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Jair Bolsonaro, durante reunião com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Jair Bolsonaro cumprimenta com um tapinha nas costa o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa: política também se faz com pequenos gestos. Foto: Alan Santos/PR.| Foto: PR

O presidente Jair Bolsonaro decidiu se curvar ao poder do cafezinho e do tapinha nas costas para formar sua base de apoio no Congresso e, principalmente, aprovar a reforma da Previdência, o principal projeto deste início de governo. Logo depois de ter voltado de sua viagem a Israel, ele vem reservando um tempo para conversar pessoalmente com parlamentares. “Vou deixar pelo menos meio dia da minha agenda no Brasil para atender deputados e senadores”, disse Bolsonaro. Nesta quinta-feira (5), o presidente terá reuniões reservadas com líderes do MDB, DEM, PSDB, PSD, PP, PR e PRB. E os encontros pessoais vão continuar no próximos dias.

A nova estratégia do contato direto com parlamentares tem uma justificativa. Além dos grandes projetos e da disputa pela distribuição de verbas públicas e cargos, a política brasileira também se constrói com pequenos gestos: o convite para uma reunião no gabinete presidencial, um cafezinho, uma conversa particular.

“[Parlamentar] é como o eleitor. O eleitor quer que a gente peça o voto para ele. Então é isso que o presidente tem que fazer também”, resume o experiente deputado federal Ricardo Barros (PP-PR).

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O aceno aos parlamentares de iniciar o diálogo é visto como indispensável já que Bolsonaro, com o discurso contrário à "velha política", desagradou a muitos parlamentares. Ele avaliou que está na hora de reconstruir pontes com um bate-papo olho no olho.

O caso de Dilma: poucos convites a parlamentares e muitos votos no impeachment

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) é um exemplo de como ignorar o poder do contato pessoal na política pode ser problemático para um presidente. Durante seus dois mandatos (2011-2016), ela se manteve distante da articulação direta com os deputados. Um levantamento feito pelo jornal O Globo, em 2014, mostrou que durante o primeiro mandato, Dilma recebeu apenas 15 dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores).

A inabilidade política de Dilma sempre a levou a ser comparada com ex-presidente Lula, conhecido por ser um grande articulador. Ela chegou a reconhecer essa falha e a se desculpar pela falta de diálogo com os parlamentares durante uma audiência no Senado em 2016. Mas não deu tempo de mudar a percepção no Congresso. E ela sofreu o impeachment com o voto da maioria de deputados e senadores.

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Discurso contra a política incomoda parlamentares

Bolsonaro arrumou atritos com o Congresso ao usar o discurso da "nova política" contra a "velha política". Para o deputado Ricardo Barros, ele terá de deixar esse discurso para trás na relação com o Congresso. “O presidente Bolsonaro se elegeu num momento da anti-política, e grande parte dos nosso colegas [no Congresso] também se elegeu fazendo anti-política. Só que agora eles estão na política, entraram no sistema. Vão ter que aprender a lidar com o sistema”, ressalta Barros.

“A negociação, a conversa, o entendimento, a parceria: isso não tem [a ver com] ‘nova política’; só tem política. (...) A negociação tem que acontecer de qualquer forma. Obviamente, se espera que seja dentro da ética e da legalidade”, diz o cientista político Másimo Della Justina, professor do Departamento de Ciências Econômicas da PUCPR.

Della Justina destaca que, nesse sentido, abrir o gabinete e o palácio para receber os parlamentares têm um peso simbólico. Mas ele alerta que a iniciativa de conversar não pode ser responsabilidade apenas do presidente; é preciso envolver toda a equipe: vice-presidente, ministros e partidos. Até mesmo para não centralizar o poder.

O deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR) acredita que a centralização do poder  torna “muito mais trabalhoso" o processo de articulação política. E, passados três meses de governo, ainda não há uma base aliada. “Veja o que aconteceu na CCJ [com a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes]. Mostrou que não há uma organização, não há uma articulação, não tem uma base aliada para defender os projetos do governo”, diz Bueno.

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De qualquer modo, ao menos os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, já entraram na articulação política para aprovar a reforma da Previdência. E estão recebendo parlamentares para reuniões pessoais, assimo como Bolsonaro.



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