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Bolsonaro e o presidente do STF, Luiz Fux
Bolsonaro e o presidente do STF, Luiz Fux| Foto: Marcos Correa/PR

A nota "pacifista" assinada pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (9), em que ele disse não ter tido a intenção de desrespeitar os outros poderes e chegou a elogiar a trajetória acadêmica do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi vista tanto por aliados quanto por adversários do chefe do Executivo como uma ação de cunho estratégico.

Os opositores do presidente enxergaram na nota o posicionamento de um presidente que vê seus índices de aprovação caírem e que não coletou frutos tão positivos das manifestações de 7 de setembro. "O recuo de Bolsonaro é uma resposta a seu isolamento político", afirmou a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS), em pronunciamento da tribuna da Câmara. "De início, parece que o presidente finalmente resolveu ter um mínimo de juízo. Mas o que pesou mais foi sua situação pessoal e o risco de impeachment. Ao se reunir com Temer, e seguir seus conselhos, ele mediu a temperatura política com aquele que esteve no centro do último processo de afastamento de um presidente da República. Percebeu que continuar esticando a corda poderia provocar a abertura final e seu próprio alçapão. Então, trata-se de um recuo estratégico", disse o deputado federal Rubens Bueno (PR), vice-presidente do Cidadania, em reportagem divulgada pelo partido.

A menção a Michel Temer feita por Bueno diz respeito ao fato de que o ex-presidente foi o principal redator da nota assinada por Bolsonaro. O atual presidente e o emedebista se encontraram na manhã desta quinta em Brasília. Eles dialogaram na noite de quarta por telefone e Bolsonaro decidiu enviar um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para buscar Temer. Houve então o encontro presencial e dele saiu a nota, cuja autoria foi confirmada pelo próprio Temer em entrevistas a diferentes veículos de imprensa.

Outros parlamentares de oposição que foram à tribuna da Câmara nesta quinta, como os petistas Paulo Teixeira (SP) e Henrique Fontana (RS) também enfatizaram o raciocínio de que o aparente recuo de Bolsonaro diz respeito a uma tentativa de "sobrevivência" por parte do chefe do Executivo. Na avaliação dos deputados, não há uma mudança de postura em Bolsonaro, apenas a aplicação de uma estratégia política.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-aliada de Bolsonaro, adotou raciocínio semelhante: "aualquer um que tenha pelo menos 2 neurônios, seja bípede e não tenha penas, sabe que a nota - redigida por Temer para apagar o incêndio do falastrão - não tem uma linha do que o realmente acredita e quer o (ainda) presidente da República. É maior mentira que Bolsonaro já contou". Ela escreveu a frase em seu perfil no Twitter.

"Não vejo nada de mais na nota"

Em sua live habitual das quintas-feiras, o presidente disse que não vê "nada de mais na nota". Ele afirmou que o texto foi fruto de uma reflexão tida entre ele e Temer. Apesar do tom pacifista, entretanto, Bolsonaro voltou a fazer críticas ao sistema eleitoral brasileiro e fez piadas de cunho sexual com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A abordagem de "não ver nada de mais" passou a ser adotada por alguns apoiadores do governo após um choque inicial causado pela nota. Nas redes sociais, defensores de Bolsonaro se queixaram bastante do texto minutos após a sua divulgação. Eles questionaram o teor "pacífico" da nota e viram no texto uma contradição entre as manifestações de 7 de Setembro, quando foi passada uma mensagem contra integrantes do STF, e a linha conciliatória do texto.

Muitos usuários das redes sociais escreveram frases como "fui para as ruas à toa", em referência aos atos da terça-feira. No início do dia, Bolsonaro já havia despertado críticas em outro segmento que o apoia: o de caminhoneiros autônomos, que ensaiaram uma paralisação em todo o território nacional e se mostraram frustrados com áudios e vídeos de membros do governo pedindo a retomada dos trabalhos.

Para contornar o clima ruim, a estratégia dos governistas foi a de tratar a ação de Bolsonaro como uma medida de bom senso e de busca de objetivos estratégicos. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) chegou a falar, logo após a divulgação da nota, que comparava a situação desta quinta com a vivida no dia em que o ex-ministro Sergio Moro deixou o governo, em abril do ano passado. Na ocasião, o episódio foi interpretado como uma bomba capaz de ruir o governo, por conta da popularidade de Moro. Mas Bolsonaro e sua equipe conseguiram reverter a situação. E em pronunciamento nesta quinta, Zambelli declarou que viu a nota como uma demonstração de que Bolsonaro é uma "pessoa grande" que "pensa menos nele do que nos outros".

À Gazeta do Povo, o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), também apoiador do presidente, afirmou que a nota de Bolsonaro demonstrou que o presidente detém um bom senso "que o Judiciário não tem". "Estamos vivendo um momento delicado e Bolsonaro tem que demonstrar que tem bom senso, já que o Judiciário não tem. Mas isso não quer dizer que ele vai arredar da sua maneira de pensar e agir. Temos que entender que ele é o presidente e que precisa colocar a razão em cima da emoção", destacou.

Nunes disse ainda que a nota pode servir para "desconstruir" argumentos habitualmente apresentados pela oposição para combater Bolsonaro. "Isso até destroi o discurso da oposição. Não chamam ele de maluco, de doido? Agora estão dizendo que ele se acalmou", afirmou.

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