O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou todos os ministros para uma reunião geral na manhã desta quinta (8) para “afinar a viola” do que as pastas estão fazendo e de como devem ser os próximos dois anos de governo. O encontro, que foi aberto à imprensa apenas durante a abertura, também tratou das perspectivas para a economia, a relação com o Congresso – que trocará os presidentes da Câmara e do Senado no ano que vem – e a situação eleitoral da Venezuela.
Este último ponto, em especial, é o que mais tem incomodado o governo pela pressão que Lula vem tendo da sociedade e da oposição para se posicionar mais criticamente sobre a reeleição questionada de Nicolás Maduro. Ele tem adotado um discurso mais diplomático de pedir a divulgação das atas detalhadas de votação antes de reconhecer a vitória do ditador ou do oposicionista Edmundo González Urrutia.
“O companheiro Mauro [Vieira] vai fazer uma fala para explicar um pouco a questão do G20 [que terá a reunião de cúpula no Rio de Janeiro, em novembro] e também das celeumas que estamos encontrando para encontrar uma solução pacifica para as eleições da Venezuela. É muito importante”, disse Lula durante o detalhamento das falas dos ministros durante a reunião.
Lula, no entanto, não entrou em mais detalhes sobre essa questão, mas a expectativa é de que Vieira reforce o tom diplomático na relação com a Venezuela e explique também a recente expulsão do embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno Dias da Costa, pelo ditador Daniel Ortega, nesta quarta (7). O governo ainda não se pronunciou oficialmente sobre isso.
Otimismo e puxão de orelha
Durante o discutso de apresentação da reunião, Lula se disse muito “otimista” com os resultados destes um ano e oito meses de governo, pediu que pessimistas falem com ele para ele “dar um pouco de otimismo”, e que “fizemos mais definição de politicas publicas do que tínhamos feito no nosso governo passado”.
Ele ainda ressaltou que não pretende trocar ministros da Esplanada mesmo em meio a cobranças e investigações – como a de Juscelino Filho, das Comunicações, indiciado pela Polícia Federal – e que cada comandante das pastas têm uma “tarefa determinada”.
“Vamos aqui afinar a viola nas coisas que temos que fazer. Todo mundo tem tarefa determinada, seu PAC [atribuições do Novo PAC], sua função. Daqui pra frente, o que nós temos que fazer é trabalhar cada vez mais, porque é importante vocês trabalharem com a ideia de que a gente não pode terminar o mandato sendo apenas mais um governo, que sai um governo e entra outro e as coisas não evoluem muito”, pontuou.
Apesar do otimisto, Lula indicou uma certa preocupação com a sucessão das presidências da Câmara dos Deputados e do Senado no ano que vem, em que os atuais mandatários – Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), respectivamente – vão deixar os cargos.
Lira já tem articulado algum candidato que tenha o apoio de Lula e que não seja vetado pela oposição, enquanto que Pacheco pretende apoiar a volta de Davi Alcolumbre (União-AP).
“A gente vai ter uma exposição do companheiro [Alexandre] Padilha [ministro das Relações Institucionais] sobre a questão política, ou seja, a nossa organização pelos próximos dois anos. [A troca de presidentes] temos que ter muita cautela para que não tenha nenhuma incidência no funcionamento do governo”, disse Lula.
A articulação política é apontada como uma das principais dificuldades do governo, que deve enfrentar mais resistência neste segundo semestre após o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) pedirem esclarecimentos e suspensão das chamadas “emendas PIX”, as transferências instantâneas de emendas parlamentares às bases eleitorais com pouco detalhamento.
O presidente da Comissão Mista do Orçamento, deputado Julio Arcoverde (PP-PI), já anunciou que vai adiar a leitura do parecer da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025 até ter uma conversa com Lira. Isso é visto como um sinal de retaliação ao governo que pode afetar a votação de outras propostas no Congresso – entre elas o avanço de propostas importantes, como a tramitação da regulamentação da reforma tributária.
Economia também preocupa
A questão econômica também é sinalizada como um ponto de preocupação de Lula. Embora ele tenha dito estar otimista e satisfeito com os índices econômicos e que o governo trabalha para reduzir ainda mais a inflação – uma das condicionantes do Banco Central para cortar a taxa básica de juros – ele lembrou da perspectiva de uma crise internacional com o aumento do dólar no mundo todo.
“Os nossos números até agora são todos positivos apesar da perspectiva de uma crise internacional que o dólar vem causando no mundo inteiro. A gente se mantém muito equilibrado, numa situação boa, emprego, salário e massa salarial crescendo e inflação totalmente equilibrada”, disse Lula.
O presidente ainda pontuou a possibilidade de fazer um lançamento do progrma Pé-de-Meia em São Paulo, a exemplo do que fez recentemente no Ceará. É um recado direto ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), a quem Lula costuma alfinetar por não participar dos eventos do governo federal.
Lula ainda fez um afago no presidente do IBGE, Márcio Pochmann, que chamou para participar da reunião e sinalizou que pode destinar mais verbas para aumentar a quantidade de pesquisas; e disse que vai chamar os 27 governadores do país nas próximas semanas para discutir o plano do governo para a segurança pública, que foi apresentado a ele pelo ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) na quarta (7).
Por outro lado, se ventilou nos bastidores que a reunião também tratará da relação do governo com os aliados que vão concorrer às prefeituras nas eleições de outubro e também dos cortes no Orçamento. Esta é a semana limite para os ministérios detalharem o que devem cortar de suas estruturas e ações.
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