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Recurso inédito

Janones ainda pode ser cassado por suspeita de rachadinha; entenda

André Janones durante reunião do Conselho de Ética. (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

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O deputado federal André Janones (Avante-MG) ainda poderá ter o mandato cassado por suposta prática de rachadinha, caso o plenário da Câmara dos Deputados analise e aprove um recurso apresentado pela oposição, que questiona o arquivamento do processo contra Janones no Conselho de Ética.

Inconformada com a decisão dos parlamentares que integram o conselho, a líder da minoria na Câmara, deputada Bia Kicis (PL-DF), apresentou o pedido para que a decisão do colegiado de arquivar a representação seja revista pelo plenário, o que vai depender da vontade do presidente Arthur Lira (PP-AL) de pautar a matéria.

A possibilidade de recurso contra decisão do conselho está prevista no próprio Código de Ética da Câmara, que diz que a decisão do colegiado poderá ser questionada por recurso assinado por ao menos 51 deputados [1/10 do total de parlamentares]. O pedido da oposição já conta com 62 assinaturas de deputados de diversos partidos, como PL, PP, União, PSD, Podemos, MDB e Novo.

Artigo do regimento interno também prevê que o recurso encaminhado ao presidente da Câmara deverá "indicar expressamente" o que será objeto de deliberação do plenário.

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A adoção de um suposto esquema de rachadinha por Janones - quando funcionários do gabinete teriam que devolver parte dos salários ao parlamentar, para financiar gastos de campanha - veio à tona no final do ano passado, com a divulgação de um áudio gravado em 2019, em que Janones dizia que alguns assessores o ajudariam a pagar dívidas de uma campanha com parte do salário.

Na época, o deputado negou que tenha orientado ou pedido aos funcionários que devolvessem parte do salário para ele, mas a suspeita fez com que o Partido Liberal, do ex-presidente Jair Bolsonaro, entrasse com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética.

O pedido foi arquivado em 5 de junho, depois que o relator, deputado Guilherme Boulos (Psol-SP), considerou que os fatos atribuídos a Janones não poderiam motivar a cassação, por serem anteriores ao mandato do parlamentar. Boulos afirmou ainda que o judiciário já estava apurando a eventual prática da "rachadinha". Seu voto contra a abertura do processo de cassação foi seguido por 12 parlamentares integrantes do colegiado – apenas cinco votaram a favor.

Mesmo com o arquivamento, o deputado ainda poderá se complicar. A Polícia Federal divulgou nesta semana um relatório parcial sobre o caso e apontou não só a autenticidade das gravações, com a voz de André Janones, mas também inconsistências em depoimentos de assessores ouvidos pelos policiais.

A polícia analisa agora o material obtido a partir das quebras de sigilo bancário e fiscal de Janones e assessores parlamentares, entre janeiro de 2019 e janeiro de 2024.

A reportagem da Gazeta do Povo tentou contato com Janones, mas não obteve resposta até a publicação da matéria. Nas redes sociais, o deputado tem dito que a investigação do caso pelas autoridades competentes é o único caminho para provar que é inocente.

Reabertura do caso contra Janones será discutida entre líderes da Câmara

O pedido para que o plenário analise o recurso da oposição para reabrir o processo de quebra de decoro parlamentar contra o deputado André Janones será um dos itens da pauta que o líder da oposição, Filipe Barros (PL-PR), pretende priorizar na reunião do colégio de líderes na próxima terça-feira (2).

Filipe Barros disse à Gazeta do Povo que esta é uma pauta fundamental tanto para o PL quanto para as lideranças da oposição e minoria na Câmara, e que o assunto será tratado com Arthur Lira, que é quem deverá definir uma data para eventual análise do recurso.

"A rachadinha não pode ficar impune", disse o líder da oposição, afirmando também vai discutir o recurso que questiona o arquivamento do processo por quebra de decoro parlamentar contra André Janones com outros parlamentares.

Além disso, Filipe Barros disse que a conduta de Janones não é "compatível" com as regras de comportamento na Câmara, e lembra que no mesmo dia em que o Conselho de Ética arquivou a representação, o deputado provocou um grande tumulto no plenário, confusão que gerou até mudanças no regimento para punir com mais agilidade os deputados que não se comportam adequadamente.

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Caso pode ser reaberto com novo relator

Caso o recurso contra o arquivamento da representação de André Janones seja acatado pelo plenário da Câmara, o Conselho de Ética terá que designar um novo relator para o processo, com o início da fase de coleta de provas e audiências para ouvir os envolvidos no caso.

De acordo com a Secretaria Geral da Mesa da Câmara dos Deputados, esta é a primeira vez que parlamentares questionam uma decisão do Conselho de Ética pelo arquivamento de uma representação por quebra de decoro.

Mesmo com a expectativa dos partidos de centro e direita sobre uma eventual mudança na decisão, o cientista político Waldir Pucci acredita que há poucas chances de o caso prosperar.

Segundo ele, Arthur Lira não deverá "comprar essa briga", já que a reabertura de um processo de arquivamento do Conselho poderia abrir um precedente para a revisão de inúmeros outros casos de deputados que deixaram de responder por quebra de decoro parlamentar.

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