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PF diz que parecer de Derrite põe em risco combate ao crime organizado

PF diz que parecer de Derrite põe em risco combate ao crime organizado
PF critica alterações de Derrite no PL antifacção e alerta para o risco de enfraquecimento no combate ao crime organizado. (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

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A Polícia Federal (PF) emitiu uma nota pública, na noite desta segunda-feira (10), expressando profunda preocupação em relação às alterações feitas pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP) no projeto de lei antifacção. A corporação afirma que as mudanças representam um “verdadeiro retrocesso” e alerta para o risco de enfraquecimento no combate ao crime organizado

“Pelo relatório apresentado, o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime — especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance — poderá sofrer restrições significativas”, diz o comunicado.

Apesar de incorporar os crimes praticados por facções à Lei Antiterrorismo, o que ampliaria a atuação federal, o relatório de Derrite direciona a investigação para a Polícia Civil. Além disso, a participação da PF nas investigações estaria condicionada à autorização dos governadores.

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“A execução de operações pela Polícia Federal dependeria de solicitação do governo estadual da região investigada, o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado”, apontou a corporação.

Integrantes do governo Lula (PT) afirmaram que o relatório limita a atuação da PF. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), participou de uma reunião com Derrite e com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para tratar das mudanças.

Gleisi diz que "não haverá acordo" que suprima as atribuições da PF

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, voltou a criticar o parecer de Derrite para o projeto do governo. Ela enfatizou que “não há e não haverá acordo que suprima as competências, atribuições e autonomia da Polícia Federal”.

“Encaramos com preocupação qualquer manobra para modificar o papel da PF no combate ao crime organizado”, disse no X. A ministra classificou a proposta do relator como um “presente para as facções que atuam em todo o país, inclusive no mercado financeiro, e que estão sendo enfrentadas com inteligência”.

Ela destacou que as mudanças “inviabilizam ações coordenadas contra a estrutura financeira das facções, como a Operação Carbono Oculto, e podem tumultuar os inquéritos e ações judiciais em andamento, porque alteram as competências da União e dos Estados, de forma inconstitucional”.

Em agosto, a PF deflagrou a ação em parceria com diversos órgãos públicos estaduais e federais. Segundo a corporação, operações, como a Carbono Oculto, “estariam sob ameaça de não ocorrerem ou de terem seus efeitos severamente limitados”. Para Gleisi, “as mudanças que o Secretário de Tarcísio de Freitas propõe vão proteger a bandidagem e as facções, subvertendo totalmente o projeto enviado pelo governo”.

Receita Federal também critica mudanças no PL antifacção

A Receita Federal afirmou, em nota, que "depende da atuação independente da Polícia Federal para, em cooperação com os demais órgãos de Estado, seguir adiante no esforço de atacar e desestabilizar a estrutura de financiamento das organizações criminosas".

O órgão disse que condicionar a atuação da PF à provocação do governador "abre margem para inaceitável interferência e enfraquecimento da autoridade federal, além de inconstitucionalidade à luz do art. 144, § 1º, I, da Constituição Federal".

"As operações recentes contra organizações criminosas, em especial aquelas que focam o andar de cima do crime, com evidente repercussão nacional a demandar repressão uniforme no território nacional, não podem ser condicionadas à autorização local", ressaltou.

A Receita afirmou que a população "espera que todos os órgãos de Estado atuem em cooperação e integração, sem subordinação ou interferência indevida, sob pena de se colocar em risco os ganhos recentes no combate a organizações criminosas".

Veja a íntegra da nota da Polícia Federal sobre o parecer de Derrite

“A Polícia Federal acompanha com preocupação as alterações produzidas pelo relatório sobre o Projeto de Lei Antifacção, atualmente em debate no Congresso Nacional.

A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público.

Pelo relatório apresentado, o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime — especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance — poderá sofrer restrições significativas. A execução de operações pela Polícia Federal dependeria de solicitação do governo estadual da região investigada, o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado.

Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros.

É importante ressaltar que, em agosto, a Polícia Federal realizou a maior operação contra o crime organizado da história do país. Pelas regras propostas no relatório em discussão, operações como essa estariam sob ameaça de não ocorrerem ou de terem seus efeitos severamente limitados.

A Polícia Federal reafirma que continuará defendendo suas atribuições constitucionais e a preservação da sua autonomia funcional, a fim de garantir o cumprimento da lei e a defesa da sociedade brasileira.”

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