Ouça este conteúdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil enviaria uma missão de paz e não tropas para implementar um cessar-fogo na Ucrânia. Ele fez a afirmação comentando uma possibilidade levantada pela revista britânica The Economist. A publicação afirmou que o presidente americano Donald Trump considerou o envio de militares do Brasil e da China para se posicionarem na linha de frente entre tropas ucranianas e russas nos territórios invadidos da Ucrânia.
"O Brasil não enviará tropas. O Brasil só mandará missão de paz. Para negociar a paz, o Brasil está disposto a fazer qualquer coisa e é por isso que o Brasil tem brigado há exatamente dois anos. Quando os dois países quiserem sentar para conversar sobre paz, nós estaremos na mesa de negociação, se assim interessar aos países. Fora isso, o Brasil vai continuar a muitos quilômetros, longe da Rússia e da Ucrânia, defendendo a paz", afirmou Lula.
Não ficou claro se Lula se referia a uma missão diplomática ou a uma missão de paz da ONU, onde militares participam apoiados por um mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De acordo com a The Economist as tropas chinesas e brasileiras seriam uma alternativa ao envio de tropas de paz de países europeus, que não são aceitas pela ditadura de Vladimir Putin.
“Autoridades americanas estão sugerindo um tipo diferente de força de manutenção da paz, incluindo países não europeus como o Brasil ou a China, que ficariam ao longo de uma eventual linha de cessar-fogo como uma espécie de proteção”, afirmou a Economist.
A informação divulgada pela revista não faz nenhuma referência sobre a quem as tropas de paz responderiam. Uma possibilidade que vem sendo debatida internacionalmente é que seja uma força internacional aceita pela Ucrânia e pela Rússia. A fala de Lula não deixou claro se ele aceitaria a proposta de Trump somente se fosse aprovada na ONU ou se não mandaria tropas de forma alguma.
Nesta semana, o governo americano iniciou conversas com a Rússia para tratar a possibilidade de negociar o fim da guerra na Ucrânia. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o Ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, tiveram uma conversa nesta terça (18), na Arábia Saudita.
O encontro teve a intenção de buscar a normalização das relações bilaterais e estabelecer as bases para negociar o fim da guerra na Ucrânia. O conflito no Leste Europeu já dura três anos e teve início depois que o ditador Vladimir Putin ordenou que suas tropas invadisse o território ucraniano, em fevereiro de 2022.
Lula defende participação da Ucrânia em negociações de paz
O presidente Lula também defendeu que a Ucrânia seja incluída nas negociações de um cessar-fogo que estão ocorrendo entre a Rússia e os Estados Unidos inicialmente sem a participação de diplomatas de Kyiv.
“Muitos companheiros resolveram fazer muitas reuniões de paz em vários países, até no Qatar teve reunião de paz, mas as pessoas só chamavam o lado da Ucrânia. E aqui nós cansávamos de dizer não tem paz se não chamar os dois e colocar na mesa. Não tem paz só de um lado", disse Lula.
Os esforços de paz patrocinados por países do Ocidente não incluíram a Rússia até o momento, por decisão de Moscou. Os russos só começaram a negociar quando o convite foi feito pelo presidente Trump, porém o americano decidiu não convidar os ucranianos até o momento.
"Agora a preocupação de algumas pessoas é que o Trump tem que chamar o [presidente ucraniano Volodymyr] Zelensky para a mesa de negociação porque agora só tem o Putin negociando. E eu também acho errado. Não é chamar só o Putin ou chamar só o Zelensky, tem que chamar os dois, colocar numa mesa de negociação e encontrar um denominador comum que possa encontrar essa paz", disse Lula.
Diferente do que vinha fazendo antes de Trump assumir o cargo, Lula passou a defender a participação dos países europeus nas negociações.
"Acho que o papel do Trump de negociar sem querer ouvir a União Europeia é ruim, é muito ruim, porque a União Europeia se envolveu nessa guerra com muita força, com muita força, e eu acho que agora a União Europeia não pode ficar de fora da negociação. Eu penso que é possível e eu acho que se o Trump tiver jogando de verdade de querer a paz, acho que ele pode conseguir", disse Lula.