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Lula recebe ditador Nicolás Maduro, da Venezuela
Lula recebe ditador Nicolás Maduro, da Venezuela| Foto: EFE/ André Coelho

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a visita do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil nesta segunda-feira (29) para criticar o dólar como principal moeda comercial do mundo. Além disso, o petista aproveitou para indicar o apoio a entrada da Venezuela no bloco do Brics, que conta além do Brasil com a Rússia, Índia, China e África do Sul.

"Não posso dizer que nunca pensei e que nunca sonhei em que a gente possa fazer comércio com as nossas próprias moedas. Eu sonho que a gente tenha a nossa moeda para que possamos fazer negócio sem que tenhamos que ficar dependendo do dólar. Até porque só tem um país tem a máquina de rodar dólar. Eu sonho que o Brics possa ter uma moeda, assim como a União Europeia construiu o euro", disse Lula.

O petista afirmou ainda que o ditador Maduro não consegue pagar suas exportações por conta das sanções impostas pelos Estados Unidos. De acordo com o presidente brasileiro, os bloqueios internacionais "são piores que um guerra".

"É culpa dele {Maduro]?, não. É culpa dos Estados Unidos, que fizeram um bloqueio extremamente exagerado. Eu sempre acho que o bloqueio é pior do que uma guerra. Normalmente na guerra morre o soldado que está em batalha, mas o bloqueio mata criança, mata mulheres, mata pessoas que não tem nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo", completou Lula.

Lula defendeu ainda que a Venezuela entre para o Brics, caso haja um pedido formal pelo país vizinho. "Se perguntar a minha vontade, eu sou favorável", disse o brasileiro. O petista, no entanto, afirmou que a próxima cúpula do bloco vai ser a sua primeira depois de vários anos. E que, se houver pedido oficial da Venezuela, ele será levado oficialmente e o bloco vai deliberar.

Maduro diz que Venezuela aspira por entrada no Brics

Na mesma linha, Maduro disse que o Brics é o "imã daqueles que querem um mundo diferente". "Se perguntarem à Venezuela: 'Vocês aspiram estar algum dia junto aos Brics?' Sim. Queremos fazer parte dos Brics, não de forma modesta, mas sim fazer parte dos Brics e acompanhar a construção dessa nova arquitetura, dessa nova geopolítica mundial, desse novo mundo que está à nossa frente", afirmou Nicolás Maduro.

O ditador venezuelano afirmou ainda que o bloco do Brics tem se transformado em um espaço para discussão de uma nova arquitetura da geopolítica mundial. Maduro ainda exaltou que vários países querem integrar o Banco dos Brics, citando especialmente um suposto interesse da Arábia Saudita, e enfatizou a presença da ex-presidente Dilma Rousseff no comando da instituição financeira.

“É um dos assuntos que conversamos sobre o papel dos Brics e seu surgimento frente a nova geopolítica mundial. É uma geopolítica que tem surgido a partir dessa resolução de conflitos e que vai trazer desenhos novos para o mundo. Que vai trazendo, por conseguinte, novos polos, centros de poder político, econômico, social, cultural e militar. Esse mundo que está sendo desenhando e que pode trazer uma América do Sul unida”, completou Maduro.

Lula diz que reunião com Maduro é "momento histórico" entre Brasil e Venezuela

Ainda durante seu discurso, o presidente Lula classificou como um "momento histórico" a visita do ditador da Venezuela. Maduro não visitava o Brasil desde 2015, quando esteve na posse do segundo mandato de Dilma Rousseff.

"É um prazer te receber aqui outra vez. É difícil conceber que tenham passado tantos anos sem que mantivessem diálogos com a autoridade de um país amazônico e vizinho, com quem compartilhamos uma extensa fronteira de 2.200 km", declarou Lula.

O presidente brasileiro classificou ainda como "absurda" a decisão de diversos países de apoiar o opositor de Maduro, Juan Guaidó com presidente da Venezuela. O Brasil, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), cortou relações com Maduro e reconhecia o líder da oposição como presidente do país vizinho.

"Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem democracia, negarem que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o cidadão [Guaidó] que foi eleito para ser deputado ser reconhecido como presidente", disse.

Lula defende que Maduro mude a "narrativa" sobre a Venezuela

O presidente brasileiro afirmou ainda que Maduro precisa trabalhar para mudar a "narrativa" contada sobre a ditadura venezuelana. O petista disse ainda vê "preconceito" dos demais países com a Venezuela.

"Acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa, para que possa efetivamente fazer pessoas mudarem de opinião. É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa, e eu acho que por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você", disse Lula.

De acordo com Lula, sua campanha sofreu críticas "por ser um amigo da Venezuela" "O preconceito contra a Venezuela é muito grande. Quantas críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela. Havia discursos e mais discursos, os adversários diziam 'Se o Lula ganhar as eleições, o Brasil vai virar uma Venezuela, uma Argentina, uma Cuba', quando o nosso sonho era que o Brasil fosse o Brasil mesmo, melhor", disse Lula.

Cúpula vai receber demais chefes de Estados da América do Sul 

O encontro com Maduro no Planalto ocorre na véspera da cúpula do Sul, que foi convocada por Lula junto aos demais chefes de Estado do continente. Ao menos dez líderes confirmaram presença no evento que será realizado no Palácio do Itamaraty.

Até esta segunda, apenas a presidente do Peru, Dina Boluarte, não tinham indicado presença no evento. O Peru vive uma grave crise política desde a destituição do agora ex-presidente Pedro Castillo, no fim do ano passado. Em seu lugar, virá o presidente do conselho de ministros do país, Alberto Otárola, uma espécie de primeiro-ministro. A Guiana Francesa não participa porque é um território ultramarino da França.

Lula vai propor aos demais chefes de Estado a criação de um novo mecanismo de coordenação com a participação de todas as nações do continente sul-americano. O objetivo é retomar um espaço de deliberação conjunta para a integração regional, a despeito das divergências políticas entre os governos.

Esse será o primeiro encontro com todo o grupo desde 2014, quando houve a última reunião da União das Nações Sul-americanas (Unasul) com todas as nações do bloco.

"O principal objetivo desse encontro é retomar o diálogo com os países sul-americanos, que ficou muito truncado nos últimos anos, e é uma prioridade do governo Lula. Temos consciência que há diferença de visão e diferenças ideológicas entre os países, mas ele [Lula] quer reativar esse diálogo a partir de denominadores comuns com os países”, explicou a embaixadora Gisela Padovan.

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