Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Legislativo

Manobra regimental pode manter Eduardo Bolsonaro no cargo mesmo fora do Brasil

Eduardo Bolsonaro
Regimento interno da Câmara permite que deputados faltem até um terço das sessões sem perder o mandato. (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Ouça este conteúdo

Mesmo com o fim da licença oficial, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pode seguir como parlamentar em exercício e recebendo salário da Câmara dos Deputados estando fora do país. O regimento interno da casa abre brechas para que ele continue no cargo sem infringir diretamente as regras, desde que respeite o limite de faltas permitido.

A possibilidade de Eduardo Bolsonaro prolongar o mandato provocou reação da base governista, que tenta barrar eventuais manobras para que ele siga como deputado mesmo estando nos Estados Unidos, onde ele atua politicamente em favor do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A licença de Eduardo terminou oficialmente na última segunda (21), após 120 dias, que ele pediu para tratar de assuntos pessoais sem remuneração. Durante esse período, o deputado se reuniu com autoridades americanas para impor sanções inicialmente ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

VEJA TAMBÉM:

Moraes é o relator do processo que investiga a suposta participação de Bolsonaro em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O ex-presidente é apontado pelas investigações como líder do plano.

Eduardo, no entanto, pode contar com uma brecha regimental da Câmara para seguir com o mandato, inclusive recebendo salário e verbas de gabinete. Segundo o regimento interno da casa, um parlamentar pode faltar a até um terço das sessões ordinárias em um ano sem que isso implique perda do cargo.

“Art. 240. Perde o mandato o Deputado: [...] III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa ordinária, à terça parte das sessões ordinárias da Câmara, salvo licença ou missão autorizada”, diz o documento (veja na íntegra).

O mesmo diz a Constituição de 1988, que também estabelece o quantitativo de um terço de faltas aos deputados como motivo para a perda do mandato (veja na íntegra).

Na prática, Eduardo pode continuar ausente por 40 a 44 sessões — especialmente se forem justificadas mesmo de forma genérica. Dessa forma, mesmo sem licença vigente e sem comparecer, o deputado se mantém com status de mandato ativo, o que garante salário, equipe de gabinete e foro privilegiado.

O prazo para a contagem das faltas começa a contar a partir do dia 1º de agosto, quando a Câmara retoma os trabalhos após o recesso parlamentar. Normalmente, as votações são realizadas em três dias da semana, com participação remota às quintas. Isso pode beneficiar Eduardo de votar à distância e diminuir a quantidade de sessões que ele faltaria.

VEJA TAMBÉM:

Nomeação para se manter fora do país

A base governista reagiu a essa movimentação e o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, protocolou na terça (22) um pedido a Moraes para que Eduardo Bolsonaro seja impedido de ser nomeado para qualquer cargo público por governadores aliados.

A intenção, diz, seria impedir que o parlamentar obtenha uma nomeação simbólica que funcione como pretexto para permanecer fora do país com proteção institucional. A representação também solicita o afastamento cautelar de Eduardo do mandato e o bloqueio do salário.

O pedido menciona articulações entre governadores da oposição para nomeá-lo em cargos comissionados – como Cláudio Castro (PL-RJ), Tarcísio de Freitas (PL-SP) e Jorginho Mello (PL-SC) –, em uma estratégia semelhante à da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de nomear Lula para a Casa Civil em 2016, barrada por decisão do Supremo à época.

Segundo afirma Lindbergh na petição, a possível nomeação de Eduardo Bolsonaro representaria uma tentativa clara de fraudar a jurisdição penal e eleitoral, burlar os controles legais e as investigações em curso.

Ele diz, ainda, que Eduardo estaria nos EUA junto ao jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Figueiredo, para articular sanções contra o Brasil, o que, de acordo com o líder do PT, seria um ato "antipatriótico".

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.