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“Insegurança jurídica”

OEA critica decisão de Toffoli que anulou provas obtidas pela Lava Jato

OEA critica decisão de Toffoli que anulou provas obtidas pela Lava Jato
OEA disse que decisões de Toffoli podem “minar confiança pública” e sugeriu melhorias em acordos de leniência contra "suborno transnacional". (Foto: Fellipe Sampaio/STF)

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A Organização dos Estados Americanos (OEA) alertou que as decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli que levaram à anulação das provas obtidas pela Operação Lava Jato a partir dos sistemas da Odebrecht (atual Novonor) podem “minar a confiança pública” e gerar “insegurança jurídica”.

A Comissão de Peritos do Mecanismo de Acompanhamento da Implementação da Convenção Interamericana contra a Corrupção (MESICIC) elaborou um relatório após a 6ª Rodada de Avaliação do Brasil sobre a adoção das regras. O documento foi divulgado nesta quarta-feira (19).

Em setembro de 2023, Toffoli declarou a nulidade de todos os atos tomados na esteira do acordo de leniência da Odebrecht firmados durante a Lava Jato. A decisão atingiu todos os processos que utilizaram provas obtidas nos sistemas Drousys e My Web Day B. O ministro considerou que o material estava contaminado devido a irregularidades processuais com base em evidências encontradas durante a Operação Spoofing.

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“Essa sentença teve importantes repercussões em vários procedimentos judiciais que se baseavam nas referidas provas, o que levou à suspensão ou anulação de alguns casos”, citou a comissão da OEA.

Em fevereiro de 2024, Toffoli aceitou uma solicitação da Odebrecht para suspender o pagamento de multas de R$8,5 bilhões previstas no acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal (MPF).

Os termos do acordo da Odebrecht e de outras empreiteiras investigadas pela Lava Jato, que deviam cerca de R$ 12 bilhões (em valores atualizados) aos cofres públicos, foram renegociados com o aval do STF. Após a revisão, o governo deu um “desconto” de mais de R$ 5,7 bilhões às empresas.

A renegociação ocorreu após o Psol, o PCdoB e o Solidariedade pedirem a suspensão dos acordos de leniência firmados até agosto de 2020 pela força-tarefa, antes do Acordo de Cooperação Técnica (ACT), que padronizou os critérios para a aplicação das multas. Para a OEA, as renegociações e as suspensões de pagamentos “podem gerar incerteza e possíveis atrasos em seu cumprimento”.

“Esses problemas correm o risco de minar a confiança pública no uso desses acordos e podem contribuir para uma sensação de insegurança jurídica para as pessoas jurídicas, enquanto navegam por estruturas normativas em evolução, possíveis renegociações de acordos e dúvidas sobre a aplicação e equidade das obrigações financeiras estabelecidas nesses acordos”, diz o relatório.

A comissão sugeriu ao Brasil que revise a implementação dos acordos de leniência para identificar possíveis melhorias no combate ao suborno transnacional.

ONG cobra regulamentação de leniência após relatório da OEA

No início deste mês, a ONG Transparência Internacional citou a decisão de Toffoli ao denunciar o Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA pelo desmonte no combate à corrupção. Após a divulgação do relatório, o diretor executivo da entidade, Bruno Brandão, cobrou a regulamentação dos acordos de leniência.

“A falta de regulamentação adequada sobre a transparência dos acordos de leniência no Brasil impede qualquer controle social sobre a conformidade, proporcionalidade e cumprimento dos acordos assinados pelas autoridades com criminosos”, disse Brandão, em nota.

“Os acordos da Odebrecht são um exemplo drástico. Há quase uma década, as informações sobre o suborno transnacional confessado pela empresa em mais de uma dezena de países permanecem sob sigilo e, com as anulações recentes, é possível que jamais venham à luz. Não é digno que o Brasil se torne um cemitério de provas sobre a corrupção transnacional”, acrescentou.

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