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PCC planejava matar e sequestrar autoridades; Moro era alvo

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Segundo as investigações da PF, o senador Sérgio Moro era um dos alvos do grupo que pretendia crimes de homicídio e extorsão contra autoridades. (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

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Apuração em andamento

Nove pessoas foram presas pela Polícia Federal, na manhã desta quarta (22), suspeitas de organizarem ataques contra servidores públicos e senadores. O senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) era um dos alvos do grupo, de acordo com informações confirmadas pela assessoria do parlamentar à Gazeta do Povo.

As investigações da Operação Sequaz descobriram que o grupo ligado ao PCC, facção criminosa que atua dentro e fora de presídios, pretendia cometer crimes como homicídios e extorsão dos alvos mediante sequestro no Distrito Federal e nos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Ao todo, foram expedidos 11 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão.

Segundo a PF, os ataques ocorreriam de forma simultânea no Paraná e em São Paulo. O ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, diz que as investigações começaram há meses, mas que ficou sabendo há 45 dias após ter sido alertado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). De acordo com ele, as autoridades começaram a acompanhar essa possibilidade e indícios, que acabaram se confirmando até a deflagração da operação.

“Efetivamente havia um planejamento em curso para ações violentas com vários alvos, como um promotor de São Paulo, que era o alvo originário, e que essas possibilidades envolviam autoridades do sistema penitenciário de vários estados, integrantes das policias de vários estados e o hoje senador Sérgio Moro”, disse em uma entrevista coletiva no final da manhã.

Flávio Dino disse, ainda, que não se sabe ao certo quantas pessoas eram alvos da facção, mas que, "ao que foi feito hoje, as prisões e apreensões, é que vão definir o alcance de todo esse planejamento. O que nos coloca, obviamente, diante da questão mais grave que é como os sistemas de segurança podem se aparelhar para atuar com mais força no enfrentamento a essas organizações criminosas".

No começo da tarde, Moro disse que ficou sabendo dos planos da facção em janeiro, e considerou grave a atitude de querer executá-lo. As investigações apontam que os criminosos monitoravam os passos do senador e da esposa, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP), inclusive alugando imóveis próximos de onde moravam em Curitiba.

Segundo Flávio Dino, as investigações apontaram, ainda, evidências de que 'bunkers' teriam sido montados no Paraná para sequestrar ou guardar armas para preparar o assassinato do senador.

“O fato de hoje é absolutamente grave, desconheço na história da República uma organização criminosa ter tomado esses espaço de ousadia de fazer um plano para matar, pra sequestrar, um senador da República, uma deputada federal, ou outras autoridades, como o promotor”, disse Moro em entrevista à GloboNews.

O senador afirmou, ainda, que vai apresentar um projeto de lei para endurecer o combate ao crime organizado, incluindo o que ele diz ser uma “lacuna” sobre atos de planejamento das organizações criminosas, e não somente após o crime ser concretizado envolvendo autoridades. Moro diz que já conversou com o senador Rodrigo Pacheco sobre a legislação.

“Quando eu fui ministro, estava centrado no pacote anticrime e a transferência de criminosos [das facções] para os presídios federais. Agora que me tornei senador, pude retomar meus projetos. Esse projeto não é para me beneficiar, é para o futuro. É dever do mundo politico reagir contra o crime organizado, independente de partido”, completou.

Rosângela Moro disse que ficou assustada ao saber dos planos que foram descobertos ao longo da investigação, de atentados coordenados envolvendo autoridades e membros da família. “No final de janeiro fui informada disso, não é a primeira vez que fomos ameaçados, mas não nessa envergadura, de estar dentro do crime organizado. De pronto, de imediato, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), colocou à disposição a Delegacia de Polícia Legislativa”, completou.

Moro passou a ter escolta da Polícia Militar quando está no Paraná e da Polícia Legislativa em Brasília. "O setor de inteligência da Secretaria de Estado da Segurança Pública mantém contato permanente com as demais forças de Segurança e colabora com a investigação", disse a PM-PR à reportagem.

Outro alvo da facção era o promotor Lincoln Gakyia, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente (SP), conforme confirmado à Gazeta do Povo pelo Ministério Público do estado. De acordo com ele, o PCC já o ameaçou anteriormente por conta da remoção de membros do grupo ao sistema penitenciário federal.

Gakyia explica que a investigação começou na promotoria de São Paulo após a descoberta de planos para executá-lo, e que depois se descobriu o plano de atentar contra autoridades de todo o Brasil. A organização pretendia resgatar da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) o líder do grupo, Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, que acabou sendo transferido para Brasília, em janeiro, após a descoberta do plano pelas autoridades.

“O plano B desse resgate era justamente o plano de atentados no Brasil todo contra autoridades e sequestros também. Seria uma retaliação à remoção dessa liderança e a presença dessa liderança, que já está fazendo quatro anos que conseguimos removê-la para o sistema penitenciário federal”, disse.

A operação foi realizada por cerca de 120 agentes, com a apreensão, ainda, de um automóvel e uma motocicleta de luxo, dinheiro em espécie guardado em um cofre, relógios e correntes.

A descoberta da organização criminosa e a realização da operação ocorreram um dia depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizer que pretendia se vingar do ex-juiz quando estava preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, entre os anos de 2018 e 2019, onde passou 580 dias detido. Moro foi o responsável pela condenação que o levou à prisão no processo referente ao tríplex do Guarujá, que teria sido adquirido com dinheiro de propina da construtora OAS.

Durante a apresentação dos detalhes da operação desta manhã, Flávio Dino contestou que a descoberta do plano contra autoridades tenha relação com a fala de Lula. “Não se pode pegar a declaração de ontem e vincular a uma investigação de meses. Não temos nenhum aparelhamento politico do estado”, completou.

Tom semelhante foi adotado por Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, em um pronunciamento no final da manhã. De acordo com ele, a operação foi realizada "sem olhar para qual partido, ideologia, governo, situação em que essas pessoas estão, simplesmente cumprindo o nosso dever constitucional e legal".

"Tenho repetido isso pelas unidades que tenho passado, pois considero essencial que todo policial federal assimile como um mantra o que deve ser a base de toda e qualquer investigação: o trinômio qualidade da prova, autonomia investigativa e responsabilidade", completou.

Autoridades serão convocadas para uma reunião na próxima semana

Pouco depois da deflagração da operação, o ministro Flávio Dino disse nas redes sociais que está convocando uma reunião com agentes de segurança para discutir medidas e propostas contra o crime organizado em todo o país.

"Estou convidando os secretários de Segurança dos Estados, a PF e a PRF [Polícia Rodoviária Federa] para uma reunião na próxima semana no Ministério da Justiça. Vamos atualizar a avaliação sobre a situação no país e debater mais medidas e propostas na área da Segurança Pública", disse.

A afirmação vem, também, na esteira dos ataques criminosos contra bens públicos e privados ocorridos há mais de uma semana no estado do Rio Grande do Norte, onde já são contabilizados 201 atentados em mais de 50 cidades. Segundo as autoridades de segurança potiguares, os ataques são cometidos também por facções criminosas que atuam dentro e fora dos presídios.

Moro ordenou transferência de líder do PCC quando era ministro da Justiça

Em 2019, durante o primeiro ano como ministro da Justiça, Sérgio Moro assinou uma portaria junto do então presidente Jair Bolsonaro (PL) que ordenou a transferência de Marcola, para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) após a descoberta de um plano de resgate do presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau (SP), onde estava detido.

Marcola é considerado o chefe máximo do PCC e dividia a penitenciária com outros líderes de facções rivais, como Comando Vermelho, Família do Norte e aliados do Terceiro Comando Puro. Além Marcos Camacho, também foram transferidos outros 21 membros do PCC para os presídios federais de Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).

Na época, investigações apontaram que a facção pretendia utilizar um exército de mercenário para o resgate de Marcola e de parte da cúpula do PCC em Presidente Venceslau, com o bloqueio de rodovias e ataques a viaturas e ao helicóptero da polícia. Um plano semelhante de atentados contra autoridades também foi descoberto pouco antes, em 2018, caso a transferência do líder fosse determinada – o que não se concretizou.

Segundo a inteligência policial, o ex-secretário do governo da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) Lourival Gomes, um diretor de presídio e um deputado estadual eram alvos. O total de penas impostas a Marcola ultrapassa 300 anos.

Pouco mais de um mês depois, Marcola foi transferido para o presídio federal de Brasília após a descoberta de um plano de fuga, o que gerou reação do governador Ibaneis Rocha (MDB). "Não podemos instalar o crime organizado dentro da capital da República", disse na ocasião.

Marcola, no entanto, ficou em Brasília até 2022, quando o então ministro da Justiça, Anderson Torres, determinou a transferência mais uma vez ao presídio rondoniense. Outro suposto plano de fuga descoberto em janeiro deste ano fez o ministro Flávio Dino, também da Justiça, ordenar a volta do líder do PCC para a capital federal.

PCC foi alvo de operação na terça

A mesma facção criminosa citada por Moro foi alvo de uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) nesta terça (21) na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.

Segundo o MPE-SP, a operação teve como alvo o tráfico de drogas e outros crimes relacionados à facção, sendo que um dos investigados já estava preso e comandava as operações de dentro do presídio.

Ao todo, a operação do Gaeco cumpriu sete mandados de prisão e dez de busca e apreensão.

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