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Relatório divulgado pela Polícia Federal no inquérito da Abin Paralela aponta que o então coordenador-geral Alan Oleskovicz, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), realizou um série de reuniões para tentar "virar a eleição" presidencial de 2022 para tentar favorecer o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Segundo as investigações, as trocas de mensagens ocorreram em 3 de agosto, dois meses antes do primeiro turno da disputa presidencial.
“[Oleskovicz] chamou 3 da equipe de CI [contrainteligência] do Doint [Departamento de Operações de Inteligência] (do último concurso) e ficou elucubrando uma operação ‘que poderia virar a eleição'”, escreveu um oficial de inteligência por WhatsApp a um colega.
Em um dos trechos do documento, Luiz Gustavo Mota, que foi chefe da Divisão de Ações Especializadas, apontou a relação política e o viés das ações do coordenador-geral da Abin. “Alan Oleskovicz teria dito que o trabalho de operações seria importante para ajudar na campanha do governo”, revelou a PF. Ambos tiveram seus nomes incluídos na lista de indiciamentos.
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Em uma das trocas de mensagem, um dos servidores afirma que os três colegas que teriam participado da reunião organizada por Oleskovicz o procuraram depois do encontro. Na ocasião, os agentes teriam “relatado o BO”, em referência ao episódio, que consideraram problemático. Os nomes desses integrantes da Abin são omitidos, pois eles atuam sob sigilo funcional.
Segundo o oficial, o coordenador-geral tentaria convencer o então secretário de Planejamento e Gestão da Abin, terceiro cargo mais alto da agência, a apoiar a missão. “Cara, é isso. Não é à toa que [ele] é coordenador-geral. Não tenho nada contra bolsonaristas, mas ele talvez seja tipo aqueles da seita. É evangélico, conservador… Aí afunda a agência inteira com ele”, respondeu o interlocutor do agente, também por mensagens.
O plano de interferir na campanha eleitoral foi reforçado pelo depoimento de um servidor, em dezembro do ano passado. O oficial de inteligência relatou à PF ter ouvido o episódio de um colega, que teria relatado que a equipe de análise do departamento ficou horrorizada.
Segundo a versão que chegou ao depoente, em determinada reunião com outros departamentos, o coordenador teria dito que o trabalho de operações seria importante para ajudar na campanha do governo. O coordenador-geral, de acordo com o depoimento, era vinculado a aliados do ex-diretor-geral e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O relatório da PF sobre a Abin paralela foi tornado público pelo STF nesta quarta-feira (18). A investigação que apura uma suposta estrutura clandestina de monitoramento ilegal dentro da agência.




