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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Plano Safra no Planalto
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Plano Safra no Planalto| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou o lançamento do Plano Safra, na terça-feira (27), como mais uma tentativa de se aproximar do agronegócio, um dos setores mais resistentes ao governo petista. Além de acenos, o governo tenta atrair a força do agro para a disputa contra o Banco Central na discussão sobre a taxa de juros do Brasil. O petista vem pressionando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por causa disso desde o início do governo.

Mesmo antes do lançamento do Plano Safra, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já havia sinalizado que o setor produtivo não deveria esperar por juros menores diante da postura do Banco Central na manutenção da taxa Selic. Agora, Fávaro defendeu que o agronegócio seja mais "contundente" nas cobranças contra a instituição comandada por Campos Neto.

O ministro apontou a queda no dólar e o impacto negativo nas importações, o que acaba por gerar menos receita ao agro. "Muitos setores do agro já estão se manifestando contra a taxa de juros e eu tenho certeza de que precisam ser mais contundentes. O agro precisa se manifestar por questão de sobrevivência", defendeu Fávaro.

Além disso, na terça-feira (27), a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou um convite para que Campos Neto preste esclarecimentos à Casa.

"Uma das metas do Banco Central é trabalhar o controle de inflação. Isso está indo muito bem. A política econômica está indo muito bem. Qual o sentido se faz em ter taxa de juros básica, a Selic, de 13,75%? O que ele pensa dos empregos, o que ele pensa do desenvolvimento desse país? Quem aprovou o nome dele foi o Senado Federal. E, ao aprová-lo, foi nessas bases e nesse compromisso. E nós temos que cobrar um posicionamento dele", disse Fávaro.

Acenos de Lula ao agro com o Plano Safra

Em seu discurso, Lula disse que o governo não é "um clube de amigos" e que se engana quem pensa que "o governo vai fazer mais ou fazer menos porque tem problemas ou não com o agronegócio". "Nós somos um governo com gente de partidos, ideologias e histórias diferentes. Se enganam aqueles que pensam que o governo pensa ideologicamente quando vai tratar de um Plano Safra. A cabeça de um governo responsável não age assim, não tem a pequenez de ficar insuflando o ódio entre as pessoas. Este país só vai dar certo se todo mundo ganhar", argumentou o petista.

Neste ano, o governo reservou o montante de R$ 364,22 bilhões para o financiamento de grandes e médios produtores rurais do país. Nesta quarta-feira (28), foi anunciado o montante de R$ 77 bilhões para pequenos agricultores. De acordo com o ministro da Agricultura, isso ocorreu por causa da divisão estrutural do Executivo, que tem também o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, comandado por Paulo Teixeira.

"O Plano Safra robusto faz parte do nosso slogan de governo, que é união e reconstrução. A união é um Brasil para todos, independente de quem votou a união vai trazer um país alegre feliz prosperando. Essa é a é a meta, o pedido e o desejo do presidente Lula. Então esse Plano Safra com valor recorde é mais um passo para essa reaproximação com [o agronegócio]", admitiu Fávaro.

Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel, vê com naturalidade a tentativa de aproximação de Lula com o setor produtivo. De acordo ele, o governo precisa ter uma visão de respeito independentemente das escolhas políticas das pessoas.

"Essa questão de se aproximar é natural. A gente tem que ter essa aproximação com o governo. O setor produtivo é um setor que hoje é muito eficiente e essa eficiência é dada a muitas pessoas que estão trabalhando com a agricultura. As pessoas têm suas escolhas [políticas], mas a gente tem que trabalhar junto. Acho que o Brasil é um só e não podemos dividir o Brasil", afirmou Schenkel.

O evento do Planalto, no entanto, aconteceu com baixa adesão de parlamentares da bancada do agronegócio. A justificativa do governo foi que o lançamento do plano ocorreu numa semana esvaziada em Brasília, que não terá sessão na Câmara.

Ainda na estratégia de reaproximação, aliados de Lula defendem que o petista mantenha os acenos ao agronegócio. A avaliação dos articuladores do Planalto é de que as últimas sinalizações já estão provocando uma redução da resistência do setor contra o governo.

Antes do lançamento do Plano Safra, Lula disse, por exemplo, que pediu ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar que liste todas as terras consideradas improdutivas no país para embasar um plano de assentamento de famílias sem-terra. O objetivo, segundo ele, é acabar com as invasões lideradas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

"Ao invés de as pessoas invadirem, a gente oferece [as terras], organiza. Essa é uma novidade que eu não pensei no primeiro e no segundo mandatos. Pensei agora, e vamos fazer", disse Lula.

De acordo com o deputado Arnaldo Jardim, Lula tem buscado dar sinalizações no esforço de reaproximação com o setor. "Acho que a declaração do Lula de que não precisa se invadir terras no Brasil e que esse é um governo que trabalha pelo desenvolvimento do agro foram muito importantes. Achei que ambas as declarações foram muito oportunas e um bom sinal para uma boa convivência do setor com o governo", afirmou o vice-presidente da FPA.

Agro questiona taxa de juros para os financiamentos do Plano Safra

O vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Schreiner, afirmou que "o volume de recursos é bastante expressivo". "A CNA faz périplos por todo Brasil e acolhe as principais demandas dos produtores rurais. A quantia vem ao encontro com aquilo que havíamos formulado e sugerido ao governo federal", afirmou.

Schreiner, no entanto, disse que o plano precisa ser aprimorado na parte de seguro rural, que ajuda o produtor a se proteger financeiramente contra prejuízos causados por desastres naturais, queda de produtividade, e outros eventos imprevisíveis.

Em nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) "reconheceu o esforço do governo federal na constituição do novo Plano Safra", no entanto, questionou o "valor destinado para a equalização de taxa de juros".

"A grande questão ainda é o valor destinado para a equalização de taxa de juros, valor que realmente entra na conta para oferecer juro menor ao produtor rural. A FPA solicitou um volume da ordem de R$ 25 bilhões para garantir as operações necessárias, mas ainda não sabemos qual o valor fechado pelo governo federal", cobrou a FPA.

Presente no evento do Planalto, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da FPA, reforçou o desejo do setor por taxas diferenciadas. "Nós gostaríamos de evoluir mais na taxa de juros, mas reconhecemos que com a taxa Selic a 13,75% isso exigiria um recurso para equalização de juros muito acentuado", argumentou Jardim.

Desgastes com o agro

Os acenos de Lula ao agro têm ocorrido após uma série de fatos de causaram desgastes com o setor. Uma delas ocorreu quando ministros ameaçaram cortar o patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow, maior feira agrícola da América Latina, o que não ocorreu. Tradicionalmente, o ministro da Agricultura sempre participa da abertura do evento, mas Fávaro cancelou sua ida depois que os organizadores convidaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Dias depois, Lula se referiu aos organizadores da Agrishow como "alguns fascistas, alguns negacionistas". Ele afirmou que os organizadores do evento "não quiseram" que o ministro da Agricultura participasse da feira. "Ele [Carlos Fávaro] não é pequeno produtor, não, ele é grande produtor. Ele é meu ministro. Tem a famosa feira da agricultura em Ribeirão Preto que alguns fascistas, alguns negacionistas não quiseram que ele fosse na feira, desconvidaram o meu ministro", afirmou o petista à época.

A informação de Lula foi imprecisa. O convite feito a Fávaro não foi retirado pela exposição. Mas ele decidiu não participar depois que o presidente da feira, Francisco Matturro, sugeriu que ele não viesse na abertura do evento, quando estaria presente o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Depois, ao tratar Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães (BA), Lula disse: "Eu quero dizer que eu venho nessa feira só para fazer inveja nos mau-caracteres de São Paulo que não deixaram o meu ministro participar", disse o presidente.

Além disso, a presença de ministros do governo Lula na Feira do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), em maio, em São Paulo, também não repercutiu bem entre representantes do setor. Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Luiz Marinho (Trabalho) e Márcio Macedo (Secretaria-Geral) estiveram na feira.


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