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acordo UE-Mercosul
Os presidentes Lula, do Brasil, e Emmanuel Macron, da França| Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O presidente da França, Emmanuel Macron, desembarca no Brasil nesta terça-feira (26) para fazer um tour pelo país. Macron pretende tratar de temas como "economia verde", biodiversidade e a agenda bilateral com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em contrapartida, eles não devem discutir o acordo entre Mercosul e União Europeia, do qual Macron já mostrou ser um grande opositor.

Os presidentes da França e do Brasil já trocaram farpas por causa do tratado, que é negociado há mais de 20 anos. Enquanto Lula tenta destravar as negociações, Macron já chegou a dizer que o acordo seria "impossível". Em seu discurso durante a COP 28, em Dubai, no último ano, o francês criticou publicamente o acordo, o qual - se for fechado - irá se tornar o maior entre blocos do mundo.

"Sou contra o acordo Mercosul-UE, porque acho que é um acordo completamente contraditório com o que ele [Lula] está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo […] Não leva em conta a biodiversidade e o clima dentro dele. É um acordo comercial antiquado que desmantela tarifas”, disse o presidente francês. O tema já gerou longas conversas entre Lula e Macron, mas o chefe do Executivo na França parece irredutível sobre sua oposição.

Especialistas afirmam que a oposição de Macron contra o acordo com o Mercosul trata-se de protecionismo. A França é considerada a maior produtora agrícola da União Europeia e teme perder mercado para os produtos sul-americanos. Além disso, Macron vem sofrendo com a impopularidade entre os franceses e não quer desagradar seu eleitorado. Neste ano, uma onda de manifestações alastrou-se na Europa entre agricultores que se posicionavam contra o acordo. Desde então, as negociações estão travadas.

Além dessa questão, Lula e Macron também divergem em temas relevantes no atual contexto geopolítico. Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a França tem fornecido apoio a Kyiv e impôs uma série de sanções contra Moscou. A estratégia foi tomada com a intenção de pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, a colocar um fim no conflito.

O Brasil, por outro lado, foi contra tais medidas. Lula justifica que o Brasil, historicamente, é contra embargos, pois, na visão dele, prejudicam apenas a população e não atingem aqueles que provocam a guerra. Recentemente, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, chegou a afirmar que as tentativas de resolver o conflito na Europa se transformaram em um "monólogo".

"Foram muitas as iniciativas promovidas pela União Europeia de projetos de paz [entre Rússia e Ucrânia]. Só que só tem um lado [a Ucrânia]. Então fica difícil. Não é um diálogo, é um monólogo. Eu acho que para que haja um entendimento, para que se possa chegar a alguma coisa, é preciso sempre estarem os dois lados presentes", disse Vieira ao defender a inclusão da Rússia nos diálogos para a paz sobre a guerra que Putin iniciou.

Sem discussão sobre acordo com Mercosul, economia e relação bilateral ganham peso

A fim de evitar maiores ruídos, a agenda entre os presidentes do Brasil e da França deve ser pautada majoritariamente pela questão econômica e o relacionamento bilateral. Conforme informou o Ministério de Relações Exteriores, há cerca de 30 memorandos em discussão e metade deles deve ser fechado no encontro entre Macron e Lula em Brasília. Além de acordos na área de biodiversidade e economia sustentável, os presidentes devem fechar parcerias na área de estratégia e defesa.

No Rio de Janeiro, Macron visitará a base naval de Itaguaí, onde estão sendo construídos submarinos de design francês. Há a expectativa de ampliar a parceria fechada entre os dois países para a construção de submarinos, inicialmente selada em 2008.

Também devem ser discutidas questões relacionadas ao combate das “fake news”. De acordo com o governo federal, os dois países vão discutir a troca e proteção mútua de informação e cooperação com a intenção de combater as notícias falsas.

Macron ainda traz consigo um grupo de cerca de 40 empresários com a intenção de ampliar a relação empresarial entre os dois países e aumentar o investimento francês no Brasil. As propostas dos europeus também devem ter foco na sustentabilidade e na "economia verde".

O presidente da França também passará por São Paulo. Ele irá se reunir com empresários e participará de um fórum econômico na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Lula tentará emplacar sua narrativa sobre desmatamento na Amazônia

Na passagem pelo Brasil, Macron também vai visitar a Foz do Rio Amazonas, em Belém (PA), e deve tratar dos desafios ambientais enfrentados pela região, bem como os planos do Brasil para a COP30, que a capital paraense vai sediar em 2025.

Já Lula tem a intenção de mostrar a Macron como a região amazônica "vai além de uma grande floresta". O presidente francês fez críticas a Lula nos últimos meses no sentido de que o Brasil tem tido dificuldade para proteger a região amazônica do desmatamento. Por outro lado, o petista defende que haja crescimento sustentável enquanto a população local tenha uma fonte de renda.

"Lula quer mostrar a Macron a complexidade da realidade amazônica e o fato de a região não ser apenas uma grande floresta, mas também um local com grande população que depende da Amazônia para sua sobrevivência. [Queremos discutir] como trabalhar com essas populações de modo que elas possam ter uma fonte de renda, uma vida digna, mas, ao mesmo tempo, respeitando e preservando a biodiversidade e a floresta de um modo geral", informou a embaixadora e secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty, Maria Luisa Escorel de Moraes.

Antes de vir ao Brasil, porém, Macron visitará a Guiana Francesa. A França possui cerca de 1% da floresta amazônica devido ao seu território ultramarino na América do Sul, a Guiana Francesa. Brasil e o país sul-americano ainda compartilham aproximadamente 700km de fronteira.

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