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Deputados da ala direitista do PL protestam contra Lula no dia da posse na Câmara Federal.| Foto: Reprodução/Twitter

O Partido Liberal (PL) promete uma postura de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso, mas com "respeito às individualidades", dizem parlamentares da legenda. Ou seja, a sigla vai respeitar a pluralidade política de suas bancadas no Senado, onde há maior coesão de ideias, e na Câmara, onde há uma divisão entre deputados de centro, centro-direita e direita.

Detentor da maior bancada na Câmara, com 99 deputados federais, e a segunda maior do Senado, com 12 senadores, o PL tem parlamentares que prometem fazer uma oposição mais combativa e ideológica ao governo e até aqueles que não descartam compor a base de Lula.

O presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, orienta que o partido comande a oposição, mas, ciente de alguns interesses divergentes, diz compreender o interesse de alguns políticos por emendas parlamentares. Por isso, não colocará impedimento àqueles que buscarem algum contato com o governo Lula, sobretudo para negociar a liberação de recursos para seus estados em troca de votações alinhadas com o Palácio do Planalto.

Porém, Valdemar tem orientado que as bancadas "evitem" o pedido de cargos, asseguram reservadamente dois deputados da sigla. Segundo os parlamentares, a negociação por cargos seria para Valdemar um gesto de relacionamento muito estreito e próximo para um partido que se dispõe a ser oposição. Nunca é demais lembrar que o PL é a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Por ora, contudo, os deputados avaliam que não há um movimento forte e organizado de aproximação ao governo. "Isoladamente, há, sim, alguns que têm uma tendência a se aproximar do governo, mas é uma minoria, não é a posição de partido. Não há uma dissidência", diz um deputado.

Da mesma forma que Valdemar tem orientado os deputados mais ao centro em relação ao governo Lula, ele também tem apelado para que os parlamentares mais à direita conduzam seus mandatos e críticas de forma enérgica, mas sem ataques diretos e incisivos a um poder como o Supremo Tribunal Federal (STF). O mandatário entende, porém, que discordâncias a decisões tomadas são cabíveis dentro do respeito à liberdade de expressão, desde que ponderadas.

Como é a divisão do PL e qual o posicionamento de cada ala do partido

A ala de parlamentares mais ao centro do PL concentra aqueles mais dispostos a uma postura de neutralidade ao governo e até alguns interessados em se incorporar à base de Lula. São deputados que têm uma característica mais municipalista, então costumam ser muito dependentes da transferência de recursos da União para suas bases eleitorais. Até por esse motivo acenam positivamente ao governo.

No Senado, esse grupo é uma minoria. Aguns chegam a citar apenas o senador Romário (PL-RJ) em uma condição mais municipalista. Na Câmara, alguns deputados calculam que esse grupo pode variar entre 15 e 20 deputados dependendo da pauta, mas o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição, entende que até entre os mais ao centro há quem concorde com a ideia de oposição.

"Existe algo em torno de uns 20 e poucos deputados, que são aqueles mais de centro, que também concordam que devemos ser oposição. É uma minoria que são, digamos, municipalistas, ou que são de redutos em que o PT é muito forte, ou que há um oportunismo, foram reeleitos pelo [ex-] presidente Bolsonaro e agora querem ir para o lado do Lula ter suas benesses", afirma.

O grupo à centro-direita do PL é composto por deputados conservadores que pregam uma "oposição moderada", que se dispõe a votar e se posicionar habitualmente contra a gestão petista, mas em votar a favor quando entender que a pauta é favorável ao país. É composta por uma maioria no Congresso, tanto no Senado quanto na Câmara.

Entre esses conservadores, alguns apoiam a construção de uma direita moderada e independente do ex-presidente Bolsonaro. Em respeito à influência e aos votos obtidos na última eleição, outros acreditam que o ex-chefe do Executivo precisa participar do processo de reorganização e não pode ser excluído do debate.

A ala mais à direita é composta por deputados mais simpáticos e alinhados a Bolsonaro, que se propõe a fazer uma oposição mais combativa e até ideológica a Lula. Segundo dois deputados, chegam a algo próximo de 30 deputados. O grupo mais fiel a Bolsonaro acena com mais disposição de manter vivo o capital político de Bolsonaro e assumir uma defesa do legado da antiga gestão.

Jordy assegura, porém, que não existe um racha no partido. "Não há um clima hostil, até porque, como disse, há uma grande maioria que defende sermos oposição", comenta. O líder da oposição também afirma que a grande maioria defende o legado de Bolsonaro e considera ser equivocado dizer que alguns não consideram isso.

"A base do [ex-]presidente Bolsonaro, a direita que tem no partido, todos defendem o legado dele e não tem ninguém querendo descolar da imagem do presidente. É um partido de oposição, não há neutralidade, tanto que, por sermos partido de oposição nos foi dada a liderança da oposição. Somos o maior partido de oposição ao atual governo na Câmara", diz Jordy.

O deputado Bibo Nunes (PL-RS) propõe uma "oposição com equilíbrio e respeito" e entende que a maioria do partido adotará posição semelhante. "Alguns podem ficar neutros e independentes e outros são radicais, mas são uma minoria. Já eu sou bolsonarista, mas não sou radical; sou oposição firme e forte, mas não sou extremista", afirma.

O que as bancadas do partido acham da liberdade dada por Valdemar

A postura de Valdemar Costa Neto tem surpreendido deputados. Alguns não ficaram satisfeitos com o veto a uma candidatura avulsa do PL à presidência da Câmara, mas o saldo é positivo até o momento. O argumento é de que o dirigente partidário está, de fato, disposto a "fiscalizar" o governo Lula e a manter seu partido no caminho de coordenação da direita.

Deputados asseguram que a disposição de Valdemar em manter o partido na oposição ao governo não está só no discurso. É dito que ele tem respeitado a história e a visão de mundo de cada parlamentar do PL e tem orientado seus parlamentares de oposição da importância de fiscalizar com rigor o governo Lula e sua equipe.

O deputado Zé Vitor (PL-MG) elogia a compreensão do dirigente sobre a particularidade de cada parlamentar. "Valdemar tem conduzido muito bem o grupo, tem orientado coletivamente sugerindo uma oposição, mas respeitando a individualidade e a história de cada um. Cada um tem feito o seu julgamento e buscado, então, construir uma linha no seu mandato", afirma.

A deputada Bia Kicis (PL-DF) elogia a postura de Valdemar em conduzir a oposição e se diz positivamente surpresa. "É impressionante, acho que todo mundo ficou muito surpreso", diz. "Ele tem sido extremamente firme, se manteve próximo ao [ex-]presidente, não refugou em nenhum momento e a gente nota que ele realmente quer e está interessado em conduzir esse movimento de estar à frente junto com as lideranças, o [ex-]presidente Bolsonaro, com a Michelle [Bolsonaro], com os líderes naturais, os senadores eleitos", complementa.

Presidente do diretório distrital do PL, Bia afirma que tem tido liberdade de Valdemar para conduzir o processo de mobilização e trabalho nas bases junto aos diretórios feminino, jovem, e outros temáticos, como os focados no empreendedorismo, saúde e transportes. "Há várias frentes que a gente vai mobilizar a população para ouvirmos as demandas e levá-las ao Parlamento", diz. "A gente quer trabalhar, não pode deixar perder essa base que é uma base espontânea, orgânica, coisa que o PT não tem, e precisamos manter viva e firme, esse é o nosso papel", acrescenta.

A ideia de uma parcela do partido ter liberdade para acenar ao governo gera, contudo, o desagrado da liderança da oposição, admite o deputado Carlos Jordy. "É óbvio que temos um desconforto com esses que querem sinalizar que são base. E isso a gente já expressou, que não vamos aceitar pessoas querendo demonstrar que são base", comenta.

Jordy entende que uma votação favorável a projetos mais polêmicos defendidos por Lula exigiria um posicionamento firme do partido. "Caso queiram fazer suas votações junto com o PT, dependendo do tipo de votação, caberá ao partido fazer a punição devida, já que estarão em desacordo com a orientação de ser oposição ao governo Lula", afirma.

O deputado Bibo Nunes concorda e afirma ser inadmissível a hipótese de acordos fisiológicos relacionados a cargos. "Acredito ser muito difícil [de ocorrer], e se fizer isso, eu vou pedir para expulsar. Eu não sou radical, mas tem que ser coerente. Isso não é radicalismo, é coerência", destaca.

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