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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez pronunciamento na véspera do Natal
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez pronunciamento na véspera do Natal| Foto: Reprodução/Youtube/Governo Federal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em mensagem de Natal transmitida em cadeia nacional de rádio e televisão neste domingo (24), pediu união ao Brasil frente à polarização. Contudo, ele mesmo, ao longo do ano, apostou na divisão como estratégia política, constantemente criticando seus adversários, em especial o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lembrando a invasão às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, Lula disse que o ódio contra a democracia "deixou cicatrizes profundas e dividiu o país", mas que a "tentativa de golpe", segundo ele, resultou na união das instituições do país, acima de ideologias.

"Ao final daquele triste 8 de janeiro, a democracia saiu vitoriosa e fortalecida. Fomos capazes de restaurar as vidraças em tempo recorde, mas falta restaurar a paz e a união entre amigos e familiares", disse, para então emendar que é necessário diálogo entre as pessoas, combate às fake news e ao discurso de ódio. “Somos um mesmo povo e um só país... Que no ano que vem sigamos unidos, caminhando juntos rumo à construção de um país cada vez mais desenvolvido, mais fraterno e mais justo para todas as famílias”, encerrou.

Apesar da mensagem conciliatória de Natal, o presidente optou por outro caminho ao longo de 2023, quando fez duras críticas a adversários políticos e estimulou a polarização. Já chamou seguidores de Bolsonaro de “extremistas”, “animais selvagens”, “incivilizados” e “malucos soltos nas ruas”. Em nome de um "combate ao ódio" na sociedade, Lula vem incitando os simpatizantes contra uma parte expressiva do eleitorado e se distanciando da promessa de encerrar a polarização ideológica, em favor da pacificação.

Um exemplo recente disso foi o discurso que fez em uma convenção do Partido dos Trabalhadores (PT) no começo do mês. Ele disse aos correligionários na ocasião: "Nós sabemos que (vocês) não podem aceitar provocações, não podem ficar com medo, não podem enfiar o rabo no meio das pernas. Quando um cachorro late para a gente, a gente late também".

Outra frase polêmica de Lula nesse ano foi dirigida ao senador paranaense Sergio Moro (União), ex-juiz da Lava Jato. Em entrevista ao site petista Brasil 247, o presidente falou sobre um desejo de vingança contra Moro. “De vez em quando ia um procurador de sábado ou de semana pra visitar se estava tudo bem, entrava três ou quatro, e perguntava ‘tudo bem?’, e eu falava ‘não tá tudo bem, só vai tá bem quando eu f… esse Moro. Estou aqui pra me vingar dessa gente’”.

Não apenas Bolsonaro, a quem Lula chama de "fascista" e "genocida", e Moro foram alvos do presidente neste ano, mas também segmentos que fortaleceram seu adversário político nas eleições passadas. Ele, por exemplo, disse que parte dos agricultores do país é "fascista" e "negacionista".

“Tem a famosa feira da agricultura em Ribeirão Preto, que alguns fascistas, alguns negacionistas, não quiseram que ele [ministro da Agricultura, Carlos Fávaro] fosse na feira. Desconvidaram meu ministro”, falou Lula – embora Fávaro tenha, sim, sido convidado para a feira.

Na mensagem de Natal, Lula deixou de lado o discurso agressivo. Ao falar sobre investimentos públicos, disse que seu governo fez "parceria com estados e municípios, sem perguntar qual o partido do governador ou do prefeito".

O que mais Lula disse no discurso de Natal

No pronunciamento de Natal, Lula também fez uma avaliação positiva de seu primeiro ano de governo neste terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto, exaltando aprovação da reforma tributária, a sua política externa e índices econômicos melhores do que o esperado pelo mercado.

“O país voltou a ser ouvido nos mais importantes fóruns internacionais, em temas como o combate à fome, à desigualdade, a busca pela paz e o enfrentamento da emergência climática”, falou, citando ainda queda no desmatamento da Amazônia até novembro.

Sobre a reforma tributária, disse que “além de estimular os investimentos e as exportações", a proposta promulgada na semana passada "corrige uma injustiça: agora, quem ganha mais pagará mais imposto, e quem ganha menos pagará menos".

“Aumentamos os investimentos em saúde e educação e estamos apoiando os Estados no combate ao crime organizado. Além de armamento pesado, apreendemos R$ 6 bilhões de reais em bens do narcotráfico, entre dinheiro vivo, apartamentos, mansões, automóveis de luxo e até aviões e helicópteros”, afirmou – embora a segurança pública tenha sido um dos principais problemas de imagem para o governo e para o PT em 2023, com as notícias de aumento da violência na Bahia e no Rio de Janeiro e, mais recentemente, a visita da "dama do tráfico" do Amazonas ao Ministério da Justiça.

Leia a íntegra da mensagem de Lula

"Minhas amigas e meus amigos, uma das maiores alegrias da vida é poder colher aquilo que se plantou. Por isso, eu me considero uma pessoa feliz. 2023 foi o tempo de plantar e de reconstruir. Aramos o terreno, lançamos as sementes, aguamos todos os dias, cuidamos com todo o carinho do Brasil e do povo brasileiro. Criamos todas as condições para termos uma colheita generosa em 2024.

Trouxemos de volta e fortalecemos políticas sociais que mudaram o Brasil, a exemplo do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida, do Mais Médicos e da Farmácia Popular.

O PIB [Produto Interno Bruto], que é a soma de toda a riqueza que o país produz, cresceu acima das previsões do mercado. A inflação está sob controle, o preço dos combustíveis está caindo e a comida ficou mais barata. O dólar caiu e a Bolsa de Valores está batendo recordes. Geramos 2 milhões de novos empregos com carteira assinada. O salário mínimo voltou a subir acima da inflação e mais de 80% das categorias profissionais também tiveram aumento real. Aprovamos a igualdade salarial entre homens e mulheres. Trabalho igual, salário igual.

Com o Desenrola, milhões de brasileiros e brasileiras renegociaram suas dívidas com descontos de até 98%. Cuidamos com responsabilidade dos recursos públicos. Investimos onde era preciso investir, em parceria com Estados e municípios, sem perguntar qual o partido do governador ou do prefeito.

Aprovamos a taxação dos super-ricos. Conseguimos um feito histórico: a aprovação da reforma tributária, algo que se tentava há 40 anos no Brasil. Além de estimular os investimentos e as exportações, a reforma corrige uma injustiça: agora, quem ganha mais pagará mais imposto, e quem ganha menos pagará menos;

Aumentamos os investimentos em saúde e educação e estamos apoiando os estados no combate ao crime organizado. Além de armamento pesado, apreendemos R$ 6 bilhões em bens do narcotráfico, entre dinheiro vivo, apartamentos, mansões, automóveis de luxo e até aviões e helicópteros.

Meus amigos e minhas amigas, o Brasil voltou a ter um governo de verdade. Em 2024, vamos trabalhar fortemente para superar, mais uma vez, todas as expectativas. O Plano Safra 2023-2024 é o maior da história. A Nova Política Industrial vai gerar mais e melhores empregos, mais qualificação e melhores salários. Com o Novo PAC, R$ 1 trilhão e 700 bilhões serão investidos na infraestrutura que o Brasil tanto precisa, com a geração de 4 milhões de empregos.

Recuperamos o diálogo com o mundo e a nossa credibilidade internacional. Passamos da 12ª para a 9ª maior economia do planeta. O país voltou a ser ouvido nos mais importantes fóruns internacionais, em temas como o combate à fome, à desigualdade, a busca pela paz e o enfrentamento da emergência climática.

O desmatamento na Amazônia caiu 68% em novembro. Aumentamos os investimentos em biocombustíveis e na geração de energia eólica e solar. Estamos dando os primeiros passos na produção de hidrogênio verde, a energia do futuro. Consolidamos o papel do Brasil como potência mundial na produção de energia renovável.

Minhas amigas e meus amigos, o ódio de alguns contra a democracia deixou cicatrizes profundas e dividiu o país. Desuniu famílias. Colocou em risco a democracia. Quebraram vidraças, invadiram e depredaram prédios públicos, destruíram obras de arte e objetos históricos.

Felizmente, a tentativa de golpe causou efeito contrário. Uniu todas as instituições, mobilizou partidos políticos acima das ideologias, provocou a pronta reação da sociedade. E ao final daquele triste 8 de Janeiro, a democracia saiu vitoriosa e fortalecida. Fomos capazes de restaurar as vidraças em tempo recorde, mas falta restaurar a paz e a união entre amigos e familiares. Meu desejo neste fim de ano é que o Brasil abrace o Brasil. Somos um mesmo povo e um só país.

Vamos combater as fake news, a desinformação e os discursos de ódio. Valorizar a verdade, o diálogo entre as pessoas. Que no ano que vem sigamos unidos, caminhando juntos rumo à construção de um país cada vez mais desenvolvido, mais fraterno e mais justo para todas as famílias. Um Feliz Natal e um 2024 do tamanho dos nossos sonhos. Um grande abraço”.

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