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Expulsão

Muito além do “meme”: o peso político da expulsão de Alexandre Frota do PSL

Expulsão de Frota foi anunciada pelo PSL em 13 de agosto (Foto: Cleia Viana / Câmara dos Deputados)

"Eu não queria perder nenhum deputado. Mas a manutenção dele no partido era impossível. E agora não adianta chorar o leite derramado". A declaração do líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), um dia após a confirmação da expulsão do deputado Alexandre Frota (SP) do partido, dá o tom de como a legenda do presidente Jair Bolsonaro vai tentar lidar com os efeitos do afastamento de um dos seus integrantes mais célebres.

A compreensão no PSL é que o episódio deve servir como um aprendizado para o partido - mais um entre tantos de uma sigla que passou de nanica a gigante em um curto espaço de tempo e que, desde então, tem registrado expressivo número de conflitos entre seus integrantes.

Desde a expulsão, anunciada na terça-feira (13), Frota tem se mantido discreto. Apagou seus perfis nas redes sociais e não anunciou seu destino, ou mesmo se ficará como deputado sem partido. O presidente do DEM, ACM Neto, falou abertamente que convidou o parlamentar a ingressar na legenda. Frota relatou, ainda antes do afastamento do PSL, que havia sido sondado por outros partidos, e o PSDB é mencionado como um possível destino.

Impactos da expulsão de Frota no jogo político da Câmara

A exclusão de Frota do PSL não foi, até o momento, formalizada pelo partido à Mesa Diretora da Câmara. Quando se efetivar, terá como primeiro resultado prático transformar o PT no partido líder isolado com a maior bancada de deputados federais - hoje, a legenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divide a primeira posição com o PSL, tendo ambas as siglas 54 representantes cada.

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Mas mesmo antes de ser formalmente desligado do PSL, Frota já foi destituído pelo partido das duas comissões da Câmara da que era titular, a de Legislação Participativa e a de Cultura. As vagas nas comissões são designadas pelos partidos, e modificações independem de processos de exclusão. Caso Frota permaneça sem partido, terá direito, pelo regimento da Câmara, de ser titular em uma comissão.

O deputado, entretanto, não terá o seu mandato reivindicado pelo PSL, como costuma ocorrer no caso dos parlamentares que trocam de legenda. O entendimento do Judiciário é o de que expulsão não é um elemento que configure infidelidade partidária.

Para além dos impactos "numéricos" da exclusão, o afastamento de Frota do PSL pode levar a um maior alinhamento - ainda que forçado - dos membros da bancada. "Isso vai, com certeza, apaziguar bastante o clima dentro da bancada. Vai conter insubordinações, porque vai levar as pessoas a ficarem com medo de serem expulsas do partido. É um efeito de enquadramento", declarou um deputado do partido. Ao longo do ano, o grupo de deputados do PSL tem registrado conflitos internos, que em algumas ocasiões reproduzem brigas do Executivo, como as disputas entre seguidores do filósofo Olavo de Carvalho e militares.

Caso Frota vá para o PSDB, fará com que o partido passe a ter 31 deputados federais, empatando com o PRB como a sexta maior bancada. O deputado tucano Domingos Sávio (MG) diz "não ver problema" na chegada do parlamentar à legenda. "Pessoalmente, não tenho nenhuma objeção à entrada dele no partido. Ele nasceu para a vida parlamentar em 1o de fevereiro e desde então tem sido, até onde eu tenho visto, um deputado frequente, presente, envolvido com os debates. Não o conheço o suficiente para dizer que o estou recomendando, mas não veria problemas na chegada", disse.

E se Frota for para outro partido ou permanecer sem filiação pelo restante do mandato, Sávio acredita que a decisão trará pouco impacto ao contexto político do parlamento. Para o tucano, a adesão que Frota tem mostrado às pautas econômicas do governo deve permanecer mesmo após o rompimento entre o deputado e o PSL.

Busca por um "crescimento qualificado"

Retirar Frota do PSL pode ter sido o pretexto para que o partido crie um "filtro ideológico" para a recepção de novos filiados. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o PSL estuda, a pedido do presidente Bolsonaro, aferir a adesão dos pretendentes ao ingresso no partido a temas como combate ao aborto e à ideologia de gênero e ao liberalismo econômico.

A medida aparece em um momento em que o PSL está às vésperas de executar uma ambiciosa campanha de filiação. O partido agendou para o próximo dia 17 um ato para a recepção de novos integrantes, e publicou vídeos em redes sociais para divulgar a iniciativa.

A campanha de filiação tem como foco a eleição de 2020, a primeira disputa municipal após o PSL ter se tornado um gigante no cenário partidário brasileiro. O presidente nacional da legenda, Luciano Bivar, disse que pretende lançar candidato próprio em todas as cidades com mais de 100 mil habitantes. A candidatura no maior município brasileiro, São Paulo, também estaria por trás da expulsão de Alexandre Frota - o deputado estava alinhado com Joice Hasselmann, que quer concorrer ao comando da capital paulista e tem a objeção do senador Major Olímpio, adversário de Frota e que celebrou publicamente o afastamento.

A atração de novos e "qualificados" filiados busca também reverter um quadro de crescimento abaixo do esperado que marcou o PSL dentro da Câmara dos Deputados em 2019. Ao longo do ano, o partido ganhou apenas uma vaga na casa - a da deputada Bia Kicis (DF), que fora eleita pelo PRP. Como o PSL é o partido do presidente da República, havia a expectativa de que mais parlamentares ingressassem na legenda. Existe hoje no Congresso uma bancada "bolsonarista informal", de parlamentares que apoiam o governo e tem identificação ideológica com os valores defendidos por Bolsonaro, mas preferem permanecer em outras siglas. O grupo reúne, entre outros, os deputados Capitão Augusto (PR-SP), Otoni de Paula (PSC-RJ), Marco Feliciano (Podemos-SP) e Éder Mauro (PSD-PA).

Expulsões do passado

A legislatura anterior, encerrada no início de 2019, também teve casos de expulsão de parlamentares.

Um dos de maior repercussão foi o do hoje ex-deputado Cabo Daciolo (RJ). Ele foi eleito pelo PSOL em 2014 e permaneceu no partido até o ano seguinte. Foi expulso após propor uma emenda à Constituição que diria que “todo o poder emana de Deus”. O partido entendeu que a proposta feria o princípio do Estado laico. Após sair do PSOL, Daciolo passou pelo Avante e depois pelo Patriota, pelo qual concorreu à Presidência da República em 2018.

O processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) levou à expulsão de Giovani Chierini do PDT, em 2016. O deputado do Rio Grande do Sul, hoje filiado ao PR, votou pelo afastamento da petista, contrariando decisão do partido. Ele não foi o único integrante do PDT que optou pelo impeachment, mas os demais não foram penalizados com a exclusão.

Já a atual ministra da Agricultura, Tereza Cristina, esteve prestes a passar por um processo de expulsão em 2017. À época, ela estava no PSB e não seguiu a decisão do partido de passar à oposição ao governo do então presidente Michel Temer (MDB). Tereza migrou para o DEM, partido pelo qual foi eleita deputada em 2018, apoiando a candidatura de Jair Bolsonaro.

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