pela comparação da reação contra o Hamas ao Holocausto nazista, “vai ficar pedindo”. A reação ocorre uma semana depois de Lula ter criado uma crise diplomática e levar a um pedido de impeachment contra ele no Congresso Nacional com recorde de assinaturas.
Amorim afirma que não vê razão para Lula se desculpar pela declaração, rechaçada pela comunidade judaica que vive no Brasil e pela oposição ao governo no Legislativo. Ele afirma que a crítica de Israel é isolada e que o país está “na contramão” das resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) e até mesmo dos Estados Unidos, principal parceiro comercial.
“Vai ficar pedindo. Se é que ele está insistindo mesmo. Não sei se ele faz isso por demagogia interna ou por qualquer outra razão, mas certamente se ele está esperando isso não vai receber. Não posso falar pelo presidente, mas eu não vejo nada, não vejo razão para o presidente se desculpar”, disparou Amorim em entrevista à Folha de São Paulo publicada neste final de semana.
O assessor de Lula afirmou que, apesar da declaração considerada ofensiva pela comunidade judaica, nunca se afastou do povo judeu e nem do próprio Estado de Israel. A crítica foi específica contra o governo pelo nível do contra-ataque aos atentados do Hamas em outubro do ano passado e mesmo à forma com que o país vem agindo diplomaticamente.
A reprimenda ao embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, feita publicamente no Memorial do Holocausto em Jerusalém do que em uma instalação do governo, foi considerada uma “armadilha”, de “uma maneira diplomaticamente inadmissível”.
“Nunca vi nem na Guerra Fria o Khrushchev [União Soviética] dizer que o Kennedy [Estados Unidos] era uma persona non grata ou vice-versa. A maneira como o nosso embaixador foi tratado também foi lamentável. Fizeram um espetáculo público”, afirmou.
Celso Amorim afirmou que a condição mais importante para o Brasil se reaproximar de Israel neste momento é “parar a matança”, e que é “muito difícil negar que é genocídio”. Para ele, abrir um canal de diálogo com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu é “praticamente impossível” neste momento, e que há uma sensação de que ele “não quer que exista a Palestina, nem em Gaza e nem na Cisjordânia”.
O diplomata ainda indicou que há uma relação entre o governo de Netanyahu e a direita brasileira, que poderia estar servindo de combustível para as críticas contra o presidente Lula e as seguidas cobranças por um pedido de desculpas pela declaração.
“Não podemos apagar uma aliança estranha que existe entre o governo de Israel e a extrema direita brasileira. O embaixador de Israel teve uma conversa lá com o pessoal ligado ao [ex-presidente] Jair Bolsonaro. Não é com a direita moderada. Obviamente vamos esperar acabar o julgamento. Coloco essa ressalva sempre. Mas estão acusados de golpe. Não é qualquer direita”, completou.
O assessor de Lula ainda justificou o tom duro de Lula contra Israel e outro não tanto a Vladimir Putin contra a Ucrânia. Ele afirma que “não tem comparação” e que o Brasil condenou da mesma forma. A questão na Ucrânia, no entanto, se diferencia pela quantidade de baixas.
“O uso da força, a quebra da integridade territorial da Ucrânia pela força, sem diálogo. Somos contra. Agora não se pode dizer que seja um genocídio como está sendo praticado [em Gaza]. [...] Eu concordo que seja um absurdo 500 crianças ucranianas que morreram. Eu fico espantado que as 10 mil crianças da Palestina não mereçam uma reunião do tamanho. Não dá para comparar”, emendou.
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